Outro triste retrato do ensino

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O País voltou a sair mal em mais um estudo comparativo em matéria de educação. Desta vez foi o relatório da Unesco sobre educação infantil. Lançado recentemente em Nova York, ele incluiu o Brasil no ranking de maiores taxas de repetência no ensino fundamental. Apenas o Nepal, na Ásia, a colônia britânica de Anguila, no Caribe, e 12 países da África subsaariana, a região mais pobre do mundo, registraram uma situação pior do que a brasileira. 
 
O pior classificado no estudo foi a Guiné Equatorial, com uma taxa de 40,5% de reprovação entre os estudantes de 1ª à 4ª série. O índice brasileiro foi de 20,6%. O melhor classificado foi a Coréia do Sul, país que se destaca desde 1970 pelos investimentos maciços no setor educacional. Sua taxa de reprovação foi de 0,01%. Segundo a Unesco, embora o Brasil tenha universalizado o ensino fundamental, ele é de má qualidade e não consegue impedir muitos alunos de interromper os estudos para trabalhar em atividades de baixa qualificação. 
 
Além do ensino fundamental, o levantamento da Unesco enfatiza a importância do ensino infantil. O relatório sugere ao País ampliar os investimentos em creches e pré-escolas, como a principal estratégia para elevar o aproveitamento dos alunos no ensino fundamental, especialmente os de famílias de baixa renda. ’O cérebro se desenvolve nos primeiros anos de vida. É na faixa etária de 0 a 3 anos que se formam 90% das conexões cerebrais’, afirma a educadora gaúcha Alessandra Schneider, coordenadora do escritório da Unesco no Rio Grande do Sul. 
 
De fato, as pesquisas científicas há muito tempo destacam a importância da educação infantil no desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social das crianças. Algumas dessas pesquisas, comprovando que quanto mais cedo a criança ingressa no sistema educacional maior é seu aproveitamento escolar e melhor sua conduta social, renderam o Prêmio Nobel de 2000 ao economista americano James Heckman, da Universidade de Chicago. Seus estudos também revelam que as crianças que estiveram em creches e cursaram a pré-escola tendem a obter maior sucesso profissional em comparação com os que foram matriculados no ensino fundamental sem passar pelo ensino infantil. 
 
Embora a Unesco mostre que a América Latina é atualmente uma das regiões do mundo em desenvolvimento com maior cobertura de matrícula na pré-escola, o Brasil ainda tem muito a avançar nesse ciclo educacional. Segundo o IBGE, dos 11,5 milhões de crianças com idade de até 3 anos, somente 14% freqüentam creches. Além disso, das crianças entre 4 e 6 anos, cerca de 30% não são atendidas pela rede de educação infantil. É um número preocupante. 
 
Em nota divulgada após a publicação do levantamento da Unesco, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que o atendimento em creches subiu de 10,6% para 13,45% das crianças com até 3 anos, entre 2001 e 2004. Na pré-escola, diz a nota, o aumento foi de 65,6% para 70,5% da população de 4 a 6 anos, no mesmo período. É um avanço importante, não há dúvida. Mas ele poderia ser mais expressivo se o atual governo, em vez de desperdiçar recursos escassos com projetos de reforma universitária, políticas de cotas raciais e outras iniciativas demagógicas no âmbito do ensino superior, tivesse dado prioridade à educação infantil e fundamental, a exemplo do que faz a Coréia do Sul. 
 
Nos debates que travou com seu adversário, durante a campanha do 2º turno, o presidente Lula por diversas vezes enfatizou a importância do Fundo para a Manutenção do Ensino Básico (Fundeb) para a expansão da educação infantil. Mas, em sua versão original, o projeto não a abarcava. A creche e a pré-escola só acabaram sendo incluídas nesse Fundo, que até agora não foi aprovado pelo Congresso, por pressão de movimentos sociais. 
 
Atualmente, o Brasil destina para a educação 4% do Produto Interno Bruto, um porcentual significativo em comparação com outros países. Mas, como o relatório da Unesco deixa claro, não tem sabido valorizar a educação infantil e o ensino básico, os dois ciclos da educação que são decisivos para preparar as novas gerações para enfrentar o ambiente competitivo do mercado de trabalho, melhorar a distribuição de renda e reduzir a pobreza. 

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