Educadora aponta casos bizarros de censura a livros e textos escolares
Mickey Mouse é um roedor assustador. Harry Potter é contra a família. O Natal deve ser evitado. Os dinossauros estão proibidos.
Na educação americana, o policiamento sobre a linguagem fugiu do controle.
Após 25 anos de censura aos livros escolares, o “politicamente correto“ veio à luz numa pesquisa alarmante sobre a intromissão oficial na educação.
Em um livro aclamado como o primeiro que leva à tona esse escândalo nacional, Diane Ravitch, uma ex-alta funcionária do governo americano, argumenta que a tentativa de livrar as escolas do preconceito racial e da discriminação sexual foi levada a extremos ridículos. “Parte da censura é trivial, parte é absurda e parte é de tirar o fôlego“, diz Diane, uma historiadora da educação que trabalhou tanto com governos republicanos como democratas.
Seu estarrecedor glossário de palavras e tópicos que foram proibidos por órgãos estatais ou voluntariamente suprimidas por editoras que publicam livros pedagógicos desencadearam uma grita nacional.
Em A Política da Linguagem: Como Grupos de Pressão Restringem a Aprendizagem dos Alunos, Diane revela que uma história intitulada O Golfinho Amigo foi rejeitada por um comitê escolar porque discriminava os alunos que não moravam perto do mar. Outra história, The Silly Old Lady, foi igualmente repudiada por conter um“estereótipo negativo“ de uma mulher idosa que colocava acessórios em sua bicicleta.
Em Um Dia Perfeito para Tomar Sorvete, a história precisou ser reescrita sem referência ao sorvete – por causa de uma proibição imposta na Califórnia a qualquer citação a junk-food. Mickey Mouse caiu em desgraça em algumas escolas, seja por causa da sua herança roedora ou porque é uma marca comercial.
Dinossauros – A lista de assuntos que as escolas acham melhor evitar – sob a justificativa de que podem perturbar alunos sensíveis – inclui crianças desobedientes, fantasmas, pais briguentos, viagens para esquiar e festas de aniversário. Em alguns colégios, não pode haver menção a dinossauros, porque eles implicam uma teoria da evolução não aceita por todos os americanos.
Diane afirma que o processo de “lavagem“ dos textos está sendo aplicado em todo o sistema escolar americano. O resultado é que a obra de autores clássicos como Edgar Allan Poe e Mark Twain está sendo substituída por desconhecidos.
Os críticos literários saudaram a pesquisa de Diane como uma possível plataforma para uma reação contra os grupos de estudo sobre “preconceito e sensibilidade“ que aconselham as Secretarias de Educação sobre o material de leitura para crianças. Formados para erradicar a estereotipagem racial e sexual, esses grupos operam, segundo Diane, numa “política cada vez mais bizarra de censura“. Ela culpa os grupos por imporem pautas políticas dúbias ao processo educacional. A historiadora também se queixa das editoras de livros pedagógicos, que cedem para evitar controvérsias que possam prejudicar suas vendas.