Quem foi Louis Braille, o francês que criou o sistema de leitura para cegos

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O sistema de escrita Braille chegou ao Brasil em 1854. O recurso, que se tornou padrão no mundo para ajudar pessoas cegas ou com pouca visão na leitura, foi criado na França, ainda no século 19. A ideia de garantir a pessoas com deficiência visual o direito de ler partiu de um estudante francês cujo nome, anos depois, se transformou no próprio sistema. Mas, afinal, quem foi Louis Braille?

Louis Braille nasceu no dia 4 de janeiro de 1809, em Coupvray, cidade a 40 km de Paris. Filho de Monique e Simon-René, sofreu um acidente aos 3 anos de idade que o deixou com problema de visão para o resto da vida. A criança, à época, mexia nas ferramentas do pai quando foi atingida acidentalmente no olho por uma sovela (instrumento utilizado em marcenarias para fazer furos no couro para a passagem de agulha e linha).

Segundo o historiador goiano Daniel Neves Silva, o olho esquerdo do menino ficou comprometido, o que levou seus pais a procurarem tratamentos médicos. A criança acabou perdendo a visão deste olho, mas o problema não parou por aí.

“O olho ferido infeccionou. Essa infecção avançou tanto que acabou chegando ao outro olho. Não demorou muito, Braille estava cego dos dois olhos ainda na infância. Isso levou os pais a se preocuparem ainda mais com a educação dele, uma vez que dali para frente ele necessitaria de cuidados especiais”, contou o historiador a Ecoa.

Estudante inquieto

Braille iniciou os estudos e, mesmo cego, começou apresentar um desempenho acima média. De acordo com o historiador, esse desempenho garantiu a ele uma bolsa de estudos em uma escola especializada em alunos cegos. O Instituto Nacional para Jovens Cegos, localizado em Paris, utilizava um método de alfabetização específico para pessoas cegas.

Esse método que era utilizado na alfabetização imprimia as letras em alto-relevo. Os alunos usavam as mãos para distinguir uma letra da outra. No entanto, o método era complexo e muitos dos estudantes tinham dificuldades para se adaptar.

Daniel Neves Silva, historiador

Braille estava sempre inquieto em busca de soluções para as pessoas cegas. As coisas começam a ter sucesso quando ele foi apresentado a um oficial francês chamado Charles Barbier de La Serre. Esse encontro ocorreu em 1821 quando De La Serre foi até a escola onde Braille estudava para mostrar um método que ele havia criado para o exército francês.

Escrita para soldados

O oficial havia sido incumbido por Napoleão Bonaparte de criar um código que pudesse ser lido pelos soldados no escuro. O sistema de Barbier foi chamado de “escrita noturna” e usava pontos e traços.

“No entanto, os soldados acharam o sistema muito complexo, o que acabou deixando o método em desuso. Ele utilizava uma grande quantidade de sinais e tinha uma decifração muito lenta. Braille tinha 12 anos nessa época e achou o sistema interessante. Dedicou os próximos três anos de sua vida a estudá-lo e, aos 15 anos, em 1824, o jovem apresentou um método alternativo inspirado na criação de Barbier. Foi ali que o método Braille foi visto pela primeira vez”, destacou Daniel Neves.

De acordo com o historiador, o método de Charles de La Serre se baseava em sons, mas não permitia a soletração. Usava uma combinação de símbolos, mas nesses símbolos não havia números, letras com acentos ou notas musicais.

Combinação de pontos em relevo

Louis Braille aproveitou a base da ideia e reformulou o modelo. O novo sistema se baseou nas letras do alfabeto francês e em números, e possibilitava 63 combinações em relevo. O ano era 1826, a partir dali ele se dedicou a ensinar o sistema para seus colegas. Três anos depois, em 1829, publicou seu método em um livro. Em 1837, publicou uma revisão do livro que explicava todo o sistema criado por ele.

“O diretor do Instituto Nacional para Jovens Cegos, Doutor Pignier, gostou tanto que quis usar o método de Braille mesmo sem que ele tivesse sido oficializado. A insistência dele provocou a própria demissão. Mas naquela época Braille já lecionava no instituto e lutava para ter seu método reconhecido, o que só aconteceu depois de sua morte”, contou Daniel Neves.

Morte precoce

De acordo com o historiador, Louis Braille morreu aos 43 anos, em 1852, em Paris, vítima de uma tuberculose. Somente dois anos após sua partida, em 1854, o método de Braille foi oficializado. Daquele ano para frente, o sistema se tornou o método oficial para a alfabetização de pessoas cegas na França.

“O reconhecimento foi ganhando força a cada ano. Em 1855, o sistema Braille foi apresentado em uma exposição internacional que aconteceu em Paris. Foi a porta de entrada do método para o mundo todo”, contou.

Braile no Brasil

No Brasil, o método Braille começou a ser conhecido no mesmo ano que foi oficializado na França, graças a um estudante brasileiro que fazia intercâmbio. José Álvares de Azevedo conheceu o sistema enquanto estudava na França. Ele também era cego e havia sido enviado pela família ainda adolescente para estudar no país europeu.

À época, explica o historiador, o jovem se encantou pelo Braille e resolveu contribuir com pessoas cegas no Brasil mostrando a elas a novidade. Ao retornar ao país, começou a buscar autorização para difundir o novo método. Conseguiu audiência com Dom Pedro II em 1850. Daquele encontro saiu a autorização imperial para fundar uma escola especializada em educação para pessoas cegas.

Quatro anos depois, em 1854, ao mesmo tempo em que o Braille era oficializado na França, nascia no Brasil o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. José Álvares de Azevedo, primeiro professor cego do Brasil, assim como Louis Braille, não chegou a ver seu desejo materializado. Quando o instituto começou a operar, José Álvares de Azevedo já havia falecido, também vítima de tuberculose.

Ao longo dos anos, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou por atualizações e atualmente é conhecido como Instituto Benjamin Constant.

Publicado por Ed Rodrigues
Colaboração para Ecoa, UOL – 19/03/2023.

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