Resultado do ENEN

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Nota média no Enem é a pior desde sua criação  
 
Na prova objetiva, índice ficou em 34,13; na redação, no entanto, o desempenho melhorou 
 
DEMÉTRIO WEBER  
 
BRASÍLIA – A nota média dos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na prova objetiva, este ano, foi 34,13, numa escala de 0 a 100. É o pior desempenho já registrado nas cinco edições do teste, classificado no intervalo entre insuficiente e regular. Na redação, a média subiu em relação ao ano passado e ficou em 54,31 pontos, considerado regular ou bom. Ao divulgar os resultados, ontem, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, admitiu que a nota na prova objetiva é “insatisfatória“.  
 
O Enem retrata a pirâmide social brasileira naquilo que ela tem de mais perversa: vai melhor quem é branco, estuda em escola particular, tem renda familiar mais alta e pais com maior escolaridade. Criado em 1998, o exame contou este ano com 1,3 milhão de participantes.  
 
“Não podemos esperar milagres“, disse Paulo Renato, acostumado a anunciar resultados negativos em todos os níveis de ensino. No caso do Enem, o objetivo não é avaliar o ensino médio. Afinal, parte dos inscritos já saiu da escola e faz o teste para poder usar o resultado no vestibular. A nota é considerada em 384 instituições de ensino superior.  
 
De acordo com a diretora do Enem, Maria Inês Fini, boa parte dos erros nas 63 questões de múltipla escolha da prova objetiva se deveu à dificuldade de leitura e compreensão do que estava sendo pedido. “As respostas estão no enunciado das próprias questões“, disse o ministro.  
 
Para ele, a piora da nota média da prova objetiva foi causada pelo aumento do número de participantes. Já educadores encontram diferentes razões para a diferença no desempenho dos alunos (ver texto ao lado).  
 
 
Eleição – Os participantes do Enem 2002 alcançaram a segunda melhor média em redação nas cinco edições do exame. O tema da dissertação foi o direito de votar, o que teria ajudado a melhorar o desempenho numa época de campanha eleitoral.  
 
Mais do que contar pontos no vestibular, o exame foi concebido pelo MEC para orientar os governos estaduais sobre a melhor maneira de oferecer o ensino médio no País. A proposta é a de trocar a tradicional ênfase em conteúdos desvinculados da realidade do aluno pelo aprendizado de conhecimentos necessários no dia-a-dia, incentivando sua capacidade de pensar.  
 
“O que sempre dirigiu o ensino médio foi o vestibular e os cursinhos preparatórios“, disse a secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro. “Queremos acabar com a história da decoreba“, completou Paulo Renato.

Educadores explicam queda no rendimento
RENATA CAFARDO

Para o vice-diretor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Nélio Bizzo, estudos têm mostrado que quanto maior a desigualdade no País, menor a nota média em exames como o Enem. Isso poderia explicar o fato de o desempenho dos alunos na prova ter piorado nos últimos dois anos, quando o número de participantes cresceu mais de 200% e a inscrição se tornou gratuita para alunos do ensino público ou carentes.

“Mesmo assim, há uma inconsistência entre a nota da redação e a da prova objetiva“, diz o professor, especialista em ensino médio. Segundo ele, a melhora no desempenho na redação pode ser explicada pelo uso de critérios diferentes nas correções.

Já o professor da USP Nilson Machado, que deixou a equipe de elaboração do Enem este ano, acredita que a nota menor só pode ser justificada por uma diferença na dificuldade das questões. “O que me parece plausível é que a prova tenha ficado mais fácil.“

A coordenadora do Enem, Maria Inês Fini, nega que essa mudança tenha ocorrido. “Este ano, o Enem incorporou uma maior quantidade de alunos provenientes de famílias com baixa escolaridade.“ Os números mostram que 65% dos alunos vivem em famílias com renda inferior a cinco salários mínimos. No ano passado, essa porcentagem foi de 60%. Além disso, 73% dos que fizeram a prova este ano estudaram em escolas públicas, índice que ficou em 66% em 2001. Já a escolaridade dos pais permaneceu praticamente inalterada, em torno de 56%.

Uma das críticas de Bizzo ao exame feito pelo governo é a de que seus resultados pouco interferem na melhoria do ensino médio do País. “O exame só serve para o aluno ver se o que ele aprendeu está próximo do que espera o Ministério da Educação.“ Para ele, a prova é um mau investimento do governo.

“É como se estivéssemos investindo em termômetro, em vez de comprar remédios para a população.“

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