Os desafios do Ensino Médio

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Com grande índice de evasão e baixo nível de aprendizagem, a etapa final da Educação Básica precisa ser reformulada.

 

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O último debate no estande da Abrelivros na Bienal do Livro do Rio de Janeiro trouxe um tema de grande relevância no processo de ensino. Para apresentar os caminhos de melhoria nesta etapa, a sessão “Novas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio” teve como participantes Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação e do movimento Todos pela Educação, e Sandra Regina de Oliveira Garcia, coordenadora geral do Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do MEC. O encontro foi  mediado por José Carlos Monteiro da Silva (Zeca), diretor editorial da Saraiva/Atual e coordenador da Comissão Editorial da Abrelivros.

 

Segundo o moderador, ambos têm vivência em sala de aula, de modo que atuam como dirigentes nas respectivas áreas não só com o olhar técnico e teórico, mas também com o ponto de vista da realidade escolar. Para Zeca, essa visão panorâmica é necessária e importante para que as ações propostas tenham efetividade na prática do ensino.

 

Mozart Ramos iniciou sua fala apresentando a dimensão do Ensino Médio no país. Trata-se de 25.923 escolas, 250 mil turmas, 413 mil professores e 10 milhões de alunos. Esse número cresceu nas últimas décadas. Em 1981, menos de 15% dos estudantes entre 14 e 17 anos se matriculavam no Ensino Médio e, em 2007, o salto foi para quase 50%. Ainda assim, é preciso avançar mais: no Brasil, temos 21 milhões de jovens e adultos com mais de 18 anos que poderiam cursar o Ensino Médio. E esse investimento em estudo gera resultados. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, cada ano de escolaridade no Brasil aumenta, em média, o salário de uma pessoa em 15%.

 

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Mas para manter o aluno na escola, é preciso que ela seja atraente. Cerca de 40% dos que abandonam o Ensino Médio deixam a escola por falta de motivação, pois não encontram ali nada que, na perspectiva deles, tenha ligação e sentido com a vida. Devido à extensão continental do Brasil, a visão de mundo dos estudantes é diferente em cada lugar do país. Desse modo, é preciso considerar as várias juventudes e a escola não pode ser um modelo engessado.

 

De acordo com as mudanças propostas, a organização curricular é composta por uma Base Nacional Comum e outra Parte Diversificada. Os conteúdos devem abordar disciplinas científicas, desenvolvimento das linguagens, mundo do trabalho e da tecnologia, produção artística, além de atividades desportivas e corporais. Dessa forma, todo o ensino deve ser organizado, com atividades integradoras, contemplando os quatro eixos de referência: trabalho, tecnologia, ciência e cultura.

 

Mozart afirmou que essas diretrizes devem orientar os Projetos Político-Pegagógicos (PPP) de cada escola, buscando a valorização da leitura, a aprendizagem criativa, a relação teoria e prática, novas mídias e tecnologias educacionais, estágios e iniciação científica. Para Sandra, cada escola tem autonomia para construir o seu PPP, mas geralmente o documento não representa a respectiva comunidade escolar. As diferentes modalidades de escolas, como quilombolas e indígenas, devem receber também diretrizes de acordo com suas especificidades.

 

A própria estrutura geral do Ensino Médio, segundo os educadores, precisa ser modificada. Hoje, o Ensino Médio Regular é organizado em 3 anos, com 2400 horas, distribuídos em 200 dias por ano. Mas ele pode se organizar em mais de três anos, atendendo às necessidades dos alunos, ou com carga horária maior, de 7 horas. A permanência do professor em horário integral na escola também ajudaria muito a aumentar a qualidade do ensino.

 

Segundo os educadores, a divisão por áreas de conhecimento não modifica o formato de agrupamento das disciplinas. Os componentes, como Língua Portuguesa, Química e Matemática, tendem a ser mantidos da mesma forma, considerando cada vez mais a questão interdisciplinar. A História, por exemplo, precisa ser trabalhada com a Sociologia, com a Filosofia. Assim, o material didático deverá ser construído de acordo com os objetivos das novas orientações curriculares.

 

Mozart lembrou que o Ensino Médio noturno é o mais prejudicado, pois professores e alunos chegam atrasados e saem cedo, de modo que o primeiro e o último horário praticamente não são aproveitados. Como solução, propõe-se que 20% das horas sejam de caráter não presencial para as aulas da noite.

 

Mas para que isso tudo seja viável, é fundamental que o professor seja valorizado. Ele precisa ter sua autoestima elevada, ser bem remunerado e ter condições de trabalho. É preciso que o salário inicial da categoria seja atraente, que haja Plano de Carreira, Formação Inicial e Continuada. Hoje, o professor brasileiro ganha 40% menos do que outros profissionais com o mesmo nível de escolaridade. Outro problema é que muitos professores não têm a formação específica nas suas disciplinas: 61% dos professores de Química, por exemplo, não são formados nessa área.

 

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O material didático deve ser um aliado forte na melhoria do Ensino Médio. Para Sandra, o livro didático é um dos instrumentos pedagógicos importantes entre outros. Mozart afirmou que a formação de professores deve auxiliar nesse processo desde a faculdade. “As editoras precisam levar o ‘cheiro da escola’ para as universidades”, concluiu o educador.

 

 

 

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