BRASÍLIA – Depois de participar de seminário no Palácio do Planalto, o ministro da Educação, Tarso Genro, rebateu críticas do ex-ministro Paulo Renato Souza à política do governo Lula para o setor. Ao responder a Paulo Renato, ministro da Educação nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, Tarso condenou os critérios adotados pelo governo passado para autorizar a criação de cursos superiores e disse que o ex-ministro, ao criticar o programa Universidade para Todos (ProUni), defende o interesse das instituições particulares de ensino.
Em entrevista ao GLOBO publicada no dia 11/11, Paulo Renato disse que o governo Lula perdeu o foco por mudar sucessivamente as prioridades. Segundo Paulo Renato, quando o ministro era o senador Cristovam Buarque (PT- DF), o foco era a alfabetização e, na gestão Tarso Genro, a prioridade é o acesso ao ensino superior. Para Paulo Renato, a prioridade deveria ser o ensino básico. “Aí já é uma questão de juízo ideológico. Se o foco fosse deixar proliferar de maneira irresponsável universidades privadas sem qualquer juízo, sem qualquer controle, sem qualquer critério, e se perder o foco é regular isso, então perdemos o foco” — afirmou Tarso.
O ministro disse que Paulo Renato está desinformado ao afirmar que sua gestão privilegia o acesso à universidade em detrimento do ensino básico. Para Tarso, a imprensa é que dá mais destaque a esse aspecto. “Acho que o Paulo Renato está desinformado sobre o ensino básico. Como a imprensa tem abordado mais a questão da universidade, ele não está muito informado sobre o que fazemos. O ensino básico é fundamental e só tem sentido reformar a universidade se reformular, refinanciar, requalificar o ensino básico. Acho que ele não fez por má-fé” — disse Tarso, que contou ter telefonado no dia 11 mesmo para Paulo Renato prometendo enviar-lhe informações sobre os projetos de educação básica do governo.
Ministro defende-se de críticas ao ProUni
O ministro também reagiu às críticas ao ProUni, o programa que oferecerá bolsas gratuitas para alunos pobres em instituições particulares, dando isenções fiscais a parte delas. “Ele (Paulo Renato) queria que comprássemos as vagas. Ele está defendendo sua visão de ensino mercantilizada, está defendendo o interesse das instituições privadas. Temos que defender o interesse público”.
Representante da Unesco também critica ex-ministro
O Globo
BRASÍLIA – O representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Jorge Werthein, também reagiu ao ex-ministro Paulo Renato. Werthein não gostou do tom das declarações dele sobre o último relatório mundial da Unesco, em que o Brasil aparece em 72º lugar entre 127 países. Paulo Renato destacou que são dados quantitativos e não qualitativos. “Os dados podem ser quantitativos, mas temos informações que mostram o problema da falta de qualidade na educação. Lamento que ele (Paulo Renato) tenha dito isso” — disse Werthein.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Eliezer Pacheco, divulgou nota também rebatendo Paulo Renato. Segundo ele, o ex-ministro erra ao criticar a instituição do Enade, um dos mecanismos que substituem o Provão. Eliezer ainda lembrou que a gestão de Paulo Renato não fechou nenhum curso de graduação reprovado pelo Provão. “Se o diagnóstico estava correto, indicando a existência de cursos de baixa qualidade, ele não serviu para fazer as correções necessárias e punir as instituições sem padrões mínimos de funcionamento“, diz a nota do Inep.
