Tarso Genro discute iniciativas sobre educação na Espanha

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No dia 23 de novembro, a partir das 11h30, o ministro da Educação, Tarso Genro, participou da mesa-redonda “Conversão da Dívida Externa em Investimentos em Educação“, no salão de atos do Grupo Santillana, em Madri.  
 
O evento é promovido pelo Grupo Editorial Santillana e pela Universidad Complutense da capital espanhola. Às 19h, no mesmo local, o ministro brasileiro e o secretário-executivo do Ministério da Educação da Espanha, Alejandro Tiana, abrem a 19ª Semana Monográfica da Educação. Logo após a solenidade, coordenam um debate sobre iniciativas ibero-americanas para uma educação de qualidade para todos. 
 
 
 
2005 será o ano da educação no Brasil, diz Tarso
El País, Madri / Espanha, Juan Arias 
 
Ministro afirma em entrevista que o país ampliará os gastos na educação 
 
O ministro da Educação do Brasil, Tarso Genro, afirma que o presidente do governo espanhol, o primeiro-ministro José Luiz Rodríguez Zapatero, ofereceu ao presidente Lula seu apoio para trocar dívida pública por educação. Genro, do Partido dos Trabalhadores, visita esta semana a Espanha para intervir, nesta terça-feira, na 19ª Semana Monográfica da Educação, organizada pela Fundação Santillana, e para participar de uma reunião da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI). O ministro acaba de publicar um livro intitulado “A Esquerda em Processo“, no qual defende uma reforma das instituições brasileiras, desde o Congresso até o Poder Judiciário. 
 
El País – O senhor está lutando junto com o governo da Argentina para conseguir a troca de dívida pública por educação. Existe alguma possibilidade?  
 
Tarso Genro – Existem. Para começar, o primeiro-ministro espanhol Zapatero, em um encontro com o presidente Lula, afirmou que seu Executivo vai apoiar a idéia. Está se construindo a proposta. A Unesco a vê como algo positivo. Sem dúvida é mais fácil a troca da dívida entre Estado e Estado ou também entre o Estado e as agências internacionais como o Banco Mundial. De uma dívida de US$ 50 milhões, por exemplo, um país poderia ficar com 15% a fundo perdido para implementar programas educativos. Não creio que seja impossível, e seria de grande ajuda.  
 
EP- O que o velho continente pode ensinar ao Brasil em termos de educação?  
 
Genro – Muito. Na Europa está toda a história da educação superior. O Brasil já teve a influência francesa e a alemã. A Espanha hoje é fundamental para dar vida mais plena ao tratado do Mercosul. A Espanha representa para nós uma dimensão externa muito importante. É nosso laço de união mais lógico, tanto com a União Européia como com outros países ibero-americanos.  
 
EP – Alguns países, como Irlanda, Coréia, Malásia e a própria Espanha, tiveram um forte desenvolvimento econômico porque seus governos um dia puseram a educação no centro dos interesses de seus respectivos países. Podemos dizer que o Brasil também já colocou a educação no centro de sua atenção?  
 
Genro – Ainda não, mas estamos a caminho.  
 
EP – Quem ou o que impede isso?  
 
Genro – A modéstia dos orçamentos dedicados à educação, originados pelo peso da dívida pública brasileira. Mas as coisas vão mudar. Para isso, em 2005 destinaremos US$ 1 bilhão a mais para a educação nos orçamentos do Estado. O presidente Lula afirmou que 2005 será o ano dos investimentos em educação e infra-estrutura no país. Por outro lado, hoje existe um movimento de compreensão dos partidos políticos e da sociedade em geral de que a educação é fundamental e imprescindível para fazer crescer a população, inclusive economicamente.  
 
EP – Alguns o acusam de se interessar muito pelo ensino superior, com seu programa Universidade para Todos, e de fazer menos pela educação secundária, à qual milhões de crianças ainda não chegam, em parte por não poderem pagar os livros.  
 
Genro – Em primeiro lugar, quem critica meu interesse para que a universidade possa chegar a todos, sem exceção de raça ou de cor, são os pequenos setores da extrema-esquerda que tendem a estatizar as escolas privadas. Pense que nas universidades privadas 40% dos lugares estão vazios. Por que não preenchê-los? Algumas dessas universidades não pagam impostos, e em troca o que lhes pedimos é que dediquem 20% de seus lugares a alunos economicamente necessitados. Por que não exigir isso? Quanto ao ensino secundário, existe uma proposta de emenda constitucional para aumentar em 70% o financiamento da educação, que será destinado sobretudo a esses níveis educacionais; e no próximo ano vamos começar a comprar livros de português e matemática para esses alunos.  
 
EP – Durante o 2º Congresso Internacional sobre Educação, organizado há poucas semanas em São Paulo pela Editora Moderna e a Fundação Santillana para 12 mil professores, o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, apontou a necessidade de um pacto nacional para a educação. O senhor não acredita que o presidente Lula teria autoridade suficiente para consegui-lo?  
 
Genro – Na verdade, já existe no Congresso um grupo de trabalho pluripartidário para a defesa da educação que poderia ser o embrião desse pacto nacional, e me consta que a Unesco está envolvida no projeto.  
 
EP – A lei sobre obrigatoriedade do espanhol nas escolas do Brasil chegou ao Parlamento para aprovação definitiva. Seu ministério vai apoiar o projeto até o final?  
 
Genro – Já o estamos apoiando. É uma lei que deve ser aprovada, porque além do mais vai fortalecer as relações do Brasil com o Mercosul. Nós somos o único país da América Ibérica que fala português. Precisamos falar espanhol também. Eu já havia começado, quando fui prefeito de Porto Alegre, alguns projetos com a Argentina, sobretudo de intercâmbio de ensino do espanhol e português.  
 
EP – Alguns temem que seu ministério compre menos livros para as escolas públicas que seus antecessores no cargo.  
 
Genro – Ao contrário, vamos comprar mais, porque a partir de 2005 o ministério vai comprar livros também para a educação secundária, e não só para a fundamental.  
 
EP – Mas continua paralisada a compra de livros de literatura infantil e juvenil para o projeto Literatura em Minha Casa.  
 
Genro – Foi apenas adiada, mas vai continuar. O que aconteceu é que nos encontramos com milhões de livros ainda para distribuir e quisemos entender por quê. Estamos jogando com dinheiro público e isso é muita responsabilidade.  
 
EP – O senhor tem uma filha, Luciana, deputada federal, que foi expulsa do PT, o seu próprio partido, qualificada de radical por ter-se negado a votar alguns projetos do governo. Como o senhor vive essa situação?  
 
Genro – Do ponto de vista familiar e afetivo, as relações com minha filha são maravilhosas e tranqüilas. Mais difícil é nossa comunicação política, já que ela sabe muito bem que ambos fazemos uma análise do futuro do socialismo totalmente diferente. Mas insisto que afetivamente nossas relações são muito boas.  
 
EP – Como o senhor definiria Lula, que conhece há tantos anos?  
 
Genro – Lula é um homem e um político de grande coragem e sem preconceitos, que possui a firme vontade de mudar este país em benefício dos mais despossuídos. Trabalhar com ele como ministro é um grande estímulo, e muito educativo.  
 
 
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves. 

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