Livro Escolar: meu, seu ou da sociedade?

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A presidente da União dos Professores Públicos no Estado – Sindicato (Uppes), Teresinha Machado da Silva, é uma das defensoras da idéia de que os estudantes possam ficar, definitivamente, com os livros.


 
 Que é preciso cuidar bem dos livros e que eles são um bem precioso, isso ninguém discute. Mas quando, todo início de ano letivo, entra em cena a campanha do Ministério da Educação (MEC), através pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para que os alunos do ensino fundamental, em todo o país, que receberam os livros didáticos enviados pelo governo preservem bem o material para que outras crianças possam aproveitá-los, as posições se dividem. 

 

Para a presidente da União dos Professores Públicos no Estado – Sindicato (Uppes), Teresinha Machado da Silva, a intenção do ministério é poupar. “Essa medidada adotada pelo MEC é mais uma forma de economizar com algo que é muito importante, que é a educação. É preciso investir mais na área”, ressalta a educadora. Teresinha destaca que, para o aluno, faz diferença ele ser o dono do material didático. “Estive conversando com vários psicólogos sobre este assunto.

 

Eles concordam que o livro deve ser do aluno, para que ele se sinta à vontade para manusear o material. Se ele quiser grifar, ele poderá; se quiser escrever no livro, terá liberdade para isso. Esses fatores serão importantes para que o aluno tenha seu interesse despertado pelos livros, e ainda para que desenvolva amor pela leitura e o estudo. E até, quem sabe, ajudar a família, em alguns casos com integrantes analfabetos, a estudar também”, acredita a educadora, que completa: “Devemos lembrar que as crianças têm um amor imenso pelo seu material escolar e ajuda a desenvolver esse afeto o aluno ter o seu próprio material”, salienta.

 

Em uma reunião com o secretário executivo adjunto do MEC, Francisco Paixão das Chagas Fernandes, em Brasília, a presidente da Uppes levou esta reivindicação. “Se os gestores da Educação ouvissem os pais e alunos, veriam que é melhor para o aluno ficar com o material. Infelizmente, não foi tomada nenhuma providência. Continuam pedindo para devolver os livros”, critica. “Não é uma questão consumista, de posse, mas de valorização. Se ele quiser doar, que doe; mas que seja uma opção do aluno e não um assunto de governo”, aponta.

 

Já o professor Wanderley Quêdo, presidente do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio) tem posição contrária. “Os livros devem ser conservados e repassados. Sou favorável a essa campanha do Ministério da Educação”, conta. Para o presidente do Sinpro-Rio, a necessidade de permanecer, em definitivo, com o livro tem a ver a sociedade de consumo. “Temos que combater essa visão consumista, de produtos imediatistas, que estimula a visão de que cada um deve ter o seu”, disse.

 

Lembrando seu período escolar, Quêdo aponta sua experiência pessoal no assunto. “Nos meus anos escolares, utilizei livros repassados por algumas primas, que estavam algumas séries adiantadas em comparação a mim. Lembro bem que eram livros que passavam pela família. Isso é uma questão importante, que deve ser incentivada”, ressalta. Na visão do professor, o fato de o estudante não ficar com o livro não irá modificar a relação do estudante com o material ou atrapalhar o aprendizado. “O livro didático é um recurso extra de consulta e de trabalho”, pondera. “Ele não é o centro, o centro da aprendizagem é o professor e a metodologia. O livro didático é uma referência de conteúdos obrigatórios, um meio, mas não o único. Uma sala de aula vai além disso e o professor deve dar ao aluno outros instrumentos para pesquisa, além dos livros”, acredita.

O educador salienta também que o livro didático, como fonte de conhecimento, envelhece rápido, mas não o suficiente para tornar-se inútil. “As coisas não mudam tão rapidamente assim. Se tivermos um livro didático com vida de cinco a seis anos, o professor vai fazendo as atualizações através de pesquisas, de entrevistas, de visitas a locais, de laboratórios de universidades. Há várias maneiras de fazer a atualização do conhecimento”, disse. 
 

“Existe tarefa do Estado, mas também do cidadão”
 
Para ele, atualmente, há uma grande influência da indústria editorial e que deve ser levada em consideração nesta discussão. “Ela faz com que o livro se torne supérfluo, descartável. Colocam dentro dos livros uma série de exercícios, por exemplo, que poderiam ser feitos no caderno”, comenta. “Sem falar que essa produção toda, envolvendo papel, é antiecológica, antiambiental e profundamente consumista. Um professor inteligente, com cultura e atualizado, quando pega um livro desses, trabalha a visão historiográfica, a visão de mundo e de ambiente. O livro didático ainda é importante, mas não tem esse papel todo não.

 

O centro do processo, repito, ainda é o professor”, frisa. Para Quêdo, o aluno que repassa um livro aprende que o conhecimento é dinâmico. “O livro contém informação, e conhecimento não é informação: é o que se constrói no cotidiano”, enfatiza. Já a professora de História do Colégio Pedro II e ex-presidente da Associação de Docentes da instituição, Ana Ferreira, é mais amena ao analisar a situação. Ela destaca que, em primeiro lugar, a tarefa de propiciar o acesso ao livro escolar é essencial. “A disponibilização de livros para crianças na escola é fundamental, especialmente na escola pública, e penso que essa é uma das tarefas das políticas públicas de educação”, destaca.

 

Além disso, a professora defende a responsabilidade compartilhada nesse processo. “Mas também vejo com bons olhos campanhas que transfiram parte da responsabilidade, que incentivem iniciativas que não são do poder público. Elas são importantes. Existe a tarefa do Estado, mas também há a tarefa do cidadão”, afirma.

 

“A entrega dos livros pelo poder público não precisa anular a iniciativa da escola, do cidadão. A tarefa é pública, primordialmente, mas acho que toda a sociedade deve se envolver”, defende. O aproveitamento do material didático, para a professora de História, não tem sua atualidade totalmente prejudicada.

 

“No material didático, a princípio, o que está escrito não é uma verdade e não deve ser considerado como a única possibilidade. Detectar o que, no livro, não corresponde mais à atualidade é também uma tarefa. A idéia é usá-lo não como fonte de verdade, fonte de saber, mas sim como um material, como todos os outros disponíveis, passível de uma leitura crítica, que pode propiciar debates”, argumenta.

 

Campanha foi iniciada em 1999

 

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é voltado para o ensino fundamental público e existe sob outra denominação, segundo o ministério, desde 1929. Já a campanha para conservação e repasse do livro didático entre alunos do ensino fundamental, em todo o país, foi iniciada em 1999. Atividades como o “Dia do Encapamento”, criado por algumas escolas que anexaram na contracapa dos livros uma ficha com um histórico pequeno de quem o utilizou no ano anterior, também colaboraram, segundo o ministério, para despertar nos alunos e pais o interesse pela conservação. De acordo com o MEC, a partir de 2001, o PNLD ampliou sua atuação e iniciou, gradativamente, o atendimento também a alunos portadores de deficiência visual, que passaram a receber livros didáticos em braille. Em 2004, passou a atender também os estudantes portadores de necessidades especiais das escolas de educação especial públicas, comunitárias e filantrópicas, definidas no censo escolar, com livros didáticos de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia e dicionários. O investimento para 2009 foi de R$302,6 milhões, só com a compra de livros, não incluídos os gastos com distribuição.

 

Dicas de preservação 

 

O técnico em biblioteca da Universidade do Grande Rio (Unigranrio), Marcelo da Silva Lima, considera a campanha do MEC pela doação e repasse de livros, uma boa iniciativa. “Economiza recursos financeiros, não agride a natureza na busca de matéria-prima, e é também um modo de educar o estudante”, avalia.

 

Marcelo fez curso de preservação e restauração na Fundação Biblioteca Nacional e dá algumas dicas para pais e estudantes conservarem seus livros em casa: – Preserve o livro do calor excessivo e luz e não guarde o material perto de janelas; – Evite ao máximo que o livro receba poeira; – Manuseie o livro pelo meio e nunca pelas pontas, para não danificar a lombada; – Evite usar o livro quando estiver perto de alimentos, para não gerar fungos e atrair insetos. Evite comer quando estiver lendo; – Sempre guardar o livro em pé, para que não fique torto nem amasse; Se puder, use suportes para apoiar o livro (chamados bibliocanto); – Encapar o livro pode ajudar a conservá-lo melhor, mas o ideal é comprar capas prontas; – Para limpar, escove as dez primeiras folhas e as dez últimas. Use a tricha, uma escova semelhante à escova de sapatos, à venda nas papelarias; – Se precisar colar o livro, use colas mais fáceis de serem removidas, como a cola carbox metil-celulose. Evite usar durex e a cola branca, já que ela atrai baratas; – Se for necessário costurar as folhas do livro, use a linha Urso zero, disponível para aquisição em papelarias emagazines.

 

Outras dicas sobre restauração podem ser obtidas também no site da Fundação Biblioteca Nacional: www.bn.br
 

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