Novo livro didático é questionado

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

A coleção História – Projeto Araribá, da Editora Moderna, será o livro mais usado nas escolas públicas do País na disciplina a partir de 2008, ganhando o posto que era do polêmico Nova História Crítica até este ano. Mais de 5,6 milhões de exemplares foram comprados pelo Ministério da Educação (MEC) para turmas da 5ª à 8ª séries. O livro tem linguagem menos coloquial que o anterior e foi elaborado por um grupo de autores. Ao falar da história recente, informa que “o combate à fome é o principal objetivo do governo Lula“ e que “uma habilidosa propaganda política“ transformou Fernando Henrique no “pai do Real“. 
 
O custo dos livros para o governo federal foi de R$ 25 milhões. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do MEC, avalia novas obras e faz compras a cada três anos. Portanto, História – Projeto Araribá ficará nas escolas durante todo esse período. O processo de avaliação é feito externamente ao MEC, e os livros são escolhidos pelo próprio professor da escola pública. O governo centraliza a compra das obras (veja quadro ao lado). 
 
O ministro da Educação, Fernando Haddad, não quis comentar ontem o livro campeão de vendas. E reclamou de “tentativas de querer associar a suposta ideologia do livro à gestão atual do ministério“. “Nenhum servidor participa da elaboração do catálogo e muito menos da escolha dos livros“, afirmou. 
 
CARTÃO DO BOLSA FAMÍLIA 
 
História – Projeto Araribá é uma coleção recente, de 2006, que tem uma concepção diferente, em que não apenas um único autor é responsável pelo conteúdo. O livro é ilustrado com fotos, uma delas com um outdoor da campanha do Fome Zero. Há também uma reprodução de um cartão do Bolsa-Família. 
 
O programa do governo Lula é apresentado como motivo de discussões porque ajuda financeiramente os pobres, mas pode não atingir “a raiz da pobreza“. “Esse livro é muito diferente do outro (Nova História Crítica) e não acho que haja exageros“, diz a educadora da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello. Para ela, a coleção fala dos dois governos de maneira equilibrada. 
 
O capítulo O Brasil na nova ordem mundial começa com a volta das eleições diretas, em 1989, e a vitória de Fernando Collor de Mello. Ao falar do governo FHC, destaca que o desemprego cresceu, mas houve um significativo aumento do número de crianças nas escolas. Diz ainda que Lula seguiu a política econômica de seu antecessor e que, no terreno político, “o governo foi abalado pelas denúncias de corrupção“. 
 
“Em história, não se pode falar de ontem“, alerta o historiador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Marco Antonio Villa. Ele critica o fato de a coleção conter um texto que ocupa duas páginas sobre o Fome Zero. “As bases fundamentais para a construção da análise histórica precisam de tempo. São necessários fortes documentos, história oral, entre outros, para a formação do conhecimento“, completa. Para ele, os governos FHC e Lula deveriam apenas ser rapidamente mencionados no livro. 
 
Para o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares, a história é uma disciplina que pode ter diversas visões, o que a torna difícil de ser avaliada. Ele lembra que o exame internacional Pisa, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e tido como o mais respeitado no mundo, apenas avalia leitura, matemática e ciências. “Não existe um acordo sobre como a história deva ser ensinada“, diz. 
 
A Editora Moderna, que faz parte do grupo espanhol Santillana, foi a que mais vendeu livros ao governo no PNLD 2008. Foram 36,1 milhões de exemplares, de um total de 128 milhões. Também foi a campeã no programa do livro para escolas de ensino médio, com 7 milhões. O governo pagará à empresa um total de R$ 211 milhões. 
 
Procurada, a editora informou que não se manifestaria sobre o conteúdo dos livros.  
 
 
TRECHOS 
 
“Uma habilidosa propaganda política transformou o candidato do governo, Fernando Henrique Cardoso, no pai do real“ 
 
“O combate à fome é o principal objetivo do governo Lula“ 
 
O PROCESSO  
 
Inscrições
: Editoras que pretendem participar do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)inscrevem suas coleções no Ministério da Educação (MEC) 
 
Universidades: Instituições federais que queiram participar do processo se apresentam como voluntárias no MEC. Cada uma fica responsável por uma disciplina. A própria universidade chama professores de várias partes do País para avaliar os livros 
 
Avaliação: Dois professores analisam o conteúdo de cada coleção separadamente. Os livros são enviados sem capa ou qualquer outra identificação do autor ou da editora. Se há pareceres positivos, a coleção é recomendada para ser incluída no guia do livro didático, que será enviado às escolas. Em caso negativo, o material não é incluído 
 
Guia: Cada coleção de livros recomendada é descrita no guia, com destaque para pontos fortes e fracos. Os manuais são enviados às escolas públicas do País para o período de escolha dos professores. Neste ano, havia 19 obras de História entre as opções que poderiam ser usadas em sala de aula 
 
Escolha: Os professores optam pelo livro que pretendem usar e a informação é enviada ao MEC. O governo então faz compra para todas as escolas. Em 2007, o orçamento do PNLD foi de R$ 620 milhões  
 
 
 
ONG critica influência de editoras na escolha
O Estado de São Paulo 
 
A ONG Ação Educativa questiona a influência das editoras na escolha dos livros didáticos pelos professores. A entidade enviou uma carta aos coordenadores do processo no MEC pedindo mudanças, como uma regulamentação mais rígida, pelo governo, das propagandas das editoras. 
 
A ONG reclama da publicidade das empresas em revistas de educação, cujo público-alvo são os professores, no período em que eles escolhem. Em abril, uma norma proibiu as editoras de distribuírem brindes ou vantagens a professores e enviarem representantes às escolas. 
 
 
 
 
Menção ao Fome Zero sai de livro escolar  
Folha de S.Paulo 
 
A editora Moderna retirou do livro “Projeto Araribá – História, 8ª série“, que estará disponível às escolas particulares no ano que vem, transcrição de trecho de documento do Instituto da Cidadania, ligado ao PT, sobre o programa Fome Zero, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003.  
 
Na versão para alunos da rede pública, cujos livros foram comprados pelo Ministério da Educação, consta não só um trecho do documento como a afirmação de que “o combate à fome é o principal objetivo do governo Lula“, conforme informou ontem o jornal “O Globo“.  
 
O texto dos livros comprados pelo MEC diz que “os instrumentos que colocaremos [governo petista] em ação permitirão promover o desenvolvimento, gerar emprego e distribuir renda“. A obra reproduz ainda o logotipo do programa.  
 
O programa Fome Zero desenhado na campanha de 2002 foi, na prática, abandonado em 2003 e substituído pelo Bolsa Família. O livro, que, segundo o MEC, vai ser distribuído às escolas públicas pela primeira vez no ano que vem, é de 2006.  
 
As obras da coleção “Projeto Araribá – História“ são as mais compradas pelo Ministério da Educação no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) de 2008, com 5,7 milhões de exemplares distribuídos aos alunos de quinta a oitava série, ao custo de R$ 25,5 milhões.  
 
A coleção substitui no posto de mais vendido do programa a série “Nova História Crítica“, da Nova Geração, que foi tirada do programa de 2008. A obra, crítica ao capitalismo, chama o ditador chinês Mao Tse-Tung de “grande estadista“.  
 
Os livros são avaliados por especialistas de universidades federais e escolhidos pelos professores da rede pública.  
 
Diferença  
 
As versões do “Projeto Araribá“ enviadas às escolas públicas e às escolas particulares são diferentes. No volume número 9 para as escolas particulares, adaptado à nova organização do ensino fundamental em nove séries, não há o capítulo em que o trecho do documento do Instituto da Cidadania é citado. A edição, de 2007, será colocada à venda ao setor privado para o ano letivo de 2008.  
 
A mudança não poderia valer para a rede pública, uma vez que os livros do programa têm que passar pela avaliação de uma comissão de especialistas, o que ocorre a cada três anos.  
 
Na edição anterior para a rede particular, há, além da transcrição do documento do Fome Zero, comparação do programa com ideais da revolução russa.  
 
A editora Moderna não comentou a suposta propaganda no livro. O ministro da Educação, Fernando Haddad, também não falou sobre a publicação. “O MEC não deve interferir no processo sob pena de recairmos em censura“, disse. 

Edital proíbe propaganda, mas MEC mantém livro
O Globo – Demétrio Weber

O Ministério da Educação (MEC) proíbe que livros didáticos distribuídos pelo governo às escolas públicas façam propaganda político-partidária, mas, como mostrou artigo do jornalista Ali Kamel ontem (02/10) no Globo, o livro Projeto araribá – História – Ensino Fundamental – 8, para estudantes da 8ª série, que será distribuído a escolas públicas, reproduz texto do Instituto de Cidadania, do PT, sobre o Fome Zero – um programa que nem vingou. Para a comissão de avaliadores que orienta as compras do MEC, a obra não está nessa situação.

Leia mais…

Menu de acessibilidade