No mês de comemoração do Dia do Professor, uma má notícia para a classe: o salário dos professores primários brasileiros é um dos mais baixos do mundo. É o que revela a pesquisa A Statistical Profile of the Teaching Profession, feita em 40 países pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e divulgada no início de outubro, em Genebra (Suíça).
A situação brasileira só não é pior que a do Peru e a da Indonésia. Segundo o estudo, um professor brasileiro em início de carreira recebe, em média, menos de US$ 5.000 por ano. No México e na Argentina, um mesmo profissional ganha o dobro. Em países desenvolvidos, o salto é ainda maior. Na Alemanha, por exemplo, chega a US$ 30 mil e em Portugal atinge US$ 50 mil.
Para Ilona Becskeházy, superintendente da Fundação Estudar, o estudo reforça o argumento de que faltam investimentos no ensino brasileiro. “As políticas públicas precisam ser revistas, e o governo tem que investir mais nos educadores. As prefeituras, por exemplo, investem muito em educação, mas não conseguem aumentar os salários nem contratar novos profissionais“, afirma.
Escassez – O estudo da OIT e da Unesco mostra que o nível salarial tem estreita relação com a qualidade de ensino. Em países com problemas no sistema educacional é comum observar que, em razão da baixa remuneração, as pessoas mais qualificadas para a profissão desistem do cargo ou não optam por trabalhar na área.
“O baixo status social e a má remuneração fazem com que os bons estudantes desistam de seguir a carreira de professor. O mercado atrai para outras funções os profissionais que poderiam lecionar“, afirma Lúcia Dellagnelo, gerente da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho em Santa Catarina. Ela lembra que, infelizmente, os salários baixos sempre foram tradição no Brasil. “Acredito que, para amenizar o problema, é preciso incentivar e gratificar os professores que estão dentro das salas de aula“, ressalta.
O problema é evidente quando a média de alunos por professor é analisada. Como o número de crianças ingressando na escola está aumentando e o de professores caindo, em alguns países pode-se notar profissionais responsáveis por mais de 40 alunos, como é o caso do Zimbábue, na África.
No Brasil, a situação é um pouco melhor que a do país africano, porém ainda longe da média mundial de, aproximadamente, 17 alunos por professor. Os profissionais brasileiros cuidam, em média, de 29 crianças e adolescentes. Na Argentina, por volta de 21. Na Dinamarca, país com melhor índice do mundo, a relação é de um professor para cada dez alunos.
Ilona e Lúcia acreditam que, diante desse quadro, cabe às organizações da sociedade civil participar ativamente e cobrar melhorias do governo. “As pessoas devem se conscientizar do problema, exigir qualidade e saber desenvolver soluções“, ressalta Ilona.
Além dos dados de salário e de média de alunos por professor, o estudo da OIT e da Unesco traça um perfil dos profissionais nos 40 países pesquisados. Informações como gênero, idade, porcentagem de mulheres em cargo de gerência e qualificação também foram analisados. Os números mostram que um esforço concentrado tem de ser feito em muitas regiões em desenvolvimento, onde a demanda por professores é maior e onde dois terços dos 59 milhões de educadores do mundo vivem e trabalham.