Unificação da língua portuguesa

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Um acordo entre os países que falam a língua portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste e São Tomé e Príncipe – prevê uma série de alterações na ortografia da língua portuguesa. O tratado internacional, que pretende unificar alguns aspectos do idioma, foi assinado há mais de dez anos, mas só recentemente deu sinais de que pode sair do papel. Apesar de significar uma mudança, ainda que pequena, na forma de escrever várias palavras, poucas pessoas estão por dentro do assunto: isso inclui a população em geral, inclusive professores e estudantes universitários.  
 
O professor de lingüística da UFMG Luiz Francisco Dias garante que a mudança prevista pelo acordo ortográfico é mínima e não vai causar grande impacto. “As propostas são bem-vindas. O fim do uso do trema e de alguns acentos, por exemplo, será muito bom. Quando uma pessoa aprende uma palavra, ela não tem dúvidas sobre a escrita e a pronúncia. A simplificação é adequada“, defende. Para ele, as alterações são mais por questões políticas do que lingüísticas. Luiz Francisco afirma que os países querem sinalizar para o mundo que o português é uma língua muito falada. “A ortografia é uma convenção. E as pessoas se adaptam às mudanças ao conhecer as palavras. As reformas são sempre bem-vindas de tempos em tempos. Como o impacto é pequeno, não será tão necessário trocar os livros imediatamente“, acredita.  
 
No caso da população em geral, o professor afirma que a adaptação será gradual, mais lenta entre os mais velhos e mais rápida entre os jovens. O desconhecimento generalizado, inclusive nas universidades, em relação às mudanças, não assusta Luiz Francisco. “A discussão precisa mesmo ficar restrita. Se todos participassem, os debates se estenderiam pelo resto da vida“, comenta. “Mais do que discutir reformas, é preciso investir na alfabetização. Se a pessoa tem uma boa formação e sabe organizar as idéias, ela não tem dificuldades em aprender e assimilar mudanças ortográficas.“ O professor lembra que, obviamente, as pessoas sempre terão dúvidas. No entanto, não será pela mudança na ortografia, mas pelo desconhecimento da palavra e da língua em si.  
 
UNIVERSALIZAÇÃO – O estudante de letras Rafael Barbosa, de 22 anos, acha lamentável que a discussão sobre o assunto seja restrita. “A língua é um patrimônio da sociedade. Acho que os debates sobre a unificação do português são velhos, mas não maduros. Não dá para unificar universos tão distintos. Essa é uma questão mais legal do que lingüística“, protesta. Rafael acredita que a universalização do português, a exemplo do que ocorre com o inglês, depende menos da ortografia do que de fatores históricos, como a tradição em exportar a produção científica e cultural.  
 
Bruna Pereira, de 22, também estudante de letras, nem estava sabendo das mudanças. “Isso deveria ser mais divulgado. Acho que as tentativas de unificar a língua são um esforço para que a língua portuguesa seja adotada nas publicações internacionais“, defende. “A adequação às mudanças vai depender da forma como a pessoa se relaciona com a norma culta.“ Márcio Santos, de 21, aluno do 6º período de letras da UFMG, ainda não sabe muitos detalhes sobre o acordo ortográfico, mas tem opinião formada. “Acho que a reforma é desnecessária“, afirma. “Há autores portugueses que se negam a editar livros no português brasileiro. Nem por isso, eles deixam de ser lidos. Acredito que há uma superestimação do papel da ortografia no processo lingüístico. Tomara que o acordo garanta pelo menos um diálogo mais intenso entre os países envolvidos.“ 

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