Paulo Renato vê desmanche no setor

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Quase como um desagravo – não intencional, ele garante -, o ex-ministro Paulo Renato Souza lança no dia 11 de novembro na capital de São Paulo um livro sobre sua trajetória no Ministério da Educação (MEC), entre 1995 e 2002. A semana começou com o desmonte definitivo do Provão, uma de suas principais iniciativas, e a substituição pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). “Fiquei preocupado com coisas sendo desmanchadas e sendo apropriadas indevidamente.“ No dia seguinte, a Unesco divulgou relatório afirmando que a escola brasileira melhorou em quantidade de alunos, mas não em qualidade. Sobre esse assunto, o ex-ministro concorda com o atual, Tarso Genro, e repete que a educação não foi considerada por muito tempo um bem público essencial no País. Veja a seguir a entrevista concedida ao Estado.  
 
Nesse domingo, o Provão acabou. Qual sua opinião sobre o Enade?  
 
Essa prova não faz nenhum sentido. Primeiro porque não haverá mais a referência anual para a sociedade, já que cada curso participará de três em três anos. Segundo, mais grave, é fazer a aprova por amostragem. Quando eu concebi o Provão, pensei na amostragem, mas cheguei à conclusão de que seria impossível garantir uma amostra realmente representativa. O ensino superior é pulverizado, há muitas faculdades e de diversos tamanhos. A margem de erro será enorme.  
 
No livro, o senhor fala que realizou uma revolução na educação. Um relatório da Unesco desta semana diz que o ensino fundamental foi universalizado, mas a qualidade da educação ainda é ruim.  
 
Não vi o relatório da Unesco, mas pelo que li eles usaram apenas indicadores quantitativos, como evasão, número de analfabetos, não mediram a qualidade. O País está avançando muito, apesar de ainda existirem problemas. Concordo inteiramente com o que disse Tarso Genro sobre o relatório (o resultado não é culpa do atual governo nem do anterior e sim de um processo em que a educação não era vista como um bem público essencial).  
 
Tarso Genro deu recentes entrevistas sobre seu livro Esquerda em Processo e foi criticado por não falar sobre educação.  
 
Um ministro tem o direito de falar outra coisa que não seja educação. Só não concordo com o que ele disse sobre o governo Fernando Henrique Cardoso, que optamos pelo neoliberalismo enquanto o governo Lula foi forçado a adotá-lo. Precisamos ser mais maduros e aceitar que o mundo é outro. Também discordo do controle da comunicação. O Brasil é um dos países em que há mais liberdade e não há nenhuma necessidade de o governo interferir.  
 
O senhor conta no livro que teve medo de que o Fundef não fosse para frente por causa das denúncias de fraude. O senhor acha que pode acontecer o mesmo com o Bolsa-Família?  
 
Eu notava claramente que havia um movimento contra o Fundef e as denúncias seriam um instrumento para que ele não fosse aprovado. Mas o Bolsa-Família não tira dinheiro de uns para dar a outros. Mesmo assim, é preciso tomar cuidado. Hoje, eles querem fazer o Fundeb (fundo para financiar todo o ensino básico), mas acho o mecanismo muito difícil. Estão há dois anos no governo e não conseguiram ter o projeto pronto. Não tenho dúvida de que estão tendo problemas com a equipe econômica, assim como eu tive com o Fundef.  
 
O livro foi escrito durante sua gestão ou depois dela?  
 
Comecei o livro em abril e terminei em junho. Mas já tinha muita coisa escrita, tinha feito trabalhos para o Banco Mundial e para seminários em Harvard. Só sentei e organizei. A idéia é deixar escrito o que fizemos, onde chegamos. Fiquei preocupado com coisas sendo desmanchadas e sendo apropriadas indevidamente.  
 
O senhor tem ajudado José Serra a formar sua equipe na área de educação?  
 
Não. Faço apenas o que me pedem. Mas acredito que tem muita coisa a ser melhorada na educação em São Paulo, como aumentar o horário dos alunos na escola, acabar com escolas de lata. E acho que essas eleições mostraram que está surgindo um anti-petismo, que, dependendo da região, se manifesta com a liderança de um ou outro grupo. Acredito que Geraldo Alckmin desponta como o grande nome para a presidência em 2006 e aí, a gente começa tudo de novo na educação. 

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