O que dizem as evidências do novo relatório da OCDE?

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No dia 26 de abril a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fez o lançamento do relatório “Social and Emotional skills for better lives”, que marca o início da fase de divulgação dos resultados da segunda rodada da pesquisa SSES (Survey on Social and Emotional Skills).

A primeira rodada ocorreu em 2019 e contou com a participação de nove cidades de oito países, já a segunda rodada – foco do relatório lançado – foi realizada em 2023 e teve a participação de 16 cidades em 15 países. A SSES tem como objetivo avaliar as competências socioemocionais, sua relevância na vida dos estudantes e examinar fatores que promovem ou dificultam seu desenvolvimento.

A segunda rodada da SSES marca a primeira participação do Brasil enquanto campo da pesquisa principal. Sua implementação foi realizada no município de Sobral (CE), em parceria com a Secretaria da Educação Municipal do município e a Secretaria da Educação do Estado do Ceará. O Instituto Ayrton Senna foi a instituição responsável por implementar e realizar a gestão do estudo no Brasil e a Fundação CESGRANRIO realizou a monitoria de qualidade do estudo, verificando se sua implementação e a coleta de dados seguiu os critérios de qualidade estabelecidos pela OCDE. A coleta de dados no município de Sobral foi censitária e contou com a participação de mais de 93% de todos os estudantes de 10 e 15 anos de idade da rede pública de ensino, seus respectivos professores, diretores e pais/responsáveis.

COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS PARA UMA VIDA MELHORO relatório do estudo explora diferenças entre estudantes de diferentes grupos sociodemográficos, além de abordar a relação entre as competências socioemocionais e benefícios na vida do estudante, como sucesso acadêmico, saúde e bem-estar, entre outros. Os resultados evidenciam diferenças entre estudantes de 10 e 15 anos, sendo que os estudantes mais jovens reportam níveis mais elevados de desenvolvimento em quase todas as competências socioemocionais, exceto empatia e tolerância. Quando se trata de diferenças de gênero, os meninos relatam níveis mais elevados de desenvolvimento em quase todas as competências, exceto determinação, empatia e tolerância. Já em relação a diferenças socioeconômicas, os estudantes de 15 anos de idade em desvantagem socioeconômica relataram menores níveis de desenvolvimento em competências de abertura ao novo e engajamento com os outros.

Em relação ao sucesso acadêmico, os resultados mostraram que quase todas as competências socioemocionais podem auxiliar os estudantes a atingir melhor desempenho em matemática, leitura e arte e que as competências que mais o influenciam são determinação, persistência e curiosidade. Isso quer dizer que o desenvolvimento de competências socioemocionais não ocorre às custas do desempenho acadêmico, mas sim o potencializa. Ainda sobre o sucesso acadêmico, as competências de desempenho de tarefa foram aquelas que mais se mostraram contributivas para diminuição das taxas de faltas e atrasos escolares.

O relatório de pesquisa também evidenciou a relação entre o socioemocional e diversos indicadores de saúde e bem-estar (satisfação com a vida, bem-estar psicológico atual, satisfação com os relacionamentos, imagem corporal, menores níveis de ansiedade em relação a testes e aulas, e comportamentos saudáveis). Os resultados mostraram que diversas competências contribuem para a saúde e bem-estar do estudante, sendo as competências de regulação emocional e entusiasmo aquelas que mais contribuem para melhores indicadores.

A principal mensagem que esses resultados carregam é que todas as competências socioemocionais influenciam contextos de desenvolvimento e estão relacionadas a resultados positivos na vida dos estudantes. Apoiar o desenvolvimento das competências socioemocionais na sala de aula possui relevância não somente para seu aprendizado, desempenho escolar e para que os estudantes se mantenham na escola, mas vai para além do contexto escolar, influenciando a vida dos estudantes positivamente como um todo. Entretanto, para saber onde e como apoiar os estudantes em suas necessidades e desafios é necessário conhecer os níveis de desenvolvimento de suas competências socioemocionais.

As avalições socioemocionais podem oferecer um mapeamento diagnóstico sobre o estado atual das competências socioemocionais dos estudantes e sua relação com desfechos de interesse (como sucesso acadêmico e diminuição da evasão, por exemplo). Esse mapeamento pode atuar como fonte de evidência para a elaboração de políticas específicas às necessidades de uma determinada rede de ensino ou público-alvo, considerando também diferenças entre grupos sociodemográficos. Por exemplo, se uma rede possui uma grande taxa de evasão escolar e o mapeamento diagnóstico aponta uma relação entre a diminuição das taxas de evasão e um conjunto determinado de competências socioemocionais, essa evidência pode contribuir para a elaboração e implementação de políticas de educação integral que tenha como um de seus focos realizar um trabalho intencional de desenvolvimento dessas competências em sala de aula.

Nesse caso hipotético, como saber se o trabalho intencional com essas competências gerou resultados e teve algum tipo de influência sobre as taxas de evasão? Acompanhando o processo e repetindo a avaliação inicial periodicamente. Então, a contribuição das avaliações socioemocionais para as políticas educacionais é tanto atuar como fonte de evidência para entender as necessidades daquele público-alvo, quanto possibilitar o planejamento, o acompanhamento e promover feedback sobre ações que já foram implementadas. Sem a coleta de evidências não temos como saber se as ações tiveram sucesso e porquê.

Os resultados de avaliações socioemocionais, em conjunto com uma boa sistemática de acompanhamento, auxiliam a entender se os resultados almejados pela rede de ensino estão sendo alcançados, se e onde há espaços para melhorias, e a fortalecer as políticas de educação integral, realizando seu contínuo alinhamento com currículos, marcos legais e ações formativas. Então, a avaliação de competências socioemocionais pode ajudar na gestão das políticas educacionais, gerando insumos para que sejam planejadas ações de suporte que respondam às necessidades específicas daquela rede de ensino.

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