“Precisamos valorizar os professores”

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Presidente da Comunidade Educativa (CEDAC), Tereza Perez lidera iniciativas voltadas para a melhoria das condições de aprendizagem nas escolas públicas brasileiras. Ela acaba de lançar o livro Coordenação Pedagógica: identidade, saberes e práticas, que organiza junto com Patrícia Diaz, diretora executiva da entidade. A obra, que conta com coletânea de artigos abordando diferentes visões sobre esse aspecto da gestão escolar, é especialmente desenvolvida para os profissionais responsáveis por impulsionar as práticas de ensino nas escolas. Na entrevista, Tereza destacou a importância da participação do professor na escola. “O professor é construtor do saber dele, devem trabalhar de maneira colaborativa. A escola só funciona nesse pensar coletivo, com um pertencimento do professor a escola”.

Como está o cenário da Educação no Brasil?

É um cenário muito complicado. Estamos observando uma tensão com muitas disputas – disputas de currículos, de espaço, de encaminhamentos, de materiais. Isso é muito prejudicial aos professores e aos estudantes, porque resulta em falta de alinhamento específico, conforme exigido pela nossa Constituição. Temos o artigo 3º, que fala em ser uma sociedade justa, livre e solidária. Uma sociedade que educa nesse sentido, com liberdade de religião, de orientação sexual e gênero, já delineado pela Constituição. O Ministério da Educação tem orientado positivamente, com jogo de cintura para traçar caminhos e políticas públicas. Há vários programas bem estruturados que chegarão aos estados e municípios. Essas disputas prejudicam os estudantes, pois não há uma condução bem direcionada. O movimento atual gera políticas autoritárias que afetam diretores, coordenadores e professores, gerando insatisfação e limitando sua autonomia.

Na opinião da senhora, qual é a contribuição e importância do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para a Educação no Brasil?

O PNLD é muito importante para o Brasil e é referência no mundo. É um programa que traz um material acessível para o estudante e para o professor. Gosto muito do método de avaliação das obras, o programa busca garantir e analisar todos os conceitos éticos, técnicos e científicos. Ele avalia, e aceita, as obras não só do ponto de vista das ciências, mas também as escolhem em relação a valorização conceitual pedagógica. É um programa que busca trazer bons autores e bons responsáveis pelas obras. Em edições anteriores pude acompanhar a equipe do Ministério da Educação e participei da criação de complementos para o PNLD. Ele abrange metodologias conceituais, como materiais que combatem ao racismo, entendimento de gênero, as metodologias são muito boas. É um programa de referência no mundo igual aos programas de alimentação escolar. Ele é extremamente necessário no Brasil por que enfrentamos desigualdades sociais enormes. Entendo que precisamos aprimorar o diálogo deste programa com outras políticas públicas educacionais, como dialogar mais com a educação integral e também com os métodos de avaliação realizados no país, fazer uma maior conexão curricular.

Na sua mais recente publicação, o ‘Coordenação Pedagógica. Identidade, Saberes e Prática’, qual é a principal mensagem que você espera transmitir aos profissionais de coordenação pedagógica e como este livro pode impactar a prática diária nas escolas?

A coordenação pedagógica é imprescindível, o trabalho cooperativo feita pelos coordenadores e professores na escola é absolutamente importante. A equipe escolar precisa se sentir pertencente ao local de trabalho para que haja avanço na melhoria do clima escolar e nas aprendizagens e o papel da coordenação pedagógica é essencial para isso. É a coordenação que pode orientar o corpo docente a realizar trabalhos, discutir temas, realizar projetos em conjunto. Hoje o papel desse profissional é pouco claro, ele resolve tudo sem que haja uma posição, uma identidade e planejamento de trabalho especificados. Esse profissional muitas vezes fica intimidado por não possuir as competências de todas as áreas do conhecimento, mas ele precisa focar em coordenar os professores do ponto de vista da gestão, e um diálogo profundo com os profissionais.

O livro trata de valorizar e esclarecer o papel da coordenação na escola. O conteúdo pode contribuir para que esses profissionais possam assumir de fato seu papel na escola. Dá muitas possibilidades de realização com foco na contribuição de construção do saber escolar.

Quais são os maiores desafios enfrentados pelos coordenadores pedagógicos no cenário educacional atual do Brasil e como seu livro propõe abordagens ou soluções para esses desafios?

O maior desafio é o tempo. Acho que a maior dificuldade que enfrentamos na escola é tempo para conversar, estudar, debater, projetar e avaliar. O livro não resolve o tempo, mas indica como melhor fazer a gestão do tempo via planejamento. Com várias possibilidades de trabalho, uma grande lição que tiramos da pandemia, que nos ensinou a importância do encontro dos professores. Não podíamos perder esse ganho.

O livro aborda a importância da parceria entre a coordenação pedagógica, a direção escolar e outros atores da comunidade escolar. Poderia nos dar um exemplo prático de como essa colaboração pode ser efetivamente implementada para melhorar o processo educacional?

O acompanhamento das aprendizagens é um bom exemplo. O gestor escolar deve saber o que está ocorrendo em cada sala de aula, sempre municiado de informações passadas pelo coordenador. Desta forma, o diretor escolar pode identificar quais temas precisam ser aprofundados. Como outro modo de organizar as turmas, planejar a reunião junto aos familiares, comprar materiais, contactar outra escola que está com a mesma questão para estabelecer juntos uma nova postura, preparar um boletim para a comunidade. Nada disso pode ser feito sem o trabalho colaborativo da coordenação com a gestão. Por isso chamamos de dupla gestora, ele é o responsável pelo mapeamento da formação continuada dentro da escola, planejamento de aprendizagens, diagnóstico da aprendizagem no ambiente escolar.

Considerando as mudanças no sistema educacional brasileiro ao longo dos anos, como você vê a evolução do papel do coordenador pedagógico e qual é a importância desse profissional na implementação do projeto político-pedagógico nas escolas atualmente?

Sem o Projeto Político Pedagógico (PPP) não há direcionamento. E o papel do coordenador é muito importante para o desenvolvimento do PPP. As funções atribuídas a esse profissional ainda não estão claras no mercado, ele não é tão bem aproveitado. Aos poucos, com o correto direcionamento de quais são suas funções, ele terá esse papel reconhecido dentro das escolas. Outro desafio que temos na educação brasileira é a instabilidade dos professores dentro da escola, especificamente na rede de escolas públicas. Há muitas mudanças de profissionais. Precisamos valorizar os professores, dar espaço para mostrarem quem eles são. Precisam ter espaço para produzirem seus próprios projetos dentro da escola, mostrar quem eles são e desejam. A remuneração é essencial. Educação envolve paixão, afetividade, vínculo entre pessoas e estudantes. É preciso favorecer isso. O clima escolar impacta diretamente nas aprendizagens.

 

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