Para gostar de ler desde a infância

Na acirrada disputa com a televisão, o videogame e os passeios no shopping, os livros acabam ficando em segundo plano entre as atividades preferidas da criançada. Mas como é de pequeno que se formam novos leitores, a tática adotada por Dona Benta, personagem de Monteiro Lobato que fazia a alegria dos netos ao contar suas histórias, continua sendo importante ainda hoje. E quem escreve para o público jovem concorda com esse método.
 
Para o escritor Marcelo Duarte, autor da série Guia dos curiosos, o estímulo à leitura deve partir da própria família. “O grande segredo é que pais e mães passem a ler para os filhos. Assim, as crianças conseguem associar a leitura a momentos de carinho e de aprendizado“, sugere ele, que acaba de lançar Meu outro eu, pela coleção Vagalume, da Editora Ática. A obra conta a história de crianças e robômirins que aprendem a conviver com as tecnologias sem abandonar os livros.  
 
O psicólogo Júlio Groppa Aquino, professor da Faculdade de Educação da USP, ressalta a importância de dividir com alguém o prazer da leitura. “Num primeiro momento, toda leitura precisa de um preceptor, por mais que seja uma atividade solitária. E uma criança precisa ser iniciada nas ‘artes do ler’. Isso só se faz com o outro, com quem se pode discutir o mundo das idéias“, explica o professor.  
 
Agenda cheia – Entre os truques dessa didática de incentivo à leitura, é importante destacar que os pais nunca devem transformar o livro num castigo. Por isso, não basta convencer os filhos de que ler é fundamental. É preciso ensinar que a leitura deve fazer parte do dia-a-dia de uma criança, assim como ver televisão, brincar com jogos eletrônicos, praticar esportes e passear no shopping com os amigos.
 
“Eu era fascinado por TV. Isso não impediu que eu gostasse de ler. Tento mostrar que é preciso dar uma chance para os livros. E quanto ao computador, não é preciso combatê-lo. Basta ensinar aos filhos a usá-lo a favor da leitura. Meu filho mesmo me liga para comentar notícias que ele lê pela Internet“, lembra Marcelo. “E sempre que vamos ao shopping, entro com ele numa livraria, para que esse fascínio pela leitura possa mesmo se tornar um hábito“, completa.
 
O escritor Pedro Bandeira concorda com essa tese de compartilhar o tempo da criança com várias atividades. “Se a leitura estiver lá desde o início, não importa que a garotada leia gibi, veja TV e brinque com amigos. O problema é quando ela começa com o videogame e só fica nisso“, acredita o autor, que já escreveu mais de 70 obras juvenis, como o famoso A droga da obediência, e também infantis, como o recente A baleiazinha.  
 
Uma chance para uma boa leitura – Pedro Bandeira e Marcelo Duarte destacam outro fator fundamental para juntar livros e jovens no mesmo ambiente: os personagens.  
 
“A identificação do leitor com os personagens faz com que todos queiram continuar a ler“, acredita Pedro. “O livro precisa estar ligado aos interesses das crianças. Pode ser gibi, revista de videogame“, diz Marcelo. Criador do espevitado “Menino Maluquinho“, o escritor Ziraldo também segue essa linha de dividir o tempo entre leituras e outras atividades.  
 
“Fico até preocupado com quem quer apenas ler. A meninada também tem que zoar, suar. Quem gosta de ler, lê de qualquer maneira e a qualquer hora“, brinca o escritor.  
 
Ziraldo lembra que, em todas as situações, tudo passa pelas palavras. “Para não se perder no tempo, as histórias encontram vários meios que chegaram com a tecnologia para ficarem guardadas. Mas são as palavras, e os livros, que eternizam todas as histórias“, resume o cartunista e escritor.  
 
“Brasil investe menos em educação“, diz ministro – O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou em viagem a Portugal que o Brasil investe “menos do que 4%“ do Produto Interno Bruto (PIB) na sua área, ao contrário do que indicam as estatísticas oficiais dos últimos anos. Segundo ele, gastos em outras áreas, como saúde, são contabilizados como despesas em educação. Disse ainda que o País deveria investir durante 20 anos pelo menos 6% do PIB se quiser realmente resolver seus problemas na área educacional.  
 
Ao afirmar que o Brasil gastava menos do que 4% do PIB em educação, Haddad se referia a cálculos que serão divulgados em breve por sua pasta. Ele diz acreditar que essa conta norteará futuras discussões sobre investimentos. 
 
Formalmente, disse o ministro, o Brasil tem gastado dentro da média prescrita pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade internacional que reúne os países mais ricos do mundo e avalia regularmente políticas educacionais. Aplicar 6% seria adotar a recomendação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).  
 
Haddad atribuiu as raízes do que chamou “atraso educacional“ do Brasil a três fatores que só teriam acontecido simultaneamente no País: “Colonização retrógrada, escravidão longa e patrimonialismo“. Afirmou que “o Brasil é o Estado menos republicano“ da América Latina se levada em conta a sua história até os dias atuais. Para o ministro, a colonização portuguesa, a independência do País (1822) e a proclamação da República (1889) aconteceram sem “rupturas“ que ocorreram em todo o continente americano.  
 
Ele lembrou que o Brasil foi o último País a abolir a escravidão (1888). E disse que o patrimonialismo (grosso modo, quando a elite usa o Estado como um bem privado e a seu serviço individual) é uma característica contemporânea do País.  
 
O ministro afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito esforços para superar os problemas na educação, mas destacou que a solução virá apenas quando eles se transformarem numa prioridade de “toda a sociedade“. Com a consolidação da democracia e a estabilidade econômica, “a educação formaria o tripé para aumentar o desenvolvimento.“  
 
Haddad disse que hoje já existiria consenso de 90% entre União, Estados e municípios a respeito do que fazer para melhorar a educação. Ele conta que recebeu um telefonema recente do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que relatou ter participado de um jantar com empresários para discutir educação. “Acho que é a primeira vez na nossa história que um ministro da Fazenda vai tratar disso com empresários“, afirmou. 
 
Educação sexual pode ser opcional – Os alunos que não se sentirem à vontade de freqüentar aulas de educação sexual nas escolas poderão deixar de participar sem que a ausência conte como falta. É o que prevê o Projeto de Lei 5918/05, do deputado Elimar Máximo Damasceno (Prona-SP), que, para entrar em vigor, ainda precisa ser votado pelas comissões de Educação e Cultura; e Constituição e Justiça e de Cidadania.  
 
Segundo o projeto, os estudantes podem alegar crença religiosa ou objeção de consciência. Caso a disciplina integre o número de horas da carga horária mínima do curso, a escola ficaria obrigada, de acordo com o projeto, a oferecer disciplina ou atividade alternativa aos alunos isentos de freqüência.  
 
Excesso de informações – Apesar de o deputado defender o direito de escolha dos estudantes, ele diz considerar necessária a orientação sexual para jovens, “diante do excesso de informações não selecionadas transmitidas pela mídia“. Na opinião do parlamentar, algumas escolas têm tratado o tema de maneira permissiva.  
 
“Por essas razões, proponho que sejam defendidos os direitos de pais e filhos que não concordam com esta forma de tratar a sexualidade, garantindo-lhes que não sejam constrangidos a participar de tais aulas“, afirmou o deputado Elimar Máximo Damasceno na Câmara.  
 

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