Mercado editorial: Cautela marca cena do livro infanto-juvenil

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Em clima de exuberância e vivacidade, começou a 2ª Feira do Livro Infantil, Juvenil & Quadrinhos de São Paulo. Espera-se que, até o dia 14 de agosto, quando se encerra a feira, mais de 120 mil pessoas, entre pais e filhos, professores e estudantes, tenham se atravancado em seus corredores e vasculhado esse específico universo de livros. As vagas para excursões escolares, num total de 73 mil alunos, já se esgotaram há quase um mês, e a lista de espera desde então não parou de crescer. 
 
Mas qual a força desse mercado editorial que se estima mover tamanha multidão? Um segmento em expansão, com curva de vendas vertiginosamente crescente? Não. Excetuando-se momentos de festa e feira, o clima é de estagnação e cautela. Já faz uma década que a expansão desenfreada desse mercado, iniciada com o surgimento de importantes autores na década de 1970 e a adoção em massa de seus livros nas escolas, já não se verifica nas estatísticas. Mais do que isso, hoje ainda se lamenta uma possível dependência excessiva do setor em relação às compras governamentais, destinadas às escolas públicas. 
 
Uma olhada nos números de exemplares produzidos pode dar a dimensão dessa grande participação governamental. Em 2003, quando as compras do Ministério da Educação (MEC) se atrasaram e os números não computaram essas vendas, a produção foi de 20,7 milhões de exemplares. No ano anterior, quando o governo fez uma compra mais generosa do que a habitual, a produção foi quatro vezes maior: ultrapassou os 85 milhões. 
 
Alguns dos escritores responsáveis pelo boom de décadas atrás são os que mais se alarmam com a situação. Pedro Bandeira, um dos autores mais vendidos do Brasil e muito freqüentemente contemplado pelas compras do MEC, critica o fato de elas serem feitas “de cima para baixo“: “O problema é que não são decididas pelo gosto da professora e dos alunos, mas por um burocrata do governo“. 
 
Ziraldo, cujo livro “O Menino Maluquinho“ já está na 80ª edição e ultrapassa os 2 milhões de exemplares vendidos, não critica as compras governamentais, mas observa problema semelhante. “O setor depende demais da adoção nas escolas, públicas ou particulares. E o professor, que muitas vezes não é leitor, só adota livros dos autores consagrados. A gente vai ficando estratificado“, diz. 
 
Júlio Emílio Braz, por sua vez, autor mais jovem que os outros dois, mas já com 128 livros publicados e lançando na Feira “Esperando os Cabeças Amarelas“ (Arx Jovem), compartilha a visão de Bandeira e acrescenta que, nas compras do MEC, há uma restrição de editoras. Mas ressalva: “Mesmo com todos os seus vícios e imperfeições, essas compras ainda têm um lado bom, que é o fato de manterem o mercado“. 
 
As editoras 
 
Algumas editoras, entretanto, descreditam o MEC de tal importância. A própria diretora do grupo editorial Siciliano, que comanda a Arx Jovem, nega qualquer dependência desse segmento, explicando que essa realidade se limita ao setor de livros didáticos: “Ninguém lança livro de literatura pensando que vai entrar na lista do governo“, diz Janice Florido. 
 
“A compra do governo é uma loteria. Ele compra de cinco ou dez editoras. Um ano você pode estar dentro e outro, fora. É uma variável incerta“, acrescenta Bruno Lerner, da Melhoramentos. Quanto à situação do mercado de infanto-juvenis, afirma que “está estacionário, mas ao menos mais imune às tempestades, pelo bom trabalho de incentivo à leitura que se faz nas escolas“. 
 
Alfredo Chianca, diretor-geral da Abril Educação, que comanda Ática e Scipione, dá um tom mais negativo: “Não se pode falar em retração, mas o mercado de infanto-juvenis está estável em um patamar abaixo do esperado“. 
 
Governo 
 
O coordenador do Programa Nacional do Livro e da Leitura, Galeno Amorim, afirma que as compras governamentais continuarão existindo, mas recomenda: “É imprescindível que o setor privado desenvolva outras saídas. Até porque, em momentos que os governos não compram, as editoras correm o risco de sofrer baques violentos“. 
 
 
 
Evento contempla pais, educadores e crianças 
Folha de São Paulo  
 
Dez mil m2, estandes de 150 editoras, 50 mil títulos, dos quais 35 mil são obras de literatura infanto-juvenil. Abundância e grandeza: esses são alguns dos princípios norteadores da 2ª Feira do Livro Infantil, Juvenil & Quadrinhos de São Paulo, que começa hoje e vai até o dia 14 de agosto, no prédio da Fundação Bienal, no parque Ibirapuera. 
 
Os livros e seus inúmeros lançamentos, entretanto, não serão as únicas atrações da feira. Professores e pais que a visitarem poderão deixar suas crianças se perderem por entre brinquedos e diversões variadas e compenetrar-se em palestras e debates, para pensar se a educação dos meninos perdidos caminha nos rumos certos. Esses espaços estão, neste ano, bastante delimitados: Arena Infantil e Arena Universitária. 
 
Na primeira, um espaço de 200 m2, uma programação que se estende das 10h às 18h -com variação em alguns dias- contará com narração de histórias, peças de teatro, apresentações com fantoches e oficinas criativas, de histórias em quadrinhos e origami, por exemplo. Também para as crianças, um lugar separado, com uma brinquedoteca, terá a tutela do Instituto Ayrton Senna. 
 
Já na Arena Universitária, haverá palestras pagas (R$ 12), que fornecerão certificado e atividades abertas gratuitamente ao público. Do primeiro caso, são destaques os educadores Nelly Novaes Coelho, que abre as atividades hoje, às 10h, com o tema “Escrever e criar é só começar“, e Rubem Alves, colunista da Folha, que dá palestra na segunda-feira, às 18h. Da programação gratuita participarão, entre outros, os escritores Marçal Aquino, e o também colunista da Folha Fernando Bonassi, no dia 9, às 18h. Bonassi lançou neste ano livro infantil. Todas as palestras duram duas horas. 
 
Quanto às HQs, ficam a cargo do já tradicional FestComix, maior evento de quadrinhos de São Paulo, que terá edição especial na feira. Haverá também a exposição “Super-Heróis entre Nós“, com mais de cem obras raras, desenhos originais e exemplares autografados. 
 
As informações detalhadas de programação, preços promocionais (como a gratuidade para quem vai fantasiado) e horários estão em www.flijq.com.br. O acesso ao local foi facilitado em parceria com o Metrô. Informações em www.metro.sp.gov.br.  
 
 
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2ª Feira do Livro Infantil, Juvenil & Quadrinhos 
Quando: de hoje a 14/8. Seg. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 10h às 21h  
Onde: Pavilhão da Bienal – Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, SP)  
Quanto: R$ 7; entrada franca para menores de 12 anos, maiores de 65 e profissionais de ensino  

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