O que significa uma criança alfabetizada? MEC vai ouvir professores para saber

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O Ministério da Educação (MEC) vai ouvir professores e professoras para entender o que sabem as crianças que estão alfabetizadas ao fim do 2º ano do ensino fundamental, momento considerado ideal pelas diretrizes nacionais para ter esse nível de aprendizagem. A ideia é que essa pesquisa influencie as políticas do País na área, já que atualmente Estados e municípios usam parâmetros diversos e avaliações próprias para definir a alfabetização. O exames mais recentes mostram que, durante a pandemia, passou de 15% para 34% o índice de alunos que não sabem ler e escrever ao 7 anos no Brasil – os mais pobres foram ainda mais afetados.

“Precisamos definir padrões para saber o que significa uma criança alfabetizada. A pesquisa vai nos dar um norte”, disse o ministro da Educação, Camilo Santana, nesta quarta-feira, 22, no lançamento do programa Alfabetiza Brasil.

A pesquisa será feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), órgão do MEC, com 341 professores que dão aulas no 2º ano de 291 municípios, entre os dias 15 e 23 de abril. Depois disso, segundo ele, o governo federal deve lançar uma política nacional de alfabetização, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O presidente está ansioso. Vamos fazer tudo com muito diálogo e consensos”, completou o ministro.

Aos professores alfabetizadores serão apresentadas questões sobre leitura, escrita e fluência e eles responderão se seus alunos são capazes de realizar. Os profissionais indicados pelas prefeituras para serem ouvidos pelo Inep precisam ter no mínimo cinco anos de experiência com alfabetização e serem conhecidos nas redes pela excelência no trabalho.

O MEC, no entanto, não deixou claro se vai voltar a avaliar as crianças do 2º ano. Uma prova nacional de alfabetização, a ANA, foi realizada pela primeira vez no País em 2016 e depois voltou a ser aplicada nos últimos anos apenas de forma amostral, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Essa prova amostral não serve para nada, é jogar dinheiro fora. Precisamos saber como está a alfabetização em cada município, em cada escola”, afirmou o diretor da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) Alessio Costa Lima.

A cobrança foi feita durante o evento. Em sua fala, o ministro da educação disse apenas que as crianças serão avaliadas, inclusive pela sua fluência em leitura, mas não deu detalhes de como ou quando a prova acontecerá.

O teste de fluência, que mostra em quanto tempo um aluno consegue ler uma quantidade específica de palavras, é comum no Ceará, Estado considerado referência em alfabetização e de onde Camilo foi governador durante oito anos. No entanto, há educadores que rejeitam a prática por acreditarem que ela não demonstra necessariamente que a criança entende o que lê.

A avaliação da alfabetização no Brasil já ocorre há cerca de 20 anos por iniciativa dos Estados e municípios. Ela começou no Ceará e em Pernambuco e hoje está presente em quase todos. “Cada sistema foi estabelecendo o que considerava adequado como desempenho para a criança alfabetizada, mas são muito discrepantes”, disse o presidente do Inep, Manuel Palácios.

Segundo ele, a ideia agora é preencher uma lacuna porque o próprio Inep não havia determinado o que significava uma criança alfabetizada. “Queremos promover um entendimento entre todas as redes e em especial com os profissionais que atuam sobre como interpretar esse objetivo tão importante.” Segundo o Inep, o resultado da pesquisa com professores vai ajudar a indicar na avaliação nacional, o Saeb, o ponto específico em que uma criança será considerada alfabetizada.

Cinco capitais vão concentrar a pesquisa: São Paulo, Belém, Porto Alegre, Recife e Brasília. Um pré-teste da pesquisa foi realizado com professores do Distrito Federal. “São os professores que vão tocar o processo. A construção precisa começar com quem implementa e não de cima para baixo”, disse a secretária de educação do DF, Hélvia Paranaguá, também presente ao evento.

A alfabetização é considerada etapa crucial para o desenvolvimento escolar das crianças. A forma de ensinar a ler e escrever foi tema de polêmica durante o governo Bolsonaro. O MEC na gestão anterior defendia a chamada alfabetização fônica, que se baseia no som das letras, e fez parcerias apenas com prefeituras que aceitassem esse tipo de método. Pesquisas mostram que as melhores iniciativas de educação mesclam métodos – construtivista, fônico, silábico – de acordo com cada etapa da criança, com cada aluno, para garantir uma alfabetização plena.

Publicado por Renata Cafardo – Estadão em 22/03/2023.

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