Pesquisa mostra queda na venda de livros

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A combinação foi explosiva: a taxa de inflação do ano passado (8,95%, segundo IPCA), que deteriorou o poder de compra do brasileiro, aliada à falta de grandes incentivos do governo na educação e na construção de mais bibliotecas fez com que o setor editorial brasileiro apresentasse números em queda em 2003. A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindical Nacional dos Editores de Livros (Snel), foi apresentada ontem e mostrou que, no ano passado, houve uma queda no número de exemplares vendidos: 8%, se consideradas apenas as vendas ao mercado; e 20%, se levadas em conta também as vendas para o governo. 
 
A elevada queda governamental tem uma explicação: as compras foram iniciadas apenas no fim de 2003; assim, as maiores cifras ficarão para este ano e vão refletir no relatório a ser divulgado em 2005. “O estado de saúde do setor editorial não é bom, mas também não é ruim, se levarmos em conta a situação econômica do País“, avaliou Oswaldo Siciliano que, além de editor, preside a CBL. “Afinal, há setores mais atingidos.“ É também a palavra de um empresário, que não se engana com alguns números – segundo a pesquisa, o faturamento em 2003 cresceu em relação ao ano anterior (8%, se consideradas as compras governamentais; e 6%, se contadas apenas as vendas ao mercado), mas a cifra ficou abaixo da inflação. 
 
Apesar da falta de fôlego, o mercado pode exibir sinais de algum contentamento, pois a erosão no salário do trabalhador foi maior. Segundo o IBGE, a renda média do brasileiro caiu 14% de 2002 para 2003. E, se forem computadas as perdas desde 1997, o total sobe para 25%. Este é um dos fatores de estreita relação com a manutenção do mercado editorial nos atuais patamares de produção. 
 
A pesquisa divulgada ontem avalia especificamente quatro subsetores e o de didáticos é que apresenta os melhores resultados, pois houve um aumento no número de exemplares produzidos (9%) e faturamento (16%).  
 
Por outro lado, houve diminuição de 8% no número de exemplares vendidos ao mercado. “Três fatores explicam essa retração“, comenta Marta Oliveira, responsável pela tabulação de dados. 
 
Segundo ela, o primeiro mostra a diminuição de alunos matriculados em escolas particulares. Ao mesmo tempo, houve um aumento de matrículas nas escolas públicas, que recebem material gratuito graças aos planos governamentais. Um segundo fator é a crescente reutilização de livros, também provocado pelo aumento do custo de vida. E, finalmente, o crescimento dos sistemas de ensino (como Objetivo, Pitágoras e outros), que oferecem pacotes de serviços aos alunos, inclusive material didático. 
 
O subsetor de Obras Gerais teve queda de 8% em exemplares vendidos e crescimento no faturamento de 6% (considerando apenas o mercado), também abaixo da inflação do período, compatível com a estagnação do PIB e da queda da renda média do brasileiro. 
 
Já as obras religiosas, apesar do faturamento e produção de exemplares positivos (5% e 1%, respectivamente), enfrentou queda de 12% nas vendas. “Trata-se de um curioso subsetor, pois, apesar de basicamente sustentado pelas classes C e D, o que empurrou os números foi a venda de Bíblias de luxo, de custo elevado“, comenta Marta.  
 
Outros tipos de livros que apresentaram boas vendas foram os de mensagens e meditação, agendas e calendários. Foram também bem-sucedidas as vendas de livros de formato pequeno e preços baixos, que são expostos nos caixas das livrarias. 
 
O subsetor que mais sentiu queda foi de científicos, técnicos e profissionais: uma diminuição de 6% na venda de exemplares e um faturamento de 4%, bem abaixo da inflação de 8,95%. O ramo mais prejudicado foi o de livros universitários, que continua a sofrer com o problema da realização de cópias ilegais. “Segundo dados que apuramos, cerca de 2 bilhões de páginas são reproduzidas irregularmente por ano no Brasil“, afirma Marta. 
 
O que garantiu uma certa oxigenação no setor foi a venda de livros de direito e negócios, especialmente a edição do novo Código Civil, principal responsável pelo faturamento positivo. 
 
O crescimento do número de feiras regionais do livro pelo País é um sinal de vigor do setor editorial, que sofre, porém, com a falta de bibliotecas em diversas cidades brasileiras. “Isso dificulta o acesso das pessoas ao livro“, comenta Marta. “E o baixo índice de leitura reflete-se diretamente na queda do nível educacional.“ Segundo ela, um dos números mais alarmantes diz respeito à capacidade de compreensão de leitura do brasileiro: apenas 26% da população alfabetizada é capaz de entender um texto simples, sem metáforas ou construções sintáticas mais complexas. 
 
 

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