Só 8% das escolas ”tops” no Enem são públicas

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Dados divulgados ontem pelo MEC apontam que apenas 8% das escolas “tops“ do país no ensino médio são públicas. Ainda assim, são unidades de elite do sistema, que fazem seleção para escolher os alunos. 
 
A Folha analisou o resultado dos 1.917 melhores colégios no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o que representa 10% do total. Dessas, apenas 151 são públicas (83 federais). 
 
Considerando as escolas públicas “convencionais“ (excluindo as profissionalizantes, as ligadas a universidades ou que fazem seleção para ingresso), a melhor unidade da rede ficou na posição 1.935 do ranking. O colégio é estadual do Rio Grande do Sul e sofre com falta de professores. 
 
As notas servem como parte da seleção para universidades e para que os alunos saibam sua condição ao fim da educação básica. Também é utilizada para selecionar bolsistas pelo ProUni (programa federal). 
 
A melhor escola do país é uma particular do Rio (São Bento), com média 33% acima da melhor pública “convencional“ (a Frederico Benvegnu, em São Domingos do Sul, a 246 km de Porto Alegre). 
 
No ranking de todas as escolas do país, a primeira escola de São Paulo a aparecer é o colégio particular Vértice, na nova posição. Já a pública mais bem colocada é a Cefet (federal tecnológica), na 37ª. 
 
“Esse resultado tem se repetido ano a ano. Os alunos das escolas particulares têm melhor desempenho seja porque têm professores mais bem pagos, seja pela família“, afirmou o presidente do Inep (instituto do MEC responsável pelo exame), Reynaldo Fernandes. 
 
“Nenhuma prova mede só a escola. Mede também o aluno, a formação dos pais e o contexto socioeconômico.“ 
 
Os dados permitem quatro rankings. A Folha usou a média entre a prova objetiva e a redação, com a simulação de que todos os alunos da escola tenham feito o exame (optativo). 
 
 
 
6 em cada 10 escolas “top“ estão fora das capitais
Folha de São Paulo – Angela Pinho (DF) 
 
O bom ensino médio não está restrito aos grandes centros. Os dados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) mostram que as escolas com as notas mais altas estão em sua maior parte no interior. 
 
Considerando-se os colégios na faixa dos 10% de melhor desempenho, 64% estão fora das capitais. Aqueles nas regiões metropolitanas das capitais respondem por 10% do total; o restante está ou no litoral ou, principalmente, no interior. 
 
Em São Paulo, a fatia é maior -60% da “elite“ do Enem está no interior do Estado; 26%, na capital; outros 12% na região metropolitana e 2% no litoral. 
 
Nesse terceiro grupo está a escola Professora Lúcia de Castro Bueno, em Taboão da Serra. Excluindo-se as escolas técnicas, ela é a melhor estadual de São Paulo, embora fique apenas na modesta 2.596ª posição na classificação geral do Enem. 
 
Para César Callegari, secretário de Educação local e membro do Conselho Nacional de Educação, a explicação está na autonomia da escola, que, segundo ele, inclusive conseguiu se desligar de algumas diretrizes da secretaria estadual, como o uso de apostilas e a progressão continuada. 
 
É esse fator, e não a localização das escolas, o maior motivo de êxito, sustenta. Por outro lado, pondera que, em cidades menores, muitas vezes há mais condições de manter equipes estáveis, com menos rotatividade de diretores e professores, o que acabaria influenciando positivamente a aprendizagem. 
 
Reynaldo Fernandes, presidente do Inep (instituto de pesquisa ligado ao MEC), afirma desconhecer evidência da influência da localização das escolas sobre o desempenho dos alunos. Ele diz que os estudos sobre educação mostram que o fator socioeconômico é o que pesa mais sobre a nota final. 
 
Embora a maior parte dos melhores colégios esteja no interior ou nas regiões metropolitanas, um olhar sobre o desempenho no Enem mostra que, nacionalmente, a probabilidade de um colégio da capital entrar na lista dos “tops“ é maior do que no resto do país: 20% das escolas do Brasil estão nas capitais, mas, se forem consideradas só as melhores, o percentual sobe para 34%. 
 
Perfil 
 
A lista das escolas entre as 10% melhores levou em conta a média na prova objetiva e de múltipla escolha. O Inep também aplicou uma fórmula para evitar que a diferença entre o número de alunos que fez a prova em cada escola distorcesse as diferenças entre elas. 
 
O perfil dessa “elite“ educacional reflete o conhecido abismo entre o sistema público e o particular. Levando-se em conta as 10% melhores notas no Enem, chega-se a 1.917 escolas -dessas, 92% são particulares. 
 
Entre as públicas, aparecem duas escolas técnicas municipais, 83 escolas federais (sendo 48 técnicas) e 66 estaduais, das quais todas pertencem a uma minoria do sistema -são ou de ensino profissionalizante ou cobram mensalidade. 
 
 
 
ARTIGO: O que o ranking do Enem não nos conta 
Antonio Gois 
 
Imagine dois competidores disputando uma maratona. O primeiro deles, forte e saudável, usa um tênis sofisticado. O outro, mais fraco, tem um calçado normal. Ninguém duvida de que o primeiro vencerá a corrida. 
Mas você associaria o resultado ao tênis que ele usou? Em certa medida, é isso que fazemos ao comparar acriticamente escolas no ranking do Enem. 
 
Desde 1966, quando o sociólogo James Coleman publicou relatório pioneiro sobre fatores associados ao desempenho de alunos nos EUA, especialistas em avaliação educacional vêm confirmando que é o nível socioeconômico dos estudantes o que mais explica o resultado. 
 
É por isso que colégios que atendem somente filhos de pais de alta renda e escolaridade largam na frente no Enem -não necessariamente por suas práticas pedagógicas, mas, principalmente, pelo perfil de aluno que atendem. 
 
Não é mera coincidência, portanto, que as melhores escolas públicas sejam federais ou técnicas, pois elas também fazem, em sua maioria, um processo de seleção de estudantes. 
 
Mesmo na comparação entre colégios de elite, é preciso ter cautela. 
 
Uma escola que dá bolsas para alunos pobres, que não discrimina deficientes e não expulsa estudantes que repetiram de ano perderá pontos -não por seus defeitos, mas por seus méritos. 
 
Isso não invalida a utilidade do ranking do Enem -ferramenta valiosa para ajudar os pais a avaliar a escola dos seus filhos. Só não deve ser a única. 
 
Constatar que o resultado é explicado principalmente pelo perfil do aluno não significa que a escola não faça diferença. Mas é preciso ter em mente que o melhor colégio não é necessariamente o que está no topo do ranking, mas, sim, aquele que consegue fazer mais do que se esperava por seus alunos. 
 
E isso, infelizmente, o ranking do Enem não nos conta. 
 
 
 
Escola de São José dos Campos é a melhor de SP
Agência Folha – Matheus Pichonelli 
 
Os 201 estudantes formados em 2008 pelo colégio Engenheiro Juarez Wanderley, em São José dos Campos (91 km de São Paulo), entraram em ao menos uma instituição de ensino superior do país – 80% em universidades públicas. 
 
A foto de cada um deles está em um mural improvisado no corredor da escola. 
 
“Passamos aqui e vemos fotos de alunos que viraram exemplos. Pensamos que também podemos estar lá no ano que vem“, diz Matheus Santos Castilho, 16, aluno do terceiro ano do ensino médio no colégio e que vai prestar vestibular para o curso de medicina ainda neste semestre. 
 
Fundado em 2002 e mantido pelo Instituto Embraer de Educação e Pesquisa, o colégio aparece como o melhor do Estado de São Paulo no Enem. Na lista do ano passado, a escola ocupava a terceira posição. 
 
São 600 alunos matriculados, todos egressos do ensino público. As salas de aula, com cerca de 40 alunos, são batizadas com nomes de heróis da mitologia, como Perseu e Hércules, de cidades históricas ou sedes de Jogos Olímpicos. 
 
“É para não hierarquizar. Na escola municipal onde eu estudava, os melhores alunos iam sempre para as turmas “A’“, afirma Castilho. 
 
Vestibulinho 
 
Para entrar no colégio, os candidatos precisam disputar um vestibulinho, que teve, só no ano passado, 5.000 postulantes para 200 vagas. Selecionados, os estudantes passam cerca de dez horas por dia na escola -chegam a cumprir 6.000 horas/aula durante todo o curso. 
 
Nesse período, 30% do tempo é dedicado a aulas de preparação para ingresso na universidade, participação em work-shops e palestras. Além disso, todos alunos participam de ao menos um projeto de sustentabilidade, como o de uma casa feita com madeira reflorestada e com aquecedor solar, por exemplo. Ontem, no início da tarde, a biblioteca da escola estava lotada. 
 
A partir do segundo ano do ensino médio, o estudante, já de olho na universidade, realiza atividades voltadas para as áreas em que pretende trabalhar: exatas, humanas ou biomédicas. São 800 horas/aulas até o fim do curso. 
 
Mais tempo 
 
Segundo o diretor do colégio, Jamerson Mansur Peixoto, a vantagem é que os alunos passam mais tempo no colégio, como ocorre no Japão. 
 
“Isso permite que a escola participe mais da vida do aluno e ele da vida da escola“, afirma. 
 
No Juarez Wanderley, diz o diretor do estabelecimento, os alunos são instigados a traçar metas para além da universidade e são cobrados, como numa empresa, para não se contentarem em ficar “na média“.  
 
Segundo Pedro Ferraz, diretor do Instituto Embraer, alguns pais de alunos veem a universidade como algo distante, e são orientados pelo colégio a estimular os estudantes. 
 
Embora seja considerado colégio particular pelo Ministério da Educação, ninguém paga mensalidade. Alunos de quatro cidades da região têm direito a transporte, alimentação, uniformes e livros. A escola usa o Sistema Pitágoras de ensino. 
 
 
 
São Bento é o melhor do país pela 3ª vez
Agência Folha (RJ) 
 
Nos quatro anos em que o MEC divulga o Enem por escola, colégio de São Bento, no Rio, só não liderou em 2007, quando ficou em 4º.  
 
Fundado em 1858, colégio de São Bento cobra R$ 1.700 de mensalidade média, aceita apenas meninose é em período integral.  
 
Desde que, há quatro anos, o MEC passou a divulgar o resultado do Enem por escola, o tradicional colégio de São Bento, no Rio, já apareceu três vezes como o de melhor média do país. Em 2007, foi o 4º. 
 
Na primeira ocasião, em 2006, a supervisora pedagógica, Maria Elisa Pedrosa, conta que levou um susto com a “invasão“ de jornalistas no dia da divulgação do resultado. 
 
Ontem a cena se repetiu com repórteres se revezando nas entrevistas. “Já incorporamos isso na nossa rotina, pois é importante passar as informações corretas“, diz ela. 
 
Com tamanha mídia favorável nos jornais, o São Bento tem como regra não fazer anúncios para atrair estudantes. Mas, de vez em quando, alguns de seus alunos têm a foto estampada em propagandas de cursinhos pré-vestibulares. 
 
“São alunos nossos, que, às vezes, estudaram a vida toda aqui, mas que recebem propostas de outros estabelecimentos para estudar de graça em troca de ter a foto publicada caso fiquem nas primeiras colocações“, diz Pedro Araújo, coordenador do ensino médio. 
 
Meninos 
 
Uma das particularidades do São Bento, fundado em 1858, é o fato de ele aceitar apenas meninos. Outra característica que o diferencia dos demais colégios é ter turno integral. 
 
A mensalidade média é de R$ 1.700, o que limita a clientela a famílias de classe média e alta. “Mas temos muitos pais que abrem mão de muita coisa para poder investir na educação dos filhos“, diz Maria Elisa. 
Ela afirma que, para obter os melhores resultados, o colégio não exclui os alunos que repetem ou têm alguma deficiência. 
 
“Não fazemos nenhum afunilamento para ficar apenas com os melhores. O que acontece, às vezes, no entanto, é conversar com a família e, até por uma questão de honestidade, mostrar que a criança não está conseguindo se adaptar ao ritmo do colégio.“ 
 
A supervisora pedagógica diz também que a escola não fecha suas portas para alunos com deficiência: “Não temos nenhum caso, hoje, mas estamos abertos para lidar com situações especiais. Em caso de deficiência cognitiva, acho mais difícil o aluno se adaptar. Mas já tivemos estudantes com outras necessidades e que não tiveram problema algum“. 
 
 
NOVO ENEM EXIGE MAIS ANÁLISE DO QUE MEMORIZAÇÃO
 
O Enem que será aplicado em outubro deste ano sofrerá modificações com o objetivo de substituir o vestibular. A prova, que hoje tem 63 questões de múltipla escolha e uma redação, terá 200 questões e uma redação, em dois dias de prova. 
 
Mudará também o que é exigido do aluno. A ideia é que a nova avaliação passe a exigir mais conteúdo, mas com o jeito de perguntar do Enem, pedindo mais capacidade analítica do que de memorização. Outra novidade é o nível de dificuldade, que será sempre o mesmo. 
 
 

ENEM – Ranking das Escolas (abr/09)
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