Os dez mil pais entrevistados na “Pesquisa Nacional Qualidade da Educação: a Escola Pública na Opinião dos Pais“, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), deram nota – numa escala de 0 a 10 – tanto para a disciplina na escola quanto para o atendimento da secretaria, a organização, as instalações gerais e a higiene da cozinha; 8,7 para a localização; 7,8 para o espaço de recreio; 7,9 para as condições das salas de aula; 6,5 para a biblioteca; 2,9 para a sala de informática/computadores; 6,0 para a quadra de esportes; 7,6 para a conservação dos prédios; 7,1 para a limpeza de banheiros.
O estudo, inédito, contou com uma primeira fase qualitativa, encerrada em janeiro deste ano. A parte quantitativa da pesquisa consolida os dados apontados no levantamento e detalha as opiniões desses familiares de estudantes. Foram investigadas as percepções dos pais sobre a qualidade das escolas, as condições institucionais, de infra-estrutura e de ensino e a atuação dos professores e diretores de escolas de ensino fundamental, pertencentes às redes públicas e localizadas em zonas urbanas de todo o País.
A percepção sobre os professores é bastante positiva; 82,6% os consideram preocupados em ensinar e dar uma boa aula, e 77,3% acham que os docentes têm paciência para tirar as dúvidas dos alunos. No entanto, 62,8% consideram muito fácil a aprovação no fim do ano e 58,9% são da opinião de que os trabalhos para complementar as notas fazem que os alunos estudem menos. Mais de 80% dos pais ou responsáveis concordam com a opinião de que o medo da reprovação faz os alunos estudarem mais. Em geral, os pais depositam uma esperança muito grande na escola, à qual identificam como forma de ascensão social. Os pais valorizam o papel do diretor e do professor, acham que os professores grevistas devem ser punidos e pedem mais autoridade na escola, tanto no que se refere à vida dentro da escola quanto no que é ensinado aos alunos.
Preocupação com a violência
Disciplina e clima harmonioso para o aprendizado são os principais desejos dos pais em relação à escola, o que se mostra em 90% dos pais ou responsáveis favoráveis ao uso de uniforme. Os pais também expressaram sua percepção sobre a violência extra-escolar e relataram diversos casos neste sentido. Um percentual de 30% disse que há roubo a alunos, professores ou funcionários dentro desses estabelecimentos, 52% disseram que há brigas constantes dentro e perto da escola, 15,3% que há consumo de drogas nessas unidades, 6,1% que há tráfico de drogas dentro da escola, 24,5% dizem haver gangues dentro ou perto da escola. A ameaça à vida das pessoas dentro da unidade escolar é citada por 12,8% dos pais e 28,6% que a violência atrapalha o funcionamento do ensino. Metade dos pais pensa que a violência deve ser combatida pela polícia.
Um total de 90,4% desses pais diz comparecer à escola quando chamado para alguma reunião. O principal motivo para o comparecimento a essas reuniões (70,3%) é o de serem muito úteis para acompanhar o desenvolvimento dos alunos. Cerca de 17%, para tomar conhecimento dos problemas existentes na escola e apenas 5,7% para conhecer melhor os professores. Mais de 63% comparecem a festas ou eventos esportivos na escola. Para o diretor de Avaliação da Educação Básica, Carlos Henrique Araújo, esses dados devem ser levados em conta para a formulação de políticas, já que esse público não é desprezível dentro do universo envolvido com a escola. “É preciso conhecer o pensamento dos pais e perceber a presença da família no que diz respeito às questões escolares E nunca havia sido sistematizada uma pesquisa com esse público. Havia apenas um embrião disso. Agora, vamos incluir sistematicamente questionários para os pais nas avaliações da Educação Básica”, explica.
A grande maioria dos pais ou responsáveis pelos estudantes brasileiros das escolas públicas de ensino fundamental raramente lê livros ou jornais. No entanto, assiste televisão todos os dias. Uma das constatações é de que o nível de escolaridade dos pais dos estudantes brasileiros é baixo. Cerca de 58% têm até o ensino fundamental incompleto e 7,5% declaram-se analfabetos ou sem nenhuma escolaridade. Os que completaram o ensino universitário somam somente 2,8%. Dos pais ou responsáveis pelos estudantes, 84% declararam assistir televisão todos os dias, 74,7% lêem raramente ou nunca jornais de circulação diária, 74% nunca ou raramente lêem livros e 72% não lêem ou raramente lêem revistas. Cerca de 10% dos pais de alunos utilizam computador, enquanto que o acesso à Internet é privilégio de apenas 6,9% dos pais ou responsáveis.
São as famílias mais pobres do Brasil as principais usuárias das redes públicas de ensino fundamental. Mais de 73% dos entrevistados têm renda familiar de até três salários mínimos. Apenas 9% das famílias ganham mais que cinco salários mínimos. Um percentual de 58,1% dos pais ou responsáveis brasileiros pertence às classes D e E e 7,5% às classes A e B. Da classe C, tem-se 29,7% dos pais ou responsáveis. “Associado ao dado de que a maioria dessas famílias é das classes mais pobres (D e E), se pode concluir que a maioria dos estudantes brasileiros do ensino fundamental não está recebendo este capital cultural em casa, tornando-se muito mais dependente da escola do que as crianças de classes média ou rica”, avalia o presidente do Inep, Eliezer Pacheco.
Pacheco lembra, também, que uma das explicações centrais para o baixo desempenho do estudante brasileiro, já amplamente estudado pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), é o nível de escolaridade dos pais dos alunos. “A proficiência obtida pelas crianças e jovens brasileiros correlaciona-se fortemente com o nível socioeconômico das famílias desses estudantes”, analisa.
Dados revelados na pesquisa se mostram preocupantes, quando se observam os índices de proficiência dos estudantes brasileiros, filhos desses pais de baixa escolaridade e pouca renda. Conforme o Saeb de 2003, a média de proficiência em Matemática dos filhos de mães que completaram a faculdade e de cerca de 207 pontos, na 4ª série do ensino fundamental. Entre os filhos das que nunca estudaram, a média é de 149,3 (abaixo do nível crítico, de 200 pontos), entre os filhos das que completaram a faculdade a média é de 207,8. Os filhos de pais que nunca estudaram ficaram com média 153,7, dos que completaram a educação superior, 206,9. Em Língua Portuguesa, a média entre os filhos de mães que nunca estudaram foi 158,0; das que completaram a faculdade, 218 pontos. Em Língua Portuguesa, a média dos filhos de pais que nunca estudaram é de 157,7 pontos. Os filhos de pais que completaram a faculdade tiveram 217,5 pontos. Ainda segundo o Saeb, ao identificar efeitos de fatores familiares e pessoais no nível de proficiência, o hábito da leitura foi considerado de impacto significativo na 4ª e 8ª séries em Língua Portuguesa.
Conforme Araújo, a pesquisa com os pais é necessária, porque u ma das mais importantes dimensões explicativas do desempenho de estudantes encontra-se em sua origem familiar. “É de fundamental importância conhecer o capital cultural e econômico das famílias dos estudantes. O nível de escolaridade dos pais e seus hábitos culturais são uma das causas de baixo desempenho escolar. Se a leitura, por exemplo, não está presente na casa desses estudantes, o que, como se demonstra pela pesquisa, não acontece no processo familiar brasileiro, eles vão chegar à escola em desvantagem”, explica Araújo. A pesquisa será feita regularmente pelo Inep daqui para a frente, acompanhando o que pensa e como vivem os integrantes das famílias do estudante brasileiro.
Participar mais da vida da escola é o desejo dos pais
Portal MEC – Ionice Lorenzoni
Aulas de informática, oferta de ensino profissionalizante, aumento das reuniões na escola é o que reivindicam 96% dos pais de alunos das escolas públicas do ensino fundamental, da zona urbana, segundo pesquisa nacional divulgada no dia 23 de maio, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aníso Teixeira (Inep/MEC).
O Inep foi a campo pela primeira vez na sua história para ouvir os pais sobre o que eles acham da qualidade da escola de seus filhos, da atuação de professores e diretores e da infra-estrutura dos espaços. A pesquisa nacional Qualidade da Educação: a Escola Pública na Opinião dos Pais foi realizada em janeiro e fevereiro deste ano com dez mil pais de todas as regiões do país, quando foram ouvidas 370 famílias por estado, 19 escolas por estado e 20 famílias por escola. Ao dar notas – de 0 a 10 –, a localização da escola ficou com nota 8,7; as condições da sala de aula, 7,9; o espaço do recreio, 7,8; a conservação do prédio, 7,6. As notas mais críticas foram atribuídas ao acesso à informática, que ficou com 2,9, e para a biblioteca, que obteve 6,5.
Na avaliação do presidente do Inep, Eliezer Pacheco, a pesquisa mostra uma série de problemas da escola pública de ensino fundamental, mas revela que ela é vista pelos pais como “algo extremamente importante para a mobilidade social de seus filhos”. Pacheco destaca que os pais pedem acesso à informática e melhores bibliotecas, por exemplo, mesmo que 27% deles não saibam ler e escrever ou não completaram a 4ª série do ensino fundamental. Os pais também disseram que desejam participar mais da vida da escola, o que para o presidente do Inep sinaliza que as escolas devam convocá-los mais freqüentemente.
Comparação – Quando os pesquisadores pediram aos pais que comparassem a escola que eles freqüentaram com a dos filhos, eles disseram que a escola dos filhos é melhor (57,2%); que o ensino é melhor (57,3%); que o professor é melhor (54,7%); e que o filho está preparado para enfrentar a vida (72,1%). O Inep constatou também que os alunos das escolas públicas urbanas vêm de famílias com renda familiar baixa: 53,47% têm renda bruta mensal de até R$ 519,99 e apenas 0,40% têm renda superior a R$ 5.200,00. É crítico o nível de leitura dos pais. Quase 75% deles responderam que nunca ou raramente lêem jornal, livro ou revista, mas que assistir televisão é o principal lazer de 50% dos entrevistados.
Violência – Roubos, brigas, gangues, consumo e tráfico de drogas na escola e nos seus arredores também são problemas que preocupam os pais. Para o presidente do Inep, essa violência relatada não é diferente da que existe na sociedade, “porque a violência é também uma das faces da miséria” que deve ser resolvida com políticas afirmativas, de distribuição de renda e de uma cultura de paz. Eliezer Pacheco lembra que a abertura das escolas públicas nos finais de semana mostra que um ambiente de agregação social limita a violência, revelando a importância dessa iniciativa por meio da parceria entre estados, municípios, o Ministério da Educação em convênio com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).