Rodas de leitura e outras ações na escola. O Brasil quer mais leitores

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O jardineiro da Escola da Vila, Antonio Carlos das Neves, retira livros infanto-juvenis da biblioteca. Difícil começar a se habituar à leitura com longos clássicos, explica a professora. O prazer de ler para ele surgiu durante rodas de leitura organizadas pela escola, na zona sul de São Paulo, que neste ano passaram a juntar funcionários e alunos.

A escolha de 2005 como o Ano Ibero-Americano da Leitura por várias organizações internacionais tem movimentado colégios particulares, governo e terceiro setor. Um dos objetivos é mudar o baixo índice de 1,8 livro por habitante lido por ano no País. “A escola tem uma papel primordial no desenvolvimento da leitura. Depois da família, é ela que ajuda a formar novos leitores“, diz Galeno Amorim, presidente do conselho diretivo do Ano Ibero-Americano da Leitura no Brasil, que aqui foi batizado de Viva Leitura.

Ele também é o responsável pelo Plano Nacional do Livro e Leitura, instituído neste ano, que apóia a produção de livros, a criação de bibliotecas públicas e promove ações para uma maior consciência sobre o valor da leitura. Uma delas será uma gincana entre escolas, organizada pela Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) no segundo semestre. Ganha a escola que desenvolver melhores projetos de coleta de livros e da conseqüente distribuição para a sociedade dos exemplares arrecadados. “Os livros hoje estão concentrados principalmente no Sudeste e nas classes A e B. A gincana quer incentivar uma melhor distribuição deles“, diz o presidente da Abrelivros, João Arinos.

ANALFABETISMO FUNCIONAL

As dificuldades em leitura das crianças brasileiras são evidenciadas freqüentemente em exames nacionais e internacionais. No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o País apresenta um dos piores desempenhos na área. A média geral dos alunos no último exame em leitura ficou no mais baixo nível de proficiência.

Outro problema que poderia ser amenizado no Brasil com o hábito da leitura é o analfabetismo funcional, aquele em que a pessoa foi alfabetizada, mas não é capaz de compreender o que lê. O Brasil tem hoje 38% de analfabetos funcionais.

“O aluno não vai gostar de ler se não tiver um professor leitor“, diz a diretora-geral do Colégio Pentágono, Gracia Klein. Segundo ela, a instituição capacita seus professores para que se aproximem da leitura e saibam desenvolver o prazer de ler nos alunos. Os livros são lidos conjuntamente em salas de aula e não há provas para cobrar o conteúdo das obras.

Neste ano, a festa junina da escola vai cobrar livros como ingresso e eles serão usados para a montagem de uma biblioteca na cidade de Anhembi, no interior do Estado. O projeto faz parte do programa São Paulo, um Estado de Leitores, promovido pelo governo estadual.

Na Escola da Vila, além das rodas de leitura, haverá neste ano uma feira literária com a presença de escritores, ilustradores e tradutores. “Agora, deixei um pouco de lado a TV“, conta o jardineiro Neves. Ele fala com orgulho dos dois livros que já tomou emprestados da biblioteca da escola. A coordenadora de leitura da Vila, Célia Nascimento, explica que o trabalho feito ano a ano com as crianças para criar uma “comunidade leitora“ agora está sendo estendido aos funcionários. Sandra Aparecida Soares, do almoxarifado, levou para casa um livro do Ziraldo, que despertou o interesse da filha de 13 anos.

As rodas de leitura também conquistaram os jovens da favela de Paraisópolis, que participam do projeto organizado pelo Instituto Singularidades, uma instituição de formação de professores. “Tem um impacto enorme a leitura de um livro feita por um adulto para outro adulto“, diz a coordenadora de extensão do instituto, Cristina Nogueira. Depois de participar das rodas, os jovens – que até então nunca haviam estado em uma biblioteca – passaram a ler para crianças da comunidade.

O Ano Ibero-Americano da Leitura é uma iniciativa da Organização dos Estados Ibero-Americanos, da Unesco e de governos de países da região. O movimento no País constatou que há mil municípios sem bibliotecas. Além disso, a tiragem de livros no Brasil é baixa: em média 2 mil exemplares. Um dos incentivos para mudar esse cenário foi a lei assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que isentou a produção, a comercialização e a importação de livros de qualquer tipo de imposto.

Ano da Leitura terá 100 mil ações no Brasil
Boletim Em Questão – Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República

Zerar o número de municípios brasileiros sem bibliotecas até 2006, aumentar em 50% o índice nacional de leitura até 2007, e possibilitar o acesso a livros aos 32 milhões de estudantes e oito milhões de professores da escola pública são algumas das metas do governo federal dentro do calendário do Ano Ibero-americano da Leitura, o Vivaleitura 2005, realizado em 21 países da Europa e das Américas.  
 
O Ano Ibero-americano da Leitura foi instituído pela Cúpula dos Chefes de Estado dos Países Ibero-americanos e é coordenado pela Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI, Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe – Cerlalc, Unesco e pelos governos de 21 países da Europa e das Américas. No Brasil, foi criado um comitê executivo que tem representantes do governo federal, setor privado e do terceiro setor. O calendário é patrocinado pela Caixa Econômica Federal e a Petrobras. O MEC e o Ministério da Cultura atuam juntos no desenvolvimento de projetos como a participação em feiras do livro, que vão integrar o Plano Nacional do Livro e Leitura, o Fome de Livro, que está sendo elaborado pelo governo federal. 
 
Além do lançamento, ainda este ano, do primeiro Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL, o calendário brasileiro do Ano Ibero-americano da Leitura deve somar um total de 100.000 ações de estímulo à leitura, realizadas por governos, setor privado e organizações não-governamentais no decorrer do ano. Segundo o presidente do Comitê Diretivo do Vivaleitura, como é chamado o ano no Brasil, Galeno Amorim, o calendário prevê também a realização de centenas de seminários e congressos sobre leitura e de feiras de livros até dezembro. “O maior ganho até agora é que a questão da leitura passou a ser tratada como política de Estado e estratégia para o desenvolvimento nacional e da cidadania“, afirma Galeno, que é coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura, do Ministério da Cultura, 
 
O Plano Nacional do Livro e Leitura, batizado em sua primeira edição de Fome de Livro, em referência às políticas sociais do governo federal, é formado por um conjunto de projetos e programas desenvolvidos por 14 ministérios, além de fundações, institutos e estatais federais. Também fazem parte da iniciativa, programas de governos estaduais, prefeituras, entidades do mercado editorial e organizações não-governamentais. Programas como a desoneração fiscal do livro, cuja lei já está em vigor desde dezembro, a distribuição de livros pelo MEC e a implantação de bibliotecas em diversos ministérios completam o plano. De acordo com Galeno, a desoneração fiscal vai representar este ano uma injeção de R$ 160 milhões no mercado, que também foi beneficiado pela criação do BNDES-ProLivro, com linhas especiais de crédito para o setor.  
 
Campanhas de incentivo à leitura serão levadas ainda este ano às escolas públicas e secretarias municipais e estaduais de educação, direcionadas aos 32 milhões de estudantes e oito milhões de professores da rede pública. O MEC e o Ministério da Cultura também vão veicular as campanhas de estímulo à leitura no rádio e na televisão. “Há uma grande mobilização nacional para viabilizar políticas para o livro, a leitura e as bibliotecas como estratégia para promover maior inclusão social, cidadania e o desenvolvimento nacional“, afirma o coordenador do Plano, Galeno Amorim. Essas políticas, construídas com a participação de duas mil lideranças de todas as regiões do país devem ser referendadas a partir de agosto pela Câmara Setorial do Livro e Leitura, segundo explicou. 
 
Outros projetos previstos são programas de apoio à abertura de mil livrarias e o financiamento de empresas do mercado editorial e livreiro, como estratégia para fortalecer o setor, ampliar a presença do livro brasileiro no exterior e, ainda, reduzir o preço do livro para o consumidor brasileiro. Alguns deles já estão bem adiantados como é o caso do Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social e da Embrapa, que já começou a instalar 855 mini-bibliotecas em comunidades rurais e na região do semi-árido. 
 
O Arca das Letras, iniciado em 2003, vem implantando mini-bibliotecas nos assentamentos rurais da reforma agrária. A idéia é simples: pequenas caixas-estantes, chamadas de “arcas das letras“, com cerca de 230 livros, foram enviadas às comunidades rurais após consultas aos moradores para se identificar interesses e necessidades. Com o apoio do Ministério da Justiça, as arcas são fabricadas por presidiários de Petrolina e Mossoró. Outras parcerias incluem os ministérios da Educação e da Cultura, o Banco do Nordeste, o Programa Nacional de Crédito Fundiário, o Projeto Dom Hélder Câmara, o Incra e, desde dezembro do ano passado, o Banco do Brasil. Neste ano, o BB está encaminhando 20% dos valores arrecadados nas bilheterias de seus centros culturais (CCBBs) para o projeto. Já foram implantadas, desde maio de 2003, arcas em 418 comunidades, com a distribuição de 93.405 livros e treinamento de 1.252 agentes de leitura. As comunidades beneficiadas concentram-se principalmente no semi-árido nordestino e no Rio Grande do Sul. Atualmente, há projetos-piloto no Rio de Janeiro, Goiás e Pará. 
 
O Serpro, que é pioneiro no Brasil no desenvolvimento de soluções em software livre para a inclusão social de pessoas deficientes, também participa do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL. O órgão apresentou, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, dois softwares livres desenvolvido para facilitar a leitura dos deficientes visuais: o Projeto Leitura Eletrônica – Letra e o Sistema Interativo de Navegação em Linux – Sinal. Segundo o último Censo, dois milhões de pessoas declararam ter grande dificuldade para o uso da visão no dia a dia, o que dificulta e muitas vezes impede o acesso à leitura. Desse total, 160 mil são cegos e cerca de 10 mil deles utilizam computadores, segundo dados do Projeto Saci, da Universidade de São Paulo e do Dos Vox, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
 
O software do Projeto Leitura Eletrônica é um aplicativo que atua como um CD de áudio, que pode ser tocado em aparelhos de som, contendo a gravação de obras literárias. O Letra gera o CD de áudio a partir da matriz de um determinado livro, possibilitando sua leitura por meio de um sintetizador de voz. Os CDs podem ser utilizados em bibliotecas, escolas ou em casa. Já o Sistema Interativo de Navegação em Linux – Sinal funciona a partir de um sintetizador: uma voz mecânica lê, em português, o que está escrito na tela, a partir do movimento das teclas.  

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