O Brasil no século

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A população foi multiplicada por 10, a expectativa de vida dobrou, o analfabetismo é cinco vezes menor que há 80 anos, a religião católica perdeu terreno, a dívida externa está 810 vezes maior, a inflação do período foi de mais de um quintilhão por cento; foram cometidos mais crimes contra o patrimônio e menos contra a pessoa  
 
No século 20, o Brasil aumentou em dez vezes a população e multiplicou por cem sua riqueza. No entanto, resta o desafio de reduzir a desigualdade entre ricos e pobres. Em 1900, o Produto Interno Bruto (PIB) equivalia a cerca de R$ 1 bilhão, para uma população de 17,4 milhões de pessoas. Em 2000, chegou a R$ 1 trilhão para 169,6 milhões de brasileiros, segundo a publicação Estatísticas do Século 20, lançada ontem pelo IBGE.  
 
O principal desafio, diz o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, “é trabalhar essa riqueza para que a população possa usufruir do crescimento e do desenvolvimento do País“. Em 1960, a renda total dos 10% mais ricos era 34 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Trinta anos depois, a diferença havia saltado para 60 vezes. No mesmo período, o índice Gini, que mede a desigualdade, passou de 0,50 para 0,63. Quanto mais perto de 1, maior a distância entre ricos e pobres. É o que o economista Celso Furtado qualificou ontem de “imobilismo crônico“ da sociedade brasileira. Segundo Furtado, fica claro que “o País que cresce economicamente, mas não se transforma, se deforma“.  
 
Os números – resumo  
 
O Brasil em números: 1.11.694.017.907.650.000% Urbano – Nesses cem anos, o País passou de rural a urbano. Em 1940, 69% da população brasileira estava no campo. Em 2000, apenas 19%. Esse movimento acompanhou a economia do País: a participação da agropecuária no PIB caiu de 45% em 1900 para 11% em 2000, enquanto a da indústria aumentou em quase três vezes (de 11,6% para 28%). Mas é a agropecuária que deve causar impacto no novo século, com a expansão do agrobusiness. Também cresceu o setor de serviços, que chegou ao fim do século com uma participação de 61% no PIB, superior aos 44% do ano de 1900. A urbanização trouxe melhorias na qualidade de vida do brasileiro. O acesso à saúde mais que dobrou a expectativa de vida: de 33,6 anos em 1900 para 68,6 anos em 2000. A mortalidade infantil caiu de 162,4 óbitos por mil crianças nascidas vivas para 29,6 por mil.  
 
Escolas – A expansão das cidades fez crescer o número de escolas, levando o analfabetismo a cair cinco vezes em 80 anos. Em 1920, 65% da população de 15 anos ou mais não sabia ler e escrever. Em 2000, esse índice era de 13%. Ainda na comparação com o cenário mundial, o Brasil pulou de oitavo para quinto país mais populoso nos últimos 50 anos. Ultrapassou o Japão, a Alemanha e a Rússia.  
 
Todas as evoluções sociais acompanharam o crescimento do PIB, que levou o País a ser incluído entre as dez maiores economias do mundo. O PIB per capita do brasileiro cresceu quase 12 vezes de 1901 a 2000, com uma média de 2,5% ao ano, passando do equivalente a R$ 516 para R$ 6.060.  
 
Apesar desse crescimento “louvável“, o economista e técnico de planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) Eustáquio José Reis considera que a expansão da economia brasileira falhou “ao não permitir um progresso social muito maior do que o ocorrido“. Para ele, houve um “crescimento sem qualidade“, já que não ele levou em conta a necessidade de modernização tecnológica ou um planejamento sustentado incluindo a distribuição da renda. O caminho para inverter essa situação, de acordo com Reis, é aumentar a poupança interna, com atração de investimentos para o País que tragam aporte tecnológico. Essas iniciativas, alerta o economista, terão de prever a inclusão social. “Será como assobiar e chupar cana“, diz, acrescentando que “a má distribuição de renda inibe o consumo e aumenta a violência, que impede o crescimento sustentado da economia“. 
 

Cidades crescem, educação melhora

Luciana Nunes Leal

Índices de analfabetismo caíram, enquanto aumentou número de professores e estudantes

A transformação do Brasil, no meio do século passado, de país eminentemente rural para urbano teve reflexo direto no perfil educacional da população. No mesmo período em que as cidades cresciam, acelerou-se a queda nas taxas de analfabetismo, dado mais significativo da análise da educação no País durante o século 20. Hoje, o índice é cinco vezes menor do que há 80 anos.

Em 1920, 65% dos brasileiros de 15 anos ou mais não sabiam ler nem escrever. Em 2000, o índice já havia despencado para 13%. A urbanização fez aumentar o número de alunos, escolas, professores e universidades. Não é coincidência, portanto, que a maior queda do analfabetismo tenha acontecido na década de 50, quando a transição do rural para o urbano se intensificou. Nesse período, o índice de analfabetos caiu 11 pontos porcentuais.

Apesar de todo avanço, o Brasil ainda tem 15,5 milhões de jovens e adultos analfabetos e 35 milhões de analfabetos funcionais, aqueles que cursaram algumas séries do ensino fundamental, mas não entendem o que lêem. O problema ultrapassou o século 20 e hoje a alfabetização de adultos é apontada como uma das prioridades do governo federal.

O Brasil ainda tem mau desempenho na comparação com outros países, inclusive da América Latina. Em analfabetismo, está atrás, por exemplo, da Venezuela, da Colômbia e da Costa Rica, sem falar nos países economicamente semelhantes, como o Chile.

A diminuição no analfabetismo é conseqüência da explosão no número de matrículas no antigo ensino primário (quatro primeiros anos do atual ensino fundamental). “O conjunto de dados mostra a transição de um sistema educacional reduzido, típico de uma sociedade predominantemente rural, para o atual sistema de ensino de massas“, diz o sociólogo Carlos Hasenbalg, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), responsável pela análise dos dados de educação das Estatísticas do século 20.

Urbanização – Num período de 35 anos, que começa em 1933 – quando o País ainda era rural – e termina em 1968, com o Brasil já urbanizado, o número de alunos matriculados nos primeiros anos do ensino fundamental mais que quintuplicou. Passou de 2,1 milhões para 11,9 milhões. “Os fatores demográficos por trás disso são o crescimento populacional e a rápida urbanização, particularmente nas décadas de 50 e 60“, acrescenta o professor.

De fato, se em 1950 a população urbana era de apenas 18,8 milhões de pessoas (36% do total), em 1970 chegava a 52 milhões (56%). Em 2000, a urbanização alcançou 81,1%, com 138 milhões de brasileiros vivendo nas cidades.

Para atender ao aumento da demanda, houve também um rápido crescimento do número de professores de todos os níveis, passando, em 20 anos (de 1933 a 1953) de 80 mil para quase 240 mil. O corpo docente brasileiro chegou ao fim do século com 2 milhões de professores, do fundamental à universidade. Em 40 anos, o número de professores universitários ficou nove vezes maior, passando de apenas 19 mil em 1959 para 173.800 em 1999.

O primeiro anuário estatístico do País – referente apenas à então capital, o Rio de Janeiro – mostra uma realidade inimaginável nos dias de hoje. Em 1907, o primeiro ano com algum registro educacional, apenas 346 estudantes concluíram um curso superior. Em 1912, o número passou para 543. Os meninos eram maioria entre os que completaram o ensino primário nesses dois anos. Já em 1933, a relação se inverteu: 72 mil meninas concluíram o primário, contra 67.600 meninos.

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