Pesquisa evidencia contrastes no hábito da leitura

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Aos 11 anos, Ivana Domingues é uma leitora voraz. Até mesmo para preencher a hora do recreio e o tempo livre que tem na escola onde estuda, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, a 90 quilômetros de São Paulo, ela escolhe a companhia dos livros. Foi influenciada principalmente por seus avós maternos. Eles que lhe deram boa parte das obras em sua biblioteca, inclusive as de Monteiro Lobato, pelas quais Ivana se apaixonou desde muito cedo. Os livros preferidos dessa garota são os volumes com a saga do bruxinho Harry Potter e os romances da série O Diário da Princesa. Mas ela também lê Machado de Assis, Eça de Queiroz e outros. Apesar de conseguir emprestados alguns volumes na biblioteca da escola, a maior parte dos livros que lê são comprados.  
 
Para o pai de Ivana, o engenheiro Wagner Bernardes Domingues, o hábito de leitura, além de incentivar a ampliação do vocabulário da menina, contribui para torná-la cada vez mais questionadora e fundamentada. “Ela acaba se destacando entre as crianças da sua idade. Tem atitudes de liderança, de desenvoltura”, explica Wagner. De acordo com a pesquisa Retratos na Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope e divulgada em junho deste ano, meninas como Ivana têm todos os indicadores a seu favor. Assim como para 45% dos leitores ouvidos pela pesquisa, ela tem nos livros comprados a principal forma de acesso à leitura. Além de fazer parte de uma faixa etária (11 a 13 anos) em que a penetração dos leitores de livros em geral (não-indicados pela escola) é de 86%, Ivana ainda foi influenciada logo cedo pelos pais e avós, outro favorecedor apontado pelo estudo. 
 
De acordo com a pesquisa Retratos na Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope e divulgada em junho deste ano, meninas como Ivana têm todos os indicadores a seu favor. Assim como para 45% dos leitores ouvidos pela pesquisa, ela tem nos livros comprados a principal forma de acesso à leitura. Além de fazer parte de uma faixa etária (11 a 13 anos) em que a penetração dos leitores de livros em geral (não-indicados pela escola) é de 86%, Ivana ainda foi influenciada logo cedo pelos pais e avós, outro favorecedor apontado pelo estudo. Ivana é filha de pais com ensino superior completo e renda familiar maior que 10 salários mínimos, grupo em que há apenas 1% de não-leitores. O indicador comprova que o poder aquisitivo é significativo para a constituição de leitores assíduos. Mais que isso, evidencia um aspecto que passou em branco nas análises dos resultados da pesquisa: a enorme diferença dos índices de leitura quando comparados fatores como faixa etária, renda familiar, classe social, região geográfica e escolaridade. 
 
Assim como a pequena Ivana, de São José dos Campos, o garçom Jaime Soares, de São Paulo, também lê desde muito pequeno. Começou com as histórias em quadrinhos, passou para os livros indicados pela escola e hoje lê apenas por prazer, mas de maneira compulsiva. Ele aproveita para ir à livraria nos intervalos do trabalho, momento em que já leu muitas obras. Dos livros que lê, a menor parte é comprada. Quase sempre são obras emprestadas de amigos ou de bibliotecas. Jaime lê no metrô, no ônibus, qualquer tempo livre é gasto com a leitura. Ele parou de estudar no ensino médio e sua renda familiar mensal é bem inferior a 10 salários mínimos. Apesar de não integrar nenhum grupo de maioria leitora no País, Jaime faz parte dos 60 milhões de brasileiros (35% da população) que gostam de ler em seu tempo livre. Mais que isso, ele é um dos 38 milhões de habitantes que dizem fazer isso com freqüência. “Para mim, a leitura é uma oportunidade de aprender. Além de ser uma forma de lazer, ela é importante para eu adquirir algum conhecimento, já que não estou estudando no momento”, conta Jaime.  
 
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil considerou como leitores aqueles que declararam ter lido pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa (55% da população estudada ou 95,6 milhões de pessoas). Entre os leitores com formação superior, 79% disseram gostar de ler em seu tempo livre e fazer isso com freqüência. No grupo daqueles com renda familiar acima de 10 salários mínimos, esse número é de 78%. Na região Sul do País, 75% dos que gostam de ler o fazem com freqüência. Na região Sudeste, esse número é de 71%. Para se ter uma idéia da diferença do número no Norte, por exemplo, região com o menor índice, esse número é de 55%. Nessa mesma região, 80% dos que lêem com freqüência têm o ensino superior. No momento em que a pesquisa foi divulgada, o número que chamou mais atenção foi aquele que determinava o índice geral de leitura no Brasil. De acordo com o indicador, cada brasileiro lê, em média, 4,7 livros ao ano. Se descontado o número de livros indicados pela escola (o que inclui os didáticos), o número de livros lidos cai para 1,3 ao ano. 
 
Por haver metodologias diferentes, não é possível comparar os resultados desta pesquisa com os da primeira edição, que não ouviu leitores com menos de 15 anos de idade e três de escolaridade. Apesar disso, quando os números atuais são separados para estudo em um grupo com o mesmo perfil, chega-se ao indicador de 3,7 livros lidos ao ano por habitante atualmente, superando a média de 1,8 do levantamento anterior. Na opinião de Maurício Garcia, diretor de atendimento e planejamento do Ibope Inteligência, órgão responsável pela aplicação da última pesquisa, está claro que houve um aumento nos índices de leitura da população. E isso se deve, na opinião dele, principalmente às políticas públicas de incentivo à leitura em todas as regiões do Brasil. Apesar disso, segundo Maurício, está claro que, em algumas parcelas da população, as pessoas ficam esperando ações do governo para suprir essa deficiência leitora. “Aumentar os índices de leitura em todas as camadas da população é uma obrigação do estado brasileiro, mas também da sociedade”, comenta.  

Menu de acessibilidade