Especialistas em educação têm falado nos últimos anos que a escola eficiente será aquela que, além de trabalhar o máximo possível com a experimentação e trazer o currículo para o cotidiano, terá de tirar proveito do que se chamaria de escolarização da sociedade. Sob esse prisma, tornam-se bases de um fracasso escolar os dados levantados por 11 professores da rede pública de São Paulo. A pesquisa “A presença de grupos juvenis em escolas da Zona Leste“ mostra, sem dúvidas, que as escolas estão desperdiçando todo um arcabouço cultural que turbinariam suas aulas. No total, foram identificados 900 estudantes que integram grupos juvenis, em 11 escolas da região – alguns dos quais participam de mais de um grupo. A maioria dos entrevistados, participam de grupos esportivos (31%), seguidos dos grupos religiosos (29%) e artísticos (27%). Organizações ambientais e político/partidários são minoria entre os grupos citados. Até aí, poucos fatos novos. No entanto, quando questionados se a escola contribui para o desenvolvimento do grupo, mais da metade ou não sabe – um sinal da ineficiência do corpo docente – ou é enfática ao dizer não. A situação mostra-se ainda mais alarmante quando os estudantes afirmam que a escola os desconhece: de 900 entrevistados, apenas cinco dizem acreditar que a direção conhece seu grupo juvenil; no caso dos professores esse número sobe para 25. O estudo tem como base uma série de oficinas realizadas pela ONG Ação Educativa durante o ano de 2003, para professores de escolas estaduais da Zona Leste. Com a temática cultura juvenil, os educadores se reuniam na Diretoria Leste 1 de Ensino (órgão da Secretaria de Educação) em discussões sobre como levar às escolas toda a pluralidade cultural existente em grupos jovens. Mesmo com o fim das atividades, os professores mantiveram os encontros, assessorados pela organização e pela diretoria de ensino.
“A pesquisa nasceu da necessidade do grupo em planejar as ações das escola com base em informações sobre nossos alunos“, explica o professor de português Lucimar Bivio, da E.E. Helena Lombardi Graga, Itaquera. Fazendo parte do grupo de investigação, o educador se diz surpreso com a falta de conhecimento por parte dos professores. “Fazemos atividades dentro da escola atirando para todos os lados, na esperança de acertar pelo menos um dos alunos“, conta. Na visão de Bivio, a pesquisa irá apontar os caminhos mais eficazes para tornar a escola mais aberta aos alunos. Assim, o ensino será cada vez mais baseado em observação e experimentação, em que o aluno será o protagonista e o professor será um administrador dos conhecimentos criados por esses jovens.
Professores devem organizar ações conjuntas com estudantes
Quando se fala em Educação Infantil, educadores e especialistas advertem as escolas sobre métodos pedagógicos mais eficientes durante as práticas escolares. Teorias cognitivas mostram que ambientes lúdicos, por exemplo, são mais eficazes para essa faixa etária. No entanto, quando se trata do Ensino Médio, a situação se inverte. Grande parte dos professores desconhecem os interesses de seus alunos, tal como as escolas ainda não organizam atividades objetivas a grupos juvenis. A pesquisa “A presença de grupos juvenis em escolas da Zona Leste“, realizada em 11 escolas da Zona Leste de São Paulo, é prova disso. Segundo o estudo, apesar da escola ser o espaço privilegiado para o encontro destes jovens, para eles, a instituição desconhece sua existência: 14,6% dos estudantes afirmaram que ninguém na escola sabe que eles participam de grupos; e 41,11% acham que apenas os alunos o sabem. Na opinião da socióloga Ana Paula Corti, assessora da ONG Ação Educativa e coordenadora da pesquisa, os dados são preciosos para nortear as atividades escolares do educadores. “O objetivo aqui é identificar os jovens para que se organizem ações conjuntas, mais significativas tanto para o professor, quanto para os estudantes“, crê.
Assim, a efetividade das práticas escolares está diretamente ligada, segundo Ana Paula, à percepção do aluno como sujeito mais complexo, que necessita ser integrado ao processo educativo como tal. “Professores não podem mais pensar que o estudante está pronto para aprender, como se fosse uma máquina. Devem construir pontes de interesses entre o que ensinam e os jovens, para reconstruir relações e a efetividade das práticas pedagógicas “.
E não é difícil chegar a conclusão que a falta dessas “pontes“ são as bases das frustrações que afligem educadores e alunos. “De um lado o professor se frustra ao não conseguir atingir o aluno. De outro, o estudante que não aprende e não se identifica com a escola“, explica Ana Paula. De acordo com estudo, levar esses grupos para dentro das escolas parece ser mais fácil do que se imagina. A maioria dos grupos (29,38%) reúnem-se nas escolas, em igrejas (24,79%), ou então, na casa de um dos componentes (18,38%) para realizar suas atividades. A freqüência destes encontros varia bastante, mas 57% dos entrevistados afirmaram que seu grupo encontra-se todos os dias, ou pelo menos duas vezes por semana.
Jovens querem se aproximar de escolas
Se por um lado os jovens sentem-se completamente desconhecidos dentro das escolas, são confiantes que essa situação poderá mudar. A pesquisa “A presença de grupos juvenis em escolas da Zona Leste“, a mesma que apontou o abismo entre escolas e grupos juvenis, também indica que os jovens demonstram vontade de inverter esse distanciamento. Questionados se gostariam de desenvolver atividades organizadas por seu grupo na escola, 65,56% responderam que sim. Dentre as atividades, o campeonato esportivo foi o mais citado (34,66%), mas 19,33% gostariam de realizar apresentações artísticas e culturais e outros 17,28% gostariam de realizar festivais de música. Debates, grupos de estudo, pesquisas e oficinas também foram citados.
Segundo a socióloga Ana Paula Corti, coordenadora da pesquisa, falta apenas as escolas chamarem esses jovens para conversar. “O estudo mostra que os alunos estão dispostos“. Para se ter uma idéia, a prática esportiva (26,95%), a religião (18,34%), a produção artística (18,24%), a sexualidade (8,12%) e o preconceito (6,61%) são os assuntos que mais mobilizam discussões e ações dos jovens. No entanto, para eles, a escola desenvolve poucas atividades e trata apenas pontualmente tais assuntos. Um equívoco. Afinal, são excelentes temas transversais.