Metrô mexicano vira biblioteca circulante

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O metrô da Cidade do México lançou no dia 23/01 uma operação de empréstimo de livros, o que transforma as estações em bibliotecas subterrâneas com o objetivo de reduzir a criminalidade e instituir uma atmosfera amistosa para seus milhões de passageiros. 
 
A prefeitura quer distribuir 7 milhões de exemplares nos próximos dois anos. Ela espera que as pessoas devolvam os livros, embora não faça da devolução uma exigência absoluta. 
 
A primeira equipe de voluntários distribuiu 150 livros em poucos minutos. “Basta oferecer para que os livros sumam rapidamente de nossas mãos“, disse Alejandro Camarena, um dos encarregados. 
 
Desses 150, haviam sido devolvidos 45 antes que começasse o horário de maior movimento no final da tarde. A passageira Marta Gaona conseguiu ler 16 páginas e pediu para ficar com o livro até a hora do almoço. Ela planejava devolvê-lo ao voltar para sua casa. 
 
A idéia não é propriamente mexicana. Ela nasceu de discussões entre Leoluca Orlando, ex-prefeito da cidade italiana de Palermo, e a empresa de consultoria de Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York. Giuliani fez estudo sobre a redução da criminalidade que ameaça os 8,5 milhões de moradores da Cidade do México. 

“Estamos convencidos de que as pessoas que lêem passam por mudanças positivas“, disse Javier Gonzales Garza, diretor da Companhia do Metrô. 
 
A tese não chega a ser aceita por todos. “Poderemos em breve ter o mesmo número de delinquentes, mas alguns deles serão um pouco mais cultos“, disse Omar Raul Martinez, diretor de uma editora de livros e revistas. 
 
A Cidade do México não é a primeira a instituir programa de estímulo à leitura em ambientes subterrâneos. Tóquio tem dezenas de pequenas bibliotecas em suas estações de metrô. Os japoneses acreditam que o empréstimo de livros acentue entre os passageiros o espírito comunitário. 
 
Batedores de carteira e ladrões são comuns na vasta rede de trens metropolitanos da Cidade do México, que transporta 4,7 milhões de passageiros por dia e cobra pelo bilhete o equivalente a R$ 0,51. 
 
O prefeito Andrés Manuel Lopez Obrador, um possível candidato presidencial em 2006, talvez tenha propósitos eleitorais ao permitir o empréstimo de livros no metrô, frequentado por uma quantidade maior de pobres. 

De qualquer modo, o projeto de empréstimos coincide com o programa do presidente Vicente Fox de fazer com que os mexicanos leiam mais, por meio de ampliação de bibliotecas e subsídios maiores a livros escolares. 

Embora o índice de alfabetização seja superior a 90%, pouca gente lê, em parte porque a pobreza impede a compra de livros. É por isso que o projeto do metrô tem como objetivo criar 500 mil novos leitores. 
 
Os livros não são comprados com dinheiro público. O dinheiro vem de uma empresa privada que tem a concessão dos espaços de propaganda nos trens e estações. 
 
A prefeitura encomendou uma coletânea que traz trechos em prosa e verso sobre a própria Cidade do México. O primeiro texto é de autoria de Carlos Monsivais, um dos mais proeminentes escritores mexicanos, que narra o modo como, em 1985, um terremoto que atingiu seriamente a cidade fez surgir uma rede de voluntários para socorrer as vítimas.
 
Monsivais, um passageiro frequente das linhas de metrô, aceitou o pagamento simbólico de R$ 850,00 pela cessão de direitos autorais e diz acreditar que seu gesto terá um retorno cultural positivo. 
 

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