O governo e a iniciativa privada querem dobrar o número de leitores no Brasil até 2010. Para isso, criou-se o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), que vai relacionar, até o fim do ano, as ações de incentivo à leitura do País, de iniciativa do Estado, de instituições privadas ou individuais, e levar ao próximo presidente da República um plano de fomento à atividade. “Hoje, cada brasileiro lê 1,8 livro por ano, abaixo da Colômbia (2,4) e muito menos que a França (7) e os Estados Unidos (5)“, enumera o diretor do Comitê Diretivo do PNLL, José Marques Castilho Neto, também presidente da Fundação Editora Unesp. “Pela primeira vez, o Estado, representado pelos Ministérios da Cultura e da Educação, e os setores privados ligados ao livro – escritores, editores, livreiros, etc. – se reúnem com o mesmo objetivo.“
Segundo Marques, o Brasil vive uma situação curiosa. O governo federal é o maior comprador de livros do mundo, mas pouca gente lê. O pobre vê o livro como um símbolo de status e as classes média e alta têm outras prioridades. Embora se leia tão pouco no País, especialmente porque boa parte da população raramente abre um livro, o número de publicações e editoras cresce sem parar. “Esta questão é mundial. Há um superdimensionamento da oferta e situações perversas, como na Espanha, onde um livro fica na vitrine durante seis dias e volta para o depósito. Ou seja, menos tempo que um produto perecível“, conta Marques. “No Brasil, é mais grave porque, com a superoferta, as edições são menores e o preço do exemplar é alto. Num país de renda tão baixa, é mais um empecilho para o incremento da leitura.“
Para Marques, o próprio mercado achará saída para esta situação, engolindo as editoras que não encontrarem seu público. Mas ele lembra também que, para aumentar o número de leitores e de livros per capita, é preciso incentivar a criação de bibliotecas públicas e comunitárias. “Não sabemos quantas são, mas hoje, num universo de mais de 5 mil municípios brasileiros, 700 não as têm. Já foi pior. Em 2002, eram 1.300“, lembra. “Para isso, até dezembro, vamos nos reunir com os representantes públicos e privados do setor dos 27 Estados para mostrar ao próximo presidente da República que o livro e a leitura devem ser tema de políticas públicas, pois são fator de desenvolvimento econômico e social.“
Num levantamento prévio das ações de incentivo à leitura, o PNLL encontrou situações interessantes, como os 500 agentes de leitura do interior do Ceará (jovens e adolescentes que trabalham em comunidades carentes) e até o Jegue Biblioteca, de um morador do Piauí, que sai pelo interior levando os livros no lombo do animal. “É preciso entrosar essas ações com a iniciativa dos governos federal, estaduais e municipais, pois o incremento da leitura é benéfico para todos os setores da indústria editorial, do escritor ao distribuidor e o livreiro“, avisa Marques. “Precisamos acabar com a idéia de que ler é castigo, pois é um grande prazer e exercita a imaginação. E lembrar que, quando falamos em leitura, pensamos no livro em si e em todas as outras mídias que surgem como suporte das literaturas.“