Profissionais do setor acreditam que inteligência artificial pode ser ferramenta para o mercado editorial

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Especialistas do mercado discorrem sobre a melhor maneira de usar o ChatGPT e outras ferramentas de inteligência artificial e abordam questões como criatividade e direitos autorais. O que é Inteligência Artificial (IA)? Saber a resposta para essa pergunta ou entender minimamente sobre o assunto se tornou essencial e não importa a sua área de atuação, uma vez que a tecnologia está em todo lugar.

Em uma explicação simples, a IA é uma área da ciência da computação que se concentra no desenvolvimento de algoritmos e sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente exigem inteligência humana, como compreensão de linguagem natural, reconhecimento de padrões, tomada de decisões, resolução de problemas e aprendizado.

O assunto da inteligência artificial não é exatamente novo. Em 2020, por exemplo, Fernando Tavares publicou um artigo no PN com o título O que a inteligência artificial pode fazer pelos editores e pouco tempo depois expandiu a discussão perguntando o que os editores podem fazer com a IA.

Mas o assunto ganhou mais popularidade recentemente com a criação da ferramenta do Google que permite a criação automatizada de audiobooks; o lançamento do catálogo de audiolivros da Apple narrados por inteligência artificial. Mas, principalmente, com o surgimento do ChatGPT, um modelo de linguagem de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI que pode conversar com as pessoas e responder perguntas em diversos tópicos, utilizando uma ampla gama de conhecimentos e informações disponíveis na internet. O ChatGPT aliás, já até aparece como autor de livros na Amazon.

Para se ter uma ideia, a ferramenta passou a barreira de 1 milhão de usuários em cinco dias, enquanto o Facebook demorou dez meses, o Instagram dois meses, o Spotify cinco meses e a Netflix três anos e meio.

“O que a gente enxerga em tecnologia de inteligência artificial como ChatGPT ou Midjourney, como gerador de imagem é que a tecnologia vem se tornando cada vez mais acessível às pessoas”, acredita Bruno Mendes, sócio do PublishNews, #coisadelivreiro e Saudade, e diretor comercial e de marketing da Ediouro. Para ele, a IA assume um protagonismo principalmente quando o assunto é criação de conteúdo que o Metaverso e a Web 4.0 vinham assumindo nos últimos anos.

A inteligência artificial vinha até então focando no desenvolvimento algorítmico e agora passa para um desenvolvimento mais criativo. “Se parece com a criação humana, mas ainda não é”, lembra Mariana Rolier, publishing manager da Storytel e sócia da Gancho Curadoria. “Mesmo que seja possível pedir para que a inteligência artificial escreva uma resenha sobre um livro a forma de redigir o texto será um compilado de tudo que é acessível pela IA. Eu posso receber uma resenha de Torto arado e receber mais do mesmo”.

Para a pesquisadora de Gêneros Textuais, Carmem Teresa Elias, há um modelo padrão de escrita nos textos produzidos pelo ChatGPT, padrão esse que pode ser usado mesmo sem a máquina. “Em termos de ferramenta de escrita, saber decupar o padrão pode ser uma prática pedagógica para que alunos e professores apliquem o chat como alavanca para alunos com dificuldades de redação, e, indo além, ao se conhecer o padrão, aí sim, é possível se chegar a uma escrita, de fato, criativa, que quebre os padrões existentes e conceda a um autor uma voz própria e única na sua escrita”, explica a docente.

“Quando eu vejo alguma coisa criada pelo Chat GPT, a minha maior curiosidade é: qual comando, pergunta você fez para que ele desse tal resposta?”, questiona Camila Cabete, head de conteúdo da Árvore e colunista do PN, que explica que os humanos têm uma parte ativa por trás do ChatGPT, já que a ferramenta se alimenta do que criamos.

O receio de uma parte do mercado editorial é o receio de ter livros inteiros gerados pela tecnologia, algo que segundo Bruno, de fato, pode acontecer em algum momento. Ele destaca, no entanto, que “o que você tem ainda dentro da ferramenta é uma colcha de retalhos. Acho que para o mercado editorial, a inteligência artificial auxilia melhor no registro de metadados, buscas e vitrines digitais para os livros. E acho ainda que a originalidade dos autores, a interpretação, o estudo acadêmico, as experiências de vida vão ser difíceis de ser traduzidas de forma original, pelo menos por enquanto”.

A Opera Editorial, casa com apenas um ano no mercado, publicou uma obra escrita e ilustrada por inteligência artificial. “Nosso objetivo era trazer a discussão à tona”, explica Moacir Calarga, editor da Opera. “No momento, as IAs são ferramentas e é assim que elas devem ser utilizadas. Nada além disso. Elas podem facilitar e auxiliar muito a nossa área como, por exemplo, ajudando escritores na escrita de um romance, nas pesquisas, questionamentos sobre estrutura, roteiro, ideia, construção de cena e até mesmo para desbloqueios”, explica Moacir, que acredita que o mercado editorial vai sofrer uma pequena mudança, mas que vai se adaptar.

Por fim, há também o lado jurídico e a questão, por exemplo, dos direitos autorais. “O que a gente precisa lembrar é que os algoritmos de inteligência artificial não têm personalidade jurídica, o que significa que eles não são sujeitos de direitos”, explica Hugo Segundo, senior partner na Machado Sociedade de Advogados e professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. “Eles não podem ser titulares de direitos autorais, se eles criam alguma coisa, não é deles, mas aí fica a questão, é de quem então?”.

Segundo frisa ainda que o conteúdo criado pelo ChatGPT não tem autoria. “Se alguém fotografar a imagem de um caleidoscópio, o caleidoscópio vai ser visto como instrumento da criatividade dele, que pegou o caleidoscópio, fotografou e fez a imagem”, compara o advogado. “Os sistemas inteligentes, até agora, são como auxiliares dos humanos na criação de qualquer coisa. É como um carimbo, uma calculadora, uma ferramenta de apoio”, lembra.

A questão central é que, diferente das outras, a IA é uma ferramenta cada vez mais autônoma. “Isso pode gerar problemas no curto prazo, não de autoria – porque a autoria vai ser sempre de quem usar a ferramenta para fazer o texto – mas vai gerar problemas de controle, por exemplo, nas escolas: quem fez o trabalho, o aluno ou o ChatGPT”, finaliza Hugo. “E para escrever, além de conhecer os padrões mecânicos, é preciso fazer deles um instrumento de libertação”, completa Carmem.

Publicado por PUBLISHNEWS em 09/03/2023.

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