Pisa mostra diferenças entre meninos e meninas

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Meninos de quase todos os países analisados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) se saem melhor em matemática que as meninas. Entre as 41 nações que participaram do exame em 2003, apenas na Islândia elas tiveram melhor desempenho. No Brasil, que amargou o pior resultado na disciplina, as meninas fizeram 348 pontos e os meninos, 365, numa escala que pode passar de 660. Em leitura, que não era o foco principal, mas também foi avaliada, a situação é inversa: em todos os países as meninas estão à frente. 
 
O relatório completo da avaliação, feita a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), foi divulgado na semana passada na capital paulista. Pela primeira vez, ele foi publicado em português, pela Editora Moderna.  
 
O Pisa 2003 avaliou 250 mil jovens de 15 anos e deu ênfase à matemática; o próximo será em 2006 e focado em ciências. “As garotas constantemente mostram muito menos interesse em matemática, acreditam menos nelas mesmas para as tarefas e apresentam maiores taxas de desamparo e estresse durante as aulas“, disse o diretor do programa Pisa, o alemão Andreas Schleicher. De uma maneira geral, os meninos fizeram 11 pontos a mais que as meninas nas provas de matemática em todos os países. Entre eles, 16,9% estão nos níveis 5 e 6 de proficiência, os dois mais altos. Elas somam 12,4% nesses níveis.  
 
Brincadeiras – Brincadeiras e afazeres de meninos e meninas na infância podem contribuir para essas diferenças. “No Brasil, longe das grandes cidades, as meninas ainda assumem tarefas domésticas, cuidam dos irmãos. Os meninos saem mais de casa, jogam futebol e têm uma relação maior com espaço e forma“, diz a consultora para o Pisa na área de matemática do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais do Ministério da Educação (Inep/MEC), Maria Teresa Soares. O exame de matemática do Pisa é dividido em quatro áreas. A que é chamada de espaço e forma – com questões de geometria, raciocínio espacial e modelos bi e tridimensionais – registra as maiores diferenças a favor dos meninos.  
 
A área em que as meninas se saem melhor é a denominada quantidade, em que estão mais presentes informações da vida cotidiana, como problemas sobre taxa de câmbio e preços. Segundo Schleicher, o Pisa constatou que elas conseguem melhor resultado em soluções de problemas que não estão ligados diretamente com a disciplina de matemática. “Parece que é o contexto da matemática na escola que impõe barreiras para as meninas se saírem bem“, completa. Para ele, as escolas precisam desenvolver o interesse e a confiança das meninas na disciplina.  
 
Cérebros – Fora o contexto cultural e social, há diferenças no mecanismo de dominância cerebral de homens e mulheres. O predomínio do hemisfério esquerdo do cérebro – ligado à lógica, aos códigos – é maior no sexo masculino. Esse predomínio também existe no sexo feminino, mas é menor, com significativa influência também do hemisfério direito, o da intuição. “Meninos têm mais noções espaciais, enquanto na área da linguagem elas levam vantagem“, diz o professor de neuropediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luiz Celso Vilanova. “Isso facilita, mas não quer dizer que não há mulheres que se dêem bem em matemática ou homens, em linguagem.“  
 
O Pisa 2003 mostrou que, em média, os meninos fizeram 34 pontos a menos que as meninas na área de leitura. No Brasil, eles somaram 384 pontos e elas, 419. “Eu gosto mesmo é de português, história e geografia. E todas as minhas amigas também“, diz Tainara Paulon Protásio, de 15 anos.  
 
“Na socialização do menino, ele é canalizado para a individualização, baseada no afastamento. As meninas, para o apego e a verbalização, por isso há facilidade em comunicação“, diz a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Maria Helena Fávero, que estuda educação e gênero. “Melhores práticas educativas das famílias podem mudar essas situação“.  
 
No Pisa, o desempenho de meninos e meninas na área de ciências oscila conforme o país, mas há predominância masculina entre as maiores pontuações. No Brasil, os resultados de ambos os sexos são os mesmos. Nos Estados Unidos, a diferença também não foi considerada estatisticamente significativa, segundo o relatório Pisa. 
 
 
Diretor aposta em desempenho melhor 
 
Apesar do último lugar no ranking de 41 países que participaram do Pisa 2003, o diretor da avaliação, Andreas Schleicher, acredita no Brasil. O País foi o que mais avançou no desempenho de seus alunos com relação a 2000 em matemática. “Em dez anos, podemos esperar que o Brasil esteja nas melhores posições.“  
 
A pontuação geral dos jovens brasileiros foi de 356, o que deixou o País abaixo do nível 1 de proficiência, o mais baixo. Ou seja, eles não são capazes decompreender conceitos básicos ou calcular resultados combinatórios em uma situação limitada e bem definida. Os mais bem posicionados do ranking foram Finlândia e Hong Kong, que ficaram no nível 4, com cerca de 550 pontos.  
 
Para a professora Maria Teresa Soares, consultora do Inep/MEC para o Pisa, a defasagem idade/série prejudicou os brasileiros. Aqui, muitos dos alunos de 15 anos não estão no 1.º ano do ensino médio, como seria correto, e sim na 7.ª ou 8.ª séries e, portanto, não aprenderam muitos dos conceitos pedidos no exame. Ela destaca que o Brasil foi o país que mais melhorou nas área denominadas espaço e forma e mudanças e relações, da matemática, entre os países avaliados. Essas são as únicas áreas matemáticas que foram também avaliadas em 2000, no primeiro exame de que o País participou. Os brasileiros também melhoraram seu desempenho em leitura e em ciências, mas de maneira menos significativa. 

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