Progressão Continuada e Escola Plural – os ciclos e a qualidade do ensino

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Afinal, os ciclos pioraram ou não a qualidade do ensino? Conheça diferentes visões sobre a questão através da análise das experiências de São Paulo e Belo Horizonte.

Psicóloga comenta problemas na Progressão Continuada – Agência USP

O Programa de Progressão Continuada implementado nas escolas paulistas não resolveu a exclusão pela qual passam alunos de classes socioeconômicas mais baixas. Segundo a psicóloga Lygia de Sousa Viégas, o problema tornou-se apenas sutil. “A exclusão simplesmente deixou de aparecer à sociedade“, diz. A psicóloga defendeu a dissertação Progressão continuada e suas repercussões na escola pública estadual paulista: concepções de educadores, apresentada no Instituto de Psicologia (IP) da USP, sob orientação da professora Marilene Proença Rebello de Souza.

A Progressão Continuada foi instituída em 1998 pelo Governo do Estado de São Paulo, reorganizando o ensino público fundamental em dois ciclos: o ciclo I, de primeira à quarta série, e o ciclo II, de quinta à oitava. Em ambos, ficou impedida a reprovação de alunos. Em seu estudo, Lygia analisou como os professores vivenciaram essa mudança no cotidiano escolar. Ela trabalhou com cerca de dez profissionais de uma escola da Capital, de ciclo II do Ensino Fundamental (antigo ginásio) e de Ensino Médio.

Segundo a pesquisadora, os professores sentiram-se desvalorizados com o programa. “Nos encontros coletivos e nas entrevistas individuais para coleta de dados, encontrei educadores irritados com a Secretaria de Educação, desinformados sobre a Lei e sentindo-se desvalorizados e perdidos para lidar com essa nova situação escolar“, relata.

“Não foram dados às escolas elementos para que a Progressão fosse implementada por completo. A Lei previa acompanhamento pedagógico e psicológico às crianças que estivessem com dificuldade. Elas passariam de ano mas seus problemas seriam trabalhados“, conta Lygia. “Infelizmente, o que ficou foi mesmo a ´aprovação automática´, como foi apelidada“.

Na opinião da pesquisadora, a decisão de implantação da Progressão Continuada veio de forma autoritária, não apenas mantendo o aluno excluído dentro da escola como excluindo também o professor do processo. “Em nenhum momento foi levada em conta a experiência educacional do professor “, constata. Ela diz que muitos dos professores entrevistados eram a favor de uma mudança educacional, mas todos se colocaram contra a Progressão Continuada como ela tinha chegado, “de cima para baixo“.

“Os índices de aprovação escolar dos alunos aumentaram, mas o problema não se alterou. Ele foi mascarado“, explica a pesquisadora. “Professores especialistas, formados em História ou Matemática, não sabiam lidar com alunos que estavam chegando ao ciclo II não-alfabetizados.“ Ela emenda: “antes, o dado de que 30% das crianças reprovavam o ano era um sinal de que a escola estava fracassando. Hoje, os números não mostram isso claramente“.

Outro aspecto levantado pelos educadores foi a diminuição da cobrança da família em relação à escola e provavelmente aos alunos. “Os professores diziam que muitos pais estavam mais satisfeitos porque seus filhos tinham ´deslanchado´ no ensino e pararam de repetir de ano“, relata a psicóloga.

Para Lygia, a decisão da não-reprovação obedeceu principalmente a critérios econômicos. “Existe uma visão de que o aluno de baixa renda da rede pública não irá aprender de qualquer maneira. O próprio texto que acompanha a Lei deixa claro que um aluno reprovado é um desperdício para o Estado“.

O preconceito, segundo ela, é um dos motivos pelos quais a mudança não foi bem implementada. “A escola não acredita em seu aluno: a Secretaria de Educação considera o investimento no jovem de baixa renda inútil pois ele traz problemas de drogas, violência e família desestruturada e por isso não tem condições de aprender“, diz. “Muitas vezes os próprios professores não acreditam que esse aluno problemático possa aprender“.

Na opinião da pesquisadora, para produzir uma boa política educacional é preciso livrar-se desse preconceito. E conclui: “um maior investimento na educação, a valorização do seu profissional e a discussão dos problemas com quem os vive diariamente traria resultados positivos“.

A qualidade em xeque
Revista Nova Escola, Edição 160  
 
Ricardo Prado, de São Paulo e Belo Horizonte

Os ciclos são acusados de ter piorado o ensino. Na verdade, serviram para expor o drama da repetência e mostrar que a escola não garante que todos aprendam.    
Afinal, os ciclos pioram a qualidade do ensino? As pesquisas realizadas até agora indicam que não. Exames como o Sistema de Avaliação da Educação Básica e o Sistema de Avaliação da Rede Estadual de São Paulo (Saresp) mostram que quase não há diferença no desempenho de alunos de ciclos ou séries. Em São Paulo, 81% estão na chamada progressão continuada e as notas do Saresp de 2001 foram melhores que as de 1997, quando a rede ainda era seriada.  
 
Na verdade, o regime de ciclos rompeu com o círculo vicioso da repetência. Antes o estudante não aprendia e ficava retido. Agora a escola tem a responsabilidade de ensinar sem deixar ninguém para trás. O que veio à tona foi a discussão sobre a qualidade. 
 

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