“Materiais didáticos têm impacto direto nos resultados de aprendizagem”

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A Diretora do Instituto Reúna, Kátia Smole, destacou, em entrevista a Abrelivros em Pauta, os principais desafios do livro didático e as novas tecnologias no Brasil. Para ela, existem importantes pontos: “A adaptação às mudanças constantes no ambiente de aprendizagem, no online e presencial, são desafios que devem ser levados em conta no processo de formação do aluno”, afirmou. Em complemento a isso, Smole indica que nova proposta de Ensino Médio auxiliou neste processo. “Quando entrou em vigor, o EM trouxe a possibilidade de a formação interagir pela internet, hibridamente, com os itinerários formativos”, ressalta.

Quais são os desafios da aprendizagem com o avanço do ensino híbrido, do digital e as novas tecnologias?

Algumas possíveis dificuldades de aprendizagem com ensino híbrido são, em primeiro lugar, a falta de acesso adequado à tecnologia. Alunos que não possuem acesso a dispositivos eletrônicos ou à internet não conseguem participar das aulas online. Outros fatores como a difícil adaptação às mudanças no ambiente de aprendizagem, no online e presencial, devem ser levados em conta no processo de formação. Autodisciplina, acompanhamento no ritmo de aulas, ao vivo ou online, e a falta de interação pessoal com professores também podem afetar a motivação e engajamento desses estudantes.

Quais fatores contribuíram nos últimos anos para chegarmos ao patamar que o Brasil se encontra?

O principal foi a evolução natural da tecnologia, estamos hoje falando da Inteligência Artificial, mas o avanço do acesso, apesar de não ser ainda para todos, também contribuiu. É importante dizer que os livros didáticos sempre cumpriram um papel com a educação híbrida. Na escola sempre usamos o blended, a mistura de tipos de materiais.
Apesar disso, a nova proposta de Ensino Médio auxiliou nessa mudança atual, inclusive a ponto de estar sendo discutida no Conselho Nacional de Educação. Quando a lei entrou em vigor, trouxe a possibilidade de a formação interagir pela internet, hibridamente, com os itinerários formativos. Destaco ainda a capacidade de adaptação das escolas ao distanciamento causado pela pandemia. Administrar o ensino nesse período trouxe muitos problemas, mas fez também os professores olharem além da própria aula, com a utilização de diversos recursos tecnológicos.

Existem tipos de matérias didáticos que geram melhores resultados?

Sem dúvida. As pesquisas mostram que materiais didáticos ajudam bastante na aprendizagem, o que elas não mostram é qual seria o melhor tipo. Existem recursos como vídeos educacionais, jogos educativos e simulações e modelos, que podem também ser ferramentas poderosas para entender conceitos complexos e visualizar processos e fenômenos. E aqui podemos falar dos livros interativos, que incorporam ainda recursos multimídia e auxiliam o envolvimento com o conteúdo.

É preciso ter uma visão pedagógica sistêmica, que não está somente previsto no material. Os conteúdos didáticos precisam estar alinhados ao tipo de proposta que o professor direciona em sala de aula, do quanto a aula é problematizada e como esse conteúdo está alinhado àquilo que o aluno precisa aprender. Nenhum material sozinho vai garantir essa aprendizagem, sem essa avaliação potente do professor.

O estudo Papel e Digital: Pesquisa sobre a eficácia dos materiais didáticos”, publicado no Brasil pela Abrelivros, traz pesquisas que mostram como a ins erção dos materiais didáticos por meios digitais e como o livro impresso continua sendo importantes instrumentos de aprendizagem. Quais são as vantagens de cada um no seu olhar?

Os livros didáticos na versão impressa podem oferecer diversas vantagens na aprendizagem, com a compreensão mais ampla do conteúdo. Entre elas estão a referência rápida de conceitos e temas, a consistência no ensino, o autodidatismo, o desenvolvimento de habilidades de leitura, e o aprendizado permanente. Já os livros didáticos digitais apresentam fatores como economia, geralmente são mais baratos do que os impressos. Facilitam ainda a interatividade do conteúdo, a mobilidade, com a possibilidade de acesso em qualquer dispositivo com conexão à internet, e a atualização constante do material, especialmente em áreas como ciência e tecnologia. Existem outros atributos também, como a personalização e o meio ambiente, pois não precisam ser impressos em papel, economizando recursos naturais e reduzindo a pegada de carbono.

Como incorporar essas novas soluções nos matérias didáticos?

Precisamos superar alguns conceitos, um deles é de que o livro didático digital é um PDF do impresso. As nossas pesquisas no Instituto Reúna têm mostrado que não se trata disso. Assim como, ainda, existe a ideia de que os recursos digitais estão separados do livro físico. O próprio PNLD faz essa separação no edital, tratando como complemento. Uma pesquisa do Reúna (https://www.institutoreuna.org.br/conteudo/livros-didaticos-digitais-pelo-mundo) mostra que em países como Estônica, Estados Unidos e Holanda, a superação dessa ideia já é realidade. Conectividade e acesso aos equipamentos também precisam avançar.

Precisamos também de uma maior integração entre o MEC com as editoras, Edtechs e autores, como nosso estudo mostrou que vem acontecendo em outros países. Isso permite encontrar soluções tecnológicas, pedagógicas, de direitos autorais etc. Observamos ainda que materiais didáticos têm um impacto direto nos resultados de aprendizagem. Se os docentes não possuem bons conteúdos, fazem buscas online em materiais, muitas vezes, de qualidade inconsistente. Os professores gastam de 7 a 12 horas por semana procurando e criando recursos instrucionais, de uma variedade de fontes nem sempre seguras. Fornecer bons materiais que apoiem o professor a ensinar e o estudante a aprender é de alta relevância. Isso, felizmente no Brasil, é possível em um trabalho que tenha coerência pedagógica sistêmica e coordenado entre MEC e editores.

Demais indicações de estudos do Instituto Reúna:

O PNLD e o uso de materiais didáticos no Brasil – https://www.institutoreuna.org.br/conteudo/o-pnld-e-o-uso-de-materiais-didaticos-no-brasil

Seminário Internacional: “Novas Perspectivas para os Materiais Didáticos e o Papel do PNLD” – https://www.youtube.com/watch?v=tciFvbxv2qI

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