Qualidade na formação

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O Estado de São Paulo praticamente universalizou o acesso ao ensino médio, mas não consegue fazer com que os alunos concluam o curso. Para Maria Helena Guimarães de Castro, secretária da Educação, o problema está ligado à baixa qualidade do ensino básico – e a universidade tem papel fundamental na busca de uma solução.  
 
“Os alunos estão abandonando o ensino médio. No ano passado, 27% dos matriculados na primeira série foram reprovados e a evasão cresce a cada ano. Precisamos de formas de incentivo para o estudante, mas nosso principal desafio é a qualidade do ensino, que passa pela formação do professor”, disse à Agência FAPESP.  
 
A secretária participou, nesta terça-feira (4/12), do Seminário Internacional Ensino Superior numa Era de Globalização, na sede da FAPESP. O evento foi promovido pelo Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (Nupps) da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.  
 
Segundo Maria Helena, a melhora na qualidade do ensino básico é o principal desafio da educação brasileira de forma geral. “Para melhorar a qualidade, o ator central é o professor. Precisamos repensar nossas políticas públicas de formação inicial”, afirmou.  
 
Apontando as deficiências do ensino brasileiro, a secretária citou o estudo divulgado nesta terça-feira pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que colocou os estudantes brasileiros de 15 anos em 54º lugar em conhecimentos de matemática entre 57 países.  
 
“Isso é lamentável. Significa que nós – estados, municípios, governo federal e sociedade – não estamos desenvolvendo as políticas certas. E o principal erro se refere aos programas de valorização das carreiras de professores”, afirmou.  
 
“Os programas de formação inicial e continuada não estão atacando os problemas reais do ensino e aprendizagem. Nos últimos cinco anos foram investidos R$ 1 bilhão em formação continuada de professores, mas esse esforço parece não estar surtindo efeito. Os alunos chegam aos 15 anos sem competência de leitura e escrita, que é a base para as outras competências”, disse.  
 
Segundo Maria Helena, as universidades precisam repensar os currículos de formação inicial e programas de estágio. “O ideal seria que os professores fizessem residência, como os médicos. Os cursos de pedagogia deviam ter estágios que permitissem uma interação entre teoria e prática.”  
 
Para a secretária, as universidades ainda discutem pouco as pesquisas sobre a educação básica brasileira. “Precisamos definir uma conexão mais efetiva entre educação superior e ensino médio. Inclusive porque a má qualidade da formação desses estudantes tem impacto também na qualidade da universidade”, disse.  
 
O pouco interesse do estudante pelo ensino médio, segundo a secretária, tem diversas razões. As principais seriam a pressão familiar para trabalhar a partir dos 15 anos, a falta de perspectiva dos que têm pouca chance de seguir um curso superior e o currículo distante das aspirações do aluno.  
 
“Por que não oferecer um ensino médio com mais ênfase na área de humanas para quem quer fazer humanas? Espanha, Inglaterra, França e Alemanha fazem isso. Como não fazemos, o aluno acaba optando pelo Educação de Jovens e Adultos [modalidade de escolarização para indivíduos socialmente excluídos], com o objetivo de encurtar o caminho”, disse.  
 
 
Ambientes complementares de pesquisa  
 
Outro tema tratado no seminário foi a relação entre o ensino superior e o sistema de inovação. Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destacou a diferença de natureza entre as pesquisas feitas na universidade e na indústria.  
 
“Não se deve imaginar que a pesquisa na universidade possa substituir a que é feita nas empresas. Em uma economia saudável, a pesquisa é feita nos dois ambientes, cada qual com sua missão”, afirmou.  
 
A missão da pesquisa na universidade, segundo Brito Cruz, é contribuir com o avanço do conhecimento humano e com a educação dos estudantes. Na empresa, o objetivo é resolver problemas específicos e melhorar a competitividade.  
 
Segundo ele, no Brasil há uma assimetria entre a projeção internacional da pesquisa na academia e na indústria. “O sistema acadêmico tem um grau de competitividade internacional muito alto que a pesquisa nas empresas não alcança. A razão disso é que há muito poucos cientistas na indústria.”  
 
A colaboração entre universidade e empresa só tem sucesso, de acordo com Brito Cruz, quando há pesquisadores dos dois lados. “A colaboração só é maior nos Estados Unidos e na Europa porque eles têm mais cientistas nas indústrias. Sem isso, o diálogo é impossível”, afirmou.  
 
Para o diretor científico da FAPESP, o desafio do Estado de São Paulo em termos de capacidade científica não é mais aumentar a eficiência, mas o número de pesquisadores. “O número de publicações por pesquisador em São Paulo é semelhante ao dos países desenvolvidos – o que é uma façanha, dadas as condições. A diferença é que aqui há menos pesquisadores”, disse.  
 

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