Países da América Latina podem trocar experiências em educação

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Apesar das diferenças econômicas, culturais e sociais, os países da América Latina, enfrentam desafios parecidos quando o assunto é educação e podem aprender muito com as experiências das nações vizinhas. É o que defende o diretor do Centro de Estudos em Políticas Públicas (Cepp), Gustavo Iaies, que foi vice-ministro da Educação da Argentina.Na semana passada, a entidade promoveu, em parceria com o Ministério da Educação (MEC) do Brasil, um seminário em Foz do Iguaçu para discutir os principais desafios da região.


 

Em entrevista, Iaies defendeu que é preciso pensar em sistemas educativos que respondam às novas demandas da sociedade e que possam envolver todos os atores – professores, diretores, pais e alunos – na busca pelos resultados. “Nossos sistemas educativos eram para uma coisa e agora são para outra, tinham um modelo de família e agora têm outro, eram para uma sociedade com um tipo de conhecimento e agora é para uma sociedade inundada de conhecimento”. 
 

Os países da América Latina vivem uma situação parecida na área da educação?
Parece-me que quase todos os países estão terminando uma etapa de escolarização, de levar as crianças à escola. Agora o que precisamos é que elas aprendam mais e que as desigualdades entre elas não sejam tão grandes.

 

O problema disso é que a organização que foi feita para trazer as crianças é muito diferente da organização para que aprendam mais. Porque se eu quero trazer as crianças para a escola posso montar um sistema ordenado verticalmente em que acima se tomam as decisões e abaixo elas são implementadas. Mas, quando elas já estão na escola e preciso que aprendam mais, já não funciona a receita de uma ordem que vem de cima e todos fazem o mesmo.

 

A pergunta é como fazer isso? Como alcançar e articular milhares de escolas com problemas e situações diferentes se pretendemos ter um sistema educativo?
Hoje a região precisa saber como deixar o modelo A e construir o modelo B, ou seja, como deixar o modelo da escolarização, ainda que seja preciso trazer algumas crianças para a escola, e se armar um modelo que vise muito mais à qualidade.

 

Que países estão mais à frente nesse debate sobre a qualidade do ensino?
Há países que estão liderando isso como o Chile, o Brasil e a Colômbia. Eles estão mais adiante porque já começaram a pensar como se ordena um sistema em que as normas comuniquem aos atores o que o sistema busca. Por exemplo: você é professor de uma turma, trabalha todos os dias e seus alunos aprendem. Eu sou professor, vou trabalhar três vezes por semana, e os alunos não aprendem. Se no fim do mês eu ganhar o mesmo salário que você, a mensagem que o sistema transmite é de que não importa se as crianças aprendem ou não.

 

O problema é que os sistemas educativos da região estão organizados todos sob este modelo, porque a ideia era construir uma identidade: todos nós fazemos o mesmo, da mesma maneira, com o mesmo reconhecimento. Me parece que agora temos que passar a um sistema em que está claro que nem todos nós temos de fazer o mesmo, e não teremos o mesmo reconhecimento. Essa é uma discussão política muito complicada porque se eu sou um dirigente de um sindicato; para mim é muito mais conveniente o modelo anterior: se eu negocio um aumento, todos conseguem um aumento.

 

Esse sistema de reconhecimento por mérito já está implantado em muitos países da região?
Há governos que estão avançando muito nessa ideia de que o sistema tem que dar o reconhecimento às pessoas pelas coisas distintas que fazem. Por exemplo, o Chile tem um sistema que financia por demanda. Se você manda seu filho para uma escola da prefeitura, mas desiste e o matricula em um colégio privado, o Estado deixa de pagar à prefeitura por seu filho e paga à escola privada.

 

O resultado é que as escolas fazem um grande esforço para reter seus alunos, porque se perdem a criança, perdem o dinheiro. Com isso, muito mais alunos ficaram no sistema público e em 18 anos subiu de 16% para 49% o percentual da população com nível universitário.

 

E quais as desvantagens desse modelo?
Estamos alcançando um sistema que tenta reconhecer o trabalho, o esforço. Isso é um movimento político muito importante porque rompe com a ideia de igualdade que até agora não incentivava, tampouco gerava conflitos. Mas ao mesmo tempo se um professor ganha três vezes mais do que o outro na escola, dificilmente teremos uma equipe que trabalhe em conjunto.

 

Temos que encontrar um equilíbrio para que não seja um sistema em que cada um luta por si, mesmo porque queremos educar crianças que vivam em uma sociedade, transmitir a mensagem de que vale a pena lutar e viver todos juntos.

 

Como a escola latino-americana de ensino médio atende seus jovens hoje?
O modelo de escola secundária não se sustenta mais e isso ocorre em toda a região. Existe um problema estrutural: temos uma escola de muitas matérias, muito conteúdo para pouco tempo. O que isso gera basicamente é que nenhum professor tem tempo de se relacionar profundamente com seus alunos.

 

É uma escola mais pensada em função do que os alunos vão fazer na universidade do que naquilo que eles precisam nesta fase da vida. O problema é que nessas escolas secundárias ninguém enxerga o aluno. Quando fui vice-ministro da Argentina, fizemos uma trabalho com professores e diretores de escolas.

 

Perguntamos quando eles se davam conta de que o aluno não ia mais às aulas . E eles percebiam ao final do trimestre, quando o estudante não vinha fazer a prova. Como se sente um jovem de 14 ou 15 anos que há um mês vai à escola e ninguém se dá conta? Se nos atrasamos dez minutos para uma reunião, alguém liga para a gente. Creio que esse é um sintoma do que acontece nas escolas: ninguém enxerga o adolescente. Estamos em um momento em que os jovens e crianças estão muito sozinhos, os adultos estão preocupados com outras coisas.
 

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