Há uma relação direta entre as dificuldades de contratação de mão de obra especializada em um momento de expansão econômica, retratadas em matéria de capa do JC no domingo, 18, e os últimos resultados da avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que colocam Pernambuco em sétimo lugar entre os nove estados nordestinos.
Ou seja, dentro de uma realidade problemática, a qualidade do ensino básico no Estado deixa ainda mais a desejar. Essa relação aparece com maior ou menor intensidade em praticamente todos os setores de nossa economia que vêm experimentando aquecimento nos últimos anos. De engenheiros para montagem industrial a padeiros.
Trata-se de um reflexo do gargalo da formação, em que deficiências de aprendizado se acumulam em um sistema educacional de baixa eficiência, e se tornam dramáticas quando a necessidade pede o complemento do ensino técnico para o preenchimento de vagas de trabalho. Os cursos de panificação e confeitaria, como a maioria dos cursos, exigem o segundo grau – e aí o gargalo aparece, em tempos de boom econômico.
O resultado é o que temos constatado: a tendência de importar mão de obra para dar conta do acelerado ritmo de crescimento. Em Suape, somente o Estaleiro Atlântico Sul, a Refinaria Abreu e Lima e a Petroquimica Suape contabilizam 4,3 mil operários trazidos de fora de Pernambuco e do País. Se parece muito, a
expectativa é que será ainda mais. Cerca de 155 mil empregos qualificados serão gerados no complexo de Suape até 2015, de acordo com a Consultoria Ceplan.
A demanda por pessoal atropelou a capacidade instalada de formação local, em um estado que possui um quinto da população analfabeta. Por um lado, isso garante o nível em que se espera que a economia possa continuar a crescer. Mas, por outro, reduz os benefícios dos empregos qualificados, que pagam melhores salários, e são deslocados da população residente para os grupos imigrantes convocados pelas empresas em decorrência da escassez de mão de obra preparada aqui dentro.
É claro que não se imagina nenhuma reserva de mercado profissional. Mas a naturalidade oficial com que o tema vem sendo abordado é preocupante, por indicar a aceitação do fato como estabelecido. Afinal, para que as oportunidades sejam ocupadas por pernambucanos no futuro, como afirma com otimismo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, teremos que passar por uma revolução educacional – que sequer desponta no horizonte. Vide a nossa nota no Ideb e as dificuldades generalizadas de contratação pelas empresas.
Para romper com o círculo vicioso da incapacitação presente, é preciso agir tendo em vista a dimensão urgente da questão.
De pouco irão adiantar planos de longo prazo para um problema imediato, bem como remendos de última hora, tradicionalmente reforços de português e matemática, que muitas vezes apenas reforçam a incapacidade primeira de um ensino básico satisfatório. Assim, é preferível a implantação de um modelo educacional que assuma a responsabilidade de travar uma guerra contra a desqualificação funcional – inclusive aquela que ronda as vagas de excelência.
É preciso fugir do convencional e buscar experiências de sucesso nesse campo, em outras partes do mundo, como exemplos a serem seguidos com disciplina escolástica. E aproveitar a experiência dos filhos da terra que vêm fazendo o caminho de volta depois de se aventurarem no exterior e em outros estados atrás de melhor condição de vida. Sair do convencional, enfatizamos, inclusive levando em conta outra face do problema: a infraestrutura de ensino.
O conhecimento dos professores, em muitos casos despreparados para a missão formadora da maneira que a sociedade precisa, e a disponibilização de locais apropriados para o aprendizado, até no turno da noite, devem ser compreendidos como fundamentais para a aplicação do novo modelo, na escala requerida pelo trem-bala da economia pernambucana. Sob o risco de vermos a maioria de seus assentos preenchidos por pessoas de outros lugares – o que, sem sinal de preconceito, seria uma pena e uma perda para Pernambuco.