Livro sob encomenda vira arma contra fraude

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É um livro diferente. O conteúdo? Escolhido a dedo, apenas o que interessa. É assim que uma instituição educacional e algumas editoras brasileiras começam a driblar a fraude que erodiu o mercado de livros técnico-científicos, um problema que cortou 10 mil empregos e R$ 400 milhões em receita, valor igual ao mercado formal, diz a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR). 
 
A Anhanguera Educacional, mantenedora de dez faculdades no interior de São Paulo, com 80 cursos, transformou o problema em um novo mercado para as editoras. Criou neste ano o Programa Livro-Texto. Em vez de obrigar os alunos a tirar cópias de livros, criou uma parceria com quatro editoras que fazem tiragens “personalizadas“ para as disciplinas da instituição. Novas editoras devem ser convidadas a participar da iniciativa, considerada uma saída para o combate ao problema. 
 
O acordo já viabilizou a tiragem de 32 mil exemplares. Quatro livros foram publicados conforme a demanda da Anhanguera Educacional, dois deles uma espécie de livro-frankenstein, montados com textos de diferentes publicações. Outros quatro foram encomendados para o segundo semestre. “Há uma disciplina comum em vários cursos que trata do desenvolvimento profissional dos alunos. Não existe no mercado um só livro que reúna textos considerados relevantes para a disciplina. Criamos um livro personalizado, com todo o conteúdo que achamos importante. As editoras cotizaram-se e lançaram em conjunto um livro-texto para nós“, explica Antonio Carbonari Netto, presidente da Anhanguera Educacional. O resultado é que os textos reunidos num único livro renderam uma tiragem de 9 mil exemplares. 
 
A idéia ataca o foco do problema da pirataria em universidades: o custo dos títulos e o número de livros necessários ao acompanhamento da disciplina. O Programa Livro-Texto da instituição mantém o seguinte acordo com as editoras: oferece escala nas tiragens e exige como contrapartida o menor preço possível. Para se ter uma idéia do desconto obtido a partir do preço de capa, um dos oito livros encomendados para os alunos tinha valor, em livraria, de R$ 68. Pelo acordo, o valor final para o aluno foi de R$ 12, divididos em três parcelas de R$ 4, no boleto. Outra publicação tinha valor de R$ 108 na livraria. O preço final baixou para R$ 26, também parcelado no boleto da mensalidade. 
 
A meta da instituição é, além de oferecer o livro-texto para as disciplinas comuns, criar obras específicas para as matérias mais avançadas dos cursos. Até o ano que vem, o universo de obras no Programa Livro-Texto pode chegar a 60 títulos. Tudo legal, com a devida autorização dos autores para eventuais desmembramento da obra original. Quem é remunerado? A editora, pelos direitos de edição, e o autor da obra. 
 
Quatro editoras participam do projeto: a americana Pearson e as brasileiras Campus, LTC e Saraiva. Segundo Henrique Farinha, diretor editorial universitário e de publicações eletrônicas da Editora Saraiva, a iniciativa é relevante por um motivo simples: incorpora ao mercado quem não comprava livros. Até agora, a grande maioria dos universitários adquire os conteúdos de que necessita de forma ilegal. A idéia é apontada até pela própria ABDR como uma forma eficiente de combate à pirataria universitária. 
 
“É um novo mercado, a partir do fato de que traz à legalidade um consumidor que não existia. Acho que haverá novas universidades envolvidas em projetos semelhantes. Isso pode dar escala, pois permite que o livro tenha um preço mais baixo e cria um mercado regular, com pagamento sobre os direitos de conteúdo, dos autores e de edição“, explica Farinha. Segundo o diretor da Saraiva, ainda é um negócio pequeno, mas “com tendência a ganhar corpo“. 
 
O fator preponderante para o avanço da idéia é o preço. Segundo Farinha, o custo por página do livro-texto é ligeiramente maior que uma cópia, cujo valor varia entre cinco e sete centavos de real. Segundo o presidente da ABDR, Enoch Bruder, a iniciativa faz parte do leque de opções para o combate à pirataria nas universidades. Mas, para o desenvolvimento do negócio, é preciso o “planejamento das universidades“ na escolha dos livros. 

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