Portugal dá aval à reforma ortográfica

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O fim do trema em todo o vocabulário e de acentos em palavras como “vôo“, “idéia“ e “lêem“ ficou mais próximo ontem, com a decisão do conselho de ministros de Portugal de aderir ao acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa firmado em 1991. 
 
A ratificação do texto pelo país depende ainda da aprovação pelo Parlamento da proposta elaborada pelos ministros. Se passar pelo Legislativo, o texto será submetido ainda ao presidente da República. Mas, segundo declarou à agência Lusa o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, “com a decisão agora tomada, o governo português está a exprimir a sua vontade política de se juntar aos outros Estados da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]“. 
 
No Brasil, o acordo ortográfico já foi aprovado pelo Congresso e, em tese, está em vigor, uma vez que, para isso, basta a assinatura de três países da CPLP. Além do Brasil, já ratificaram o texto Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. 
 
A implantação, porém, era adiada devido à não-adesão de Portugal. “Os países todos esperam Portugal, até porque se trata do país matriz do português“, disse à Folha Luís Fonseca, secretário-executivo da CPLP. “Senão, estaríamos em uma situação bizarra de o acordo nos levar a três ortografias.“ 
 
Os ministros portugueses estimam um prazo de seis anos para a implementação das mudanças. No Brasil, pode estar presente nos livros didáticos já daqui a dois anos. O MEC disse ontem que o ministro Fernando Haddad se reunirá com representantes do Ministério da Educação português para definir um cronograma de implantação gradual. 
 
Ainda não há um cronograma para a alteração das regras em outros escritos, como dicionários e obras literárias, afirma Nazaré Pedrosa, assessora internacional do Ministério da Cultura. “A adoção de uma nova ortografia tem de se dar de uma forma normal, não impositiva nem dramática.“ 
 
Professores terão de ser treinados para ensinar as alterações, e todos terão de reaprender a ortografia, mas, para ela, não é preciso criar “alarme“, já que, argumenta, todos se adaptaram à reforma de 1971. A reforma também será vantajosa, diz, para a adoção do português como língua de trabalho em organismos internacionais. 
 
 
 
Acordo ortográfico: indispensável ou um erro? 
Jornal Portugal Diário – Hugo Beleza e Luísa Melo 
 
Escrita ficará uniformizada para 200 milhões de falantes. Mas alterações na ortografia continuam a dividir especialistas. «A alternativa seria o orgulhosamente sós», dizem uns. Outros perspectivam que o português vai «cobrir-se de ridículo» 
 
O acordo ortográfico da língua portuguesa deverá passar por um período de transição nos próximos seis anos. Limadas as arestas da lusofonia, o português que se escreve nos vários continentes ficará mais próximo. Mas os especialistas continuam divididos. 
 
Em declarações ao PortugalDiário, a presidente da Sociedade da Língua Portuguesa (SLP), Maria Elsa Rodrigues dos Santos, disse ter recebido como uma boa notícia a aprovação por parte do Governo da proposta do segundo protocolo modificativo ao Acordo ortográfico da língua portuguesa, de 1991. 
 
«O Brasil tem muitos falantes e correríamos o risco de ficar isolados», apontou a linguista, salientando o acerto em estabelecer um período de transição de seis anos. 
 
Maria Elsa Rodrigues dos Santos admitiu que o processo possa gerar dificuldades, mas disse acreditar que a adaptação acabará por ser um processo «natural». «Tivemos várias reformas da língua, que fomos aceitando», relevou, recordando a «reforma do ph de 1945», quando «pharmácia» passou a escrever-se «farmácia». 
 
A presidente da SLP frisou que da parte do Brasil também haverá cedências e que esta será uma forma de impor internacionalmente uma língua com mais de 200 milhões de falantes. 
 
«Alternativa seria ficarmos isolados» 
 
A mesma opinião foi expressa pelo linguista e consultor do Ciberdúvidas, D`Silvas Filho. «A alternativa seria ficarmos isolados, orgulhosamente sós neste canto da Península Ibérica com a nossa língua portuguesa», adiantou ao PortugalDiario, realçando que seria a «língua brasileira» que acabaria «espalhada pelo mundo», dada a sua dimensão. 
 
O especialista salientou ainda que, com este acordo, se admite «uma dupla grafia» para palavras como facto e pacto. Desdramatizando as alterações, recordou que «antes do acordo entrar em vigor, daqui a seis anos, estará publicado o vocabulário comum». 
 
«Lamentável» que Portugal continuasse fora 
 
Já o professor e académico Malaca Casteleiro, um dos mais acérrimos defensores da alteração da norma ortográfica, esta notícia como «importante e gratificante». «Era lamentável que houvesse já três países que aprovaram o protocolo e que Portugal continuasse de fora», disse à agência Lusa. 
 
Para Malaca Casteleiro o prazo de seis anos «é razoável» e suficiente para levar a cabo as alterações propostas no texto do acordo. «Se o objectivo é promover a lusofonia, é claro que para o alcançar é útil, é conveniente, é praticamente indispensável que ele entre em vigor nos oito países» de língua oficial portuguesa e em Macau. 
 
«Língua portuguesa vai cobrir-se de ridículo» 
 
Já o escritor Vasco Graça Moura, confrontado com a notícia da ratificação do Acordo Ortográfico, é peremptório: «Acho que é um erro!». 
 
Num artigo de opinião recentemente publicado no Diário de Notícias, Vasco Graça Moura escrevia que «a aplicação do Acordo não levará apenas ao caos no ensino nos oito países. Levará a que a língua portuguesa se cubra de ridículo no plano internacional». 
 
Mesmo sem se abordar a questão dos interesses culturais, políticos, económicos ou geostratégicos em jogo, continua Graça Moura, «qualquer leigo verifica que o Acordo não traz qualquer utilidade ou mais-valia. Enferma de muitos vícios e, a entrar em vigor, será altamente pernicioso nos mais variados planos». 
 
Ao PortugalDiário, o escritor disse ter esperança de que a 7 de Abril, no Parlamento, «se encontre uma solução razoável». Uma solução, diga-se, muito próxima do que existe actualmente: «Corrigir as muitas deficiências do texto [do acordo ortográfico] e considerar legítimas as diferentes grafias nos vários espaços da língua, as quais passariam a figurar nos dicionários e vocabulários». 
 

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