Muitos livros, mas pouco interesse

O governo brasileiro é o maior comprador de livros didáticos do mundo. Só neste ano foram 120,7 milhões de exemplares para os ensinos fundamental e médio, alfabetização de adultos e edições em braile. Estados e municípios ainda recebem bibliotecas, DVDs, vídeos e outros materiais de apoio aos professores. Ainda assim, a escola brasileira não consegue fazer seus alunos aprenderem ou se interessarem pelas aulas.  
 
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2005 mostram que 1,7 milhão de jovens de 15 a 17 anos não foram à escola naquele ano – 40% disseram que era por falta de vontade de estudar.  
 
Para alguns especialistas, a razão da falta de interesse nas escolas é profunda. “O método de aprendizagem que existe hoje nas escolas é antinatural”, analisa Ben Sangari, presidente do Instituto Sangari, especialista em metodologia de educação. “Em geral, as crianças experimentam, investigam, questionam as coisas”, diz ele. “Mas, quando entram na escola, não aprendem da forma que lhes é natural. O problema não é o professor, o livro, a sala de aula, mas o método.” 
 
Jorge Werthein, ex-representante da Unesco e hoje diretor da Rede de Informação Tecnológica da América Latina, concorda. “Hoje se enfatiza muito a infra-estrutura e se deixa de lado o mais importante, o conteúdo”, diz. “Há formas interessantes e baratas de desenvolver o conteúdo e deixá-lo atraente sem precisar de tantos laboratórios, computadores ou alta tecnologia.”  
 
As opções que o Ministério da Educação vê para resolver esses problemas não fogem das receitas tradicionais: treinar os professores, melhorar a estrutura das escolas, ampliar o material didático. O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado oficialmente na terça-feira, inclui a instalação de laboratórios de informática em todas as escolas. 
 
Hoje, o livro chega a todos os alunos do ensino fundamental. Mas, apesar da ampla distribuição, o MEC pensa em mexer na escolha dos livros e no uso que o professor faz deles. “Estamos discutindo como aproximar o livro das realidades regionais”, diz o secretário de Educação Básica do MEC, Francisco das Chagas.  
 
Além de melhorar o material, ele defende que seja repensada a situação do professor. Com formação irregular – alguns docentes não têm licenciatura, outros lecionam em áreas que não são a de sua formação -, alguns não têm nem mesmo o ensino superior adequado.  
 

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