O dever do Brasil para a educação de qualidade

Considerado uma referência no monitoramento público dos dados educacionais do país, o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 foi divulgado na última quinta-feira. Em sua 12ª edição, o levantamento revela distorções e desafios que ainda precisam ser enfrentados. Os problemas são diversos: vão da infraestrutura ao aprendizado.

Segundo o documento, apenas 79% das escolas são atendidas por serviço de coleta de lixo e somente 48,2% estão conectadas à rede de esgoto. Também há deficit na oferta de espaços de aprendizagem, como bibliotecas e salas de leitura, presentes apenas em 47,2% das instituições públicas; assim como de quadra de esportes, em 37% delas; e de laboratório de informática (27%).

Outra informação apresentada no relatório diz respeito à proporção de estudantes com aprendizagem adequada em língua portuguesa e matemática ao concluírem o ensino médio. Os números assustam: 7,7% em 2023 — estatística que engloba as redes pública e privada e é inferior a registros anteriores: 8,3% em 2013 e 10,3% em 2019 (pré-pandemia).

O índice acende um sinal de alerta diante da importância que o ensino médio desempenha na formação dos estudantes e, consequentemente, no futuro que será traçado para o Brasil. Reta final para a entrada em uma universidade ou em outra formação profissionalizante, os três anos dedicados a essa fase dos estudos podem ser definitivos na vida profissional de muitos jovens.

Em 2024, a Política Nacional de Ensino Médio foi instituída, por meio da Lei nº 14.945, com o intuito de reestruturar pontos dessa etapa da educação, com a expectativa, por parte do governo federal e de especialistas, de promover um incremento da carga horária mínima para levar à implementação de um conteúdo mais abrangente. Os esforços, porém, precisam ir além.

O país segue tentando solucionar problemas históricos, como assegurar o aprendizado efetivo, investir na infraestrutura, equipar as instituições, melhorar as condições de trabalho dos educadores, reduzir as desigualdades nas salas de aula e combater a evasão escolar. E esse cenário de entraves complica o avanço em um ponto primordial da atualidade: a introdução da inteligência artificial (IA) nas salas de aula.

Dados da pesquisa Perfil e desafios dos professores da educação básica no Brasil, divulgada em 8 de abril pelo Instituto Semesp — que representa mantenedoras de nível superior — revelam que três em cada quatro educadores aprovam a utilização da IA. O acesso a aplicativos que facilitam o desempenho dos alunos e auxiliam o planejamento dos professores é classificado como positivo. Por outro lado, são levantadas dúvidas quanto a possíveis ameaças ao trabalho dos docentes e o uso de ferramentas, como o ChatGPT, pelos estudantes para a realização de atividades que precisam ser desempenhadas por eles.

Fato é que o país precisa vencer muitas provas para atingir um ensino de qualidade para toda a população. Diante das mudanças do mundo globalizado, ficar à parte de uma educação de ponta representa estagnação social e econômica. O Brasil tem de olhar para as desigualdades e para os problemas com a coragem à altura dos desafios. A educação, essencial para o desenvolvimento, deve estar no foco dos brasileiros. Esse é um dever que o país ainda precisa cumprir.

Menu de acessibilidade