Novo Ensino Médio: o que você precisa saber sobre a implementação

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Com a pandemia do coronavírus, a implementação do Novo Ensino Médio acabou competindo com agendas mais urgentes, como o replanejamento para as aulas remotas. Mas, mesmo com os imprevistos do último ano, 2021 promete implementar mudanças nas escolas de Ensino Médio. Oito estados planejam buscar a implementação de todas as escolas neste ano. Enquanto outros, estão dando início à reforma com escolas-piloto (veja no infográfico abaixo como está a implementação em todo o Brasil). É o caso do professor Adriano Salvi, da Escola Estadual Elfrida Cristino da Silva, em Itajaí (SC), que entrou no modelo ainda em 2020. “Justo no primeiro ano, quando começamos a testar o novo formato, veio a pandemia. Alguns pontos conseguimos desenvolver, mas competência de colaboração, por exemplo, fica mais difícil a distância”, diz.

O que muda com o Novo Ensino Médio?

Segundo a especialista em Ensino Médio Bruna Caruso, entender como acontecerá o trabalho por área do conhecimento está entre as principais dúvidas dos docentes sobre as mudanças que acontecerão na reforma do Ensino Médio. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) desta etapa de ensino também foi organizada por áreas do conhecimento, o que traz uma “necessidade de olhar para o ensino de uma maneira menos fragmentada e abre a oportunidade para uma integração curricular”, explica Bruna.

Como isso se dará na prática, deve variar de estado para estado. Em São Paulo, cada professor vai continuar tendo seu componente curricular, mas a organização do material didático será por área de conhecimento. “O professor de Física, por exemplo, vai dar uma sequência didática dentro de um material que divide com Química”, exemplifica a especialista.

Outra novidade para fazer a escola mais conectada com a realidade do aluno, é que o Novo Ensino Médio traz a criação do projeto de vida e o foco no protagonismo do aluno. Alguns estados pretendem adotar o projeto de vida como componente curricular, mas é essencial que, independente da opção da escolha, ele seja apresentado de forma transversal no dia a dia, trazendo assim uma mudança estrutural para a escola com foco em criar uma trajetória para os jovens além da escola.

O incentivo ao protagonismo se mostra também na escolha dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio. “Temos aí o desafio de preparar os alunos para fazerem suas escolhas e também preparar os professores para essa mediação”, diz Bruna. Para Adriano, professor na área de Linguagens, essas são boas mudanças que o documento traz. “Antes a gente não discutia questões relacionadas a socioemocionais e agora podemos trabalhar com os sonhos dos alunos”, pontua.

Formação geral e os itinerários formativos

Atualmente, a formação dos alunos do Ensino Médio tem uma carga horária total de 2.400 horas. Com a reforma, as escolas precisam se adaptar até março de 2022 para pelo menos 3.000 horas totais, garantindo 1.800 horas para a formação geral básica, com os conhecimentos previstos na BNCC, e o restante da jornada (no mínimo 1.200 horas) para os itinerários formativos. Cada rede pode escolher até três modelos de eletividade para o funcionamento dos itinerários (veja mais no tópico Quais são os modelos de escolha dos itinerários?).

Carla Cabrero já conhece um pouco do que virá pela experiência na escola particular em que atua. Mas as duas escolas estaduais em que leciona, a Chico Anysio e Gilson Amado, no Rio de Janeiro, embora já trabalhem com as competências gerais da BNCC, ainda terão adequações como o itinerário formativo. “Esse ano vai servir de intensivão para trabalharmos todo esse conjunto de mudanças [trazidas pela reforma e pela Base], ainda mais quando retornarmos para o presencial [no estado]”, diz.

Como está a implementação do Novo Ensino Médio no Brasil?

“É uma implementação que está se dando de forma gradual. Ou seja, algumas redes têm escolhido começar pelo 1º ano do Ensino Médio, outras por escolas-piloto, por exemplo, com os três anos da etapa de ensino”, explica Bruna. Em São Paulo, por exemplo, todos os alunos do 1º ano, em 2021, ingressarão dentro do novo modelo. Apesar do atraso de alguns estados, sabe-se que todos os estados que ainda não entregaram seus currículos, pretendem terminar a escrita até março de 2021.

Quais são os modelos de escolha dos itinerários?

No modelo antigo do Ensino Médio, o aluno não tem caminhos optativos para sua aprendizagem: todos os estudantes estudam os mesmos componentes curriculares ao longo de toda a etapa de ensino. Com a nova proposta, eles devem cumprir um currículo mínimo comum de todas as áreas do conhecimento e ainda terão uma parte flexível, chamada de itinerários formativos. Os itinerários poderão seguir um dos modelos abaixo:

Modelo A: o estudante opta por um itinerário com conteúdos pré-definidos pela escola ou rede. “É uma trilha mais fechada, porque ele pode escolher o itinerário de Matemática, por exemplo, e vai fazer diversos componentes curriculares desta trilha”, explica Bruna. O aluno não tem tanta flexibilidade, mas tem a opção de migrar para outro itinerário ao longo do Ensino Médio, caso deseje.

Modelo B: o aluno faz duas escolhas: a da trilha com componentes mais pré-definidos e, durante este percurso, o aluno escolhe algumas unidades eletivas. “Este formato tem uma intencionalidade muito clara, mas também dá um conjunto de eletivas que o aluno pode combinar de acordo com o interesse dele”, explica Bruna. Este é o modelo que o professor Adriano está trabalhando em uma escola-piloto em Itajaí. “A autonomia do aluno poder escolher seu itinerário é um ganho para sua formação pessoal e profissional”, conta.

Modelo C: chamado de trajetória livre, o aluno escolhe um itinerário e também vai escolher as unidades curriculares que irão compor o itinerário.

Se a rede escolher um modelo, a escola pode seguir outro?

Não, quem determina esse modelo é o sistema de ensino, o conselho do território. Ou seja, uma escola estadual não pode adotar o modelo A se sua rede optou pelo modelo C. “Pelo que tenho visto, o modelo B é o mais escolhido, porque ele permite um aprofundamento, mas dá espaço para escolha do aluno”, pontua Bruna. Segundo a especialista em Ensino Médio, existe um movimento de que as redes ofertem um catálogo de itinerários e as eletivas sejam propostas pelas escolas. “Tudo isso depende do modelo de arquitetura e implementação. É a escolha de cada estado apresentar um catálogo também”.

Com tantas informações pelo caminho é normal que haja grandes expectativas sobre o processo de implementação do documento. Para Bruna, 2021 é o ano de preparar gestores e professores. “A BNCC já traz o que é essencial, então o grande desafio é tornar o Ensino Médio definitivamente atrativo, apresentar itinerários ricos, mas entendendo que a mudança não acontece do dia para a noite”, pontua. Os professores Adriano e Carla concordam que a mudança é como um “trabalho de formiguinha” e que 2021 é só o começo de um Novo Ensino Médio.

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