Por que persiste a crise do setor editorial

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A pedido do BNDES, o Grupo de Pesquisa em Economia do Entretenimento, do Instituto de Economia da UFRJ, elaborou uma pesquisa que aponta formas de tornar o livro mais difundido e mais barato no Brasil. Coordenador do grupo, Fabio Sá Earp respondeu às seguintes perguntas do Estado, por e-mail, em conjunto com o também pesquisador George Kornis.  
 
Estado – Como o Brasil pode ter eficiente política do livro sem desviar recursos dos didáticos?  
 
Construir políticas é algo complexo e a alocação de recursos é um desdobramento posterior desse processo. Acreditamos que uma política para o livro não foge a essa dinâmica. Uma política para valer não pode ser proposta por alguns iluminados, tem de ser elaborada e debatida pela sociedade. Antes de mais nada os empresários têm de saber o que eles querem – e isso é o mais difícil de conseguir, pois são terrivelmente desunidos e seu discurso é pobre.  
 
Estado – Por que há, no Brasil, discrepância entre o número de editoras (considerado grande) com o número de livrarias e bibliotecas?  
 
Não parece adequado o termo discrepância. No Brasil, temos um oligopólio relativamente concentrado na edição, e nas livrarias temos redes expandindo sua presença em paralelo ao imenso e heterogêneo conjunto das independentes. Mas um oligopólio também é composto por uma infinidade de pequenas empresas. Isto é mais freqüente na edição porque não há nada mais barato do que fundar uma editora – bastam meu quarto e meu computador. Uma livraria tem de estar estabelecida em um ponto nobre e caro. Além disso, a editora tem monopólio sobre seus títulos, enquanto todas as livrarias podem ter os mesmos títulos e competir em preço. Quanto às bibliotecas, não existe no Brasil uma política capaz de permitir que renovem seus estoques como necessário. A pergunta deve ser: a situação precária das bibliotecas no Brasil interessa a quem?  
 
Estado – Qual o vilão da produção editorial: a distribuição?  
 
O maior vilão é a falta de livros para quem quer ler – por falta de renda e de bibliotecas. São as políticas econômicas que arrasaram o poder aquisitivo da classe média e a falta de comprometimento das autoridades com o suprimento das bibliotecas. A crítica às distribuidoras atinge aquelas que talvez sejam as firmas mais eficientes da cadeia do livro – não são elas que imprimem livros invendáveis como as editoras, nem praticam políticas incompetentes de compras, como as livrarias. Demonizar a distribuição é lugar comum. No Brasil contemporâneo, é urgente estudar e reorientar a produção, distribuição e consumo do setor editorial de modo a termos, em prazo razoável , uma economia do livro compatível com a escala da economia do País.  
 
Estado – E qual o peso negativo das cópias xerocadas de livros no mercado?  
 
As cópias piratas só ameaçam o livro científico, voltado para o ensino superior. As estimativas não são confiáveis e todo o debate mascara (1) a incapacidade do poder público de cumprir a lei; (2) o alto custo do livro para o estudante universitário; (3) a precariedade das bibliotecas. A discussão atual é inteiramente improdutiva e punir um ou outro xeroqueiro não leva a nada.  
 
 

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