Papel continuará predominante

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Diretor da maior editora do mundo prevê que livros impressos ainda serão maioria nos próximos anos.


 

“Fico satisfeito ao ver um leitor que está lendo no seu iPad ou Kindle. Sem estes aparelhos, talvez não atingíssemos aquela pessoa. (…) Contudo, o livro impresso continuará predominando por muito tempo.”

 

Markus Dohle, diretor executivo da Random House, maior organização editorial do mundo, em entrevista à revista alemã Der Spiegel

 

ENTREVISTA

 

Markus Dohle, diretor executivo da Random House

Markus Dohle, de 42 anos, conversou com a revista Der Spiegel sobre os projetos da maior organização editorial do mundo para a era do livro eletrônico, as difíceis negociações com a Apple e os motivos pelos quais o livro impresso continuará predominando no setor. A seguir, trechos da entrevista.

 

Quando o senhor vê pessoas lendo no trem, de quem gosta mais, do leitor com o iPad ou daquele com um livro?

Gosto dos dois…

 

Porque lucra com os dois.

Mas é justamente essa a nossa oportunidade. Fico satisfeito ao ver um leitor que está lendo no seu iPad ou Kindle. Sem estes aparelhos, talvez não atingíssemos aquela pessoa naquele exato momento, porque ela pode ter deixado o livro em casa. Mas nós sempre a encontramos no leitor eletrônico. Aquele minuto de leitura é uma bênção.

 

O senhor parece muito entusiasmado.

Sim. Cresci na época do papel impresso, mas preciso admitir que estou surpreso com a rapidez com que os negócios digitais estão crescendo, principalmente nos Estados Unidos. Contudo, o livro impresso continuará predominando por muito tempo.

 

Que porcentagem do seu faturamento representam os livros eletrônicos?

Neste momento, cerca de 8% nos EUA, o que constitui um aumento enorme. É possível que no próximo ano superemos os 10%.

 

A Amazon anunciou que em junho vendeu 180 títulos digitais para cada 100 livros de capa dura nos Estados Unidos. Os analistas calculam que, em 10 anos, apenas 25% de todos os livros serão vendidos em forma impressa. O senhor acha essa cifra realista?

Não concordo com esse prognóstico. Acho muito agressivo, exagerado. É mais provável que a parcela de mercado dos livros eletrônicos, mesmo nos EUA, chegue a algo entre 25% e 50% até 2015. Mas esta será ainda uma enorme oportunidade para nós. Ela favorecerá um novo crescimento. Conheço pessoas nos EUA que dizem: comecei a ler de novo por causa do meu leitor eletrônico – e também os meus filhos.

 

Entretanto, a euforia do senhor deve ter limites. Quando a Apple lançou seu iPad em janeiro, cinco das seis maiores editoras americanas eram sócias da iBookstore da Apple. Mas a Random House, a maior delas, ainda não aderiu a essa iniciativa. Por que essa hesitação?

No mercado de língua inglesa, ao contrário da Alemanha, não existe um acordo de preço fixo para livros. O vendedor de livros estabelece o preço no varejo. Na iBookstore da Apple, cabe às editoras estabelecer os preços para o leitor. A Apple se mantém fora disso e recebe uma comissão. Precisaríamos examinar a questão com muito cuidado para saber se estaríamos dispostos a adotar essa mudança drástica no nosso modelo de negócios.

 

O que há de tão ruim em poder estabelecer os próprios preços?

Nos mercados em que não existem acordos de preços fixos para livros, significa que as editoras entram numa concorrência de preços que anteriormente dizia respeito apenas aos vendedores de livros. Entretanto, a questão está em saber se as editoras terão a capacidade de estabelecer o preço certo de varejo a fim de alcançar o maior número possível de leitores. Até agora, isso não cabia a nós.

 

Em outras palavras, o senhor não quer que a Apple se livre do risco que anteriormente era dos livreiros, e agora é da Amazon?

Isso mesmo, trata-se também de distribuir o risco. Até agora, vendemos conteúdo, desenvolvemos e comercializamos talento, e calculamos nossos preços de acordo. Nos EUA, o comércio de livros estruturou preços de varejo mantendo condições de mercado individuais. É preciso determinar se as editoras poderão realmente fazer ambas as coisas no futuro.

 

O senhor realmente acredita que não precisa da Apple?

A mudança para o livro digital provavelmente levará de cinco a sete anos, portanto 100 dias na iBookstore não permitem determinar se um livro é um sucesso ou um fracasso. Evidentemente, queremos ter uma presença em todas lojas digitais. E você não deve esquecer que nossos leitores nos EUA também leem nossos livros no iPad, usando aplicativos diferentes, mesmo que não façamos parte da iBookstore. Não acho que teremos grandes prejuízos a longo prazo. Na realidade, temos de agir de uma maneira muito cuidadosa, até encontrarmos um modelo adequado. /

 

QUEM É

 

Markus Dohle estudou Engenharia Industrial e Administração na Universidade de Karlsruhe. Assumiu a direção da Random House em 31 de maio de 2008. Antes disso, ocupou vários cargos no Grupo Bertelsmann, gigante do setor de comunicação com sede na Alemanha

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