Literatura nacional conquista o Brasil

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A literatura no Brasil está cada vez mais brasileira. Na trilha da música nacional, o mundo das letras está dominado pelo sotaque tupiniquim – e todas as suas inúmeras variações. Dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) indicam que aproximadamente 80% das vendas literárias na categoria de não-ficção no país são de autores do próprio Brasil. Os números revelam um mercado em estado de amadurecimento e capaz de acompanhar uma outra tendência da gestão federal: a de exportação – no caso, de direitos autorais. Na Feira de Frankfurt, que começa na quarta-feira, o Brasil terá a maior quantidade de editoras (cerca de cem) expondo no mais importante encontro do setor.  
 
“Os alicerces dessa evolução estão sendo fundados a partir dos últimos dez anos, quando o Brasil passou a formar seus próprios autores. Carlos Heitor Cony, Ruy Castro e Luís Fernando Veríssimo já eram autores reconhecidos, mas estavam nas redações. Agora eles são best-sellers, como resultado desse amadurecimento“, diz Marino Lobello, vice-presidente da CBL. 
 
A última década também, de acordo com Lobello, foi responsável por lançar novos autores brasileiros, que além do sucesso doméstico, estão tendo visibilidade internacional. “Até pouco tempo, quando se falava em literatura brasileira no exterior só se pensava em Jorge Amado. Hoje há uma infinidade de outros autores com espaço nas estantes das livrarias“, observa o vice-presidente. 
 
De 1990 para 2001, segundo a CBL, o número de títulos publicados anualmente quase dobrou e o faturamento das editoras saltou mais de R$ 1 bilhão. O faturamento do setor de livros no ano passado cresceu em relação ao ano anterior – 8%, se consideradas as compras governamentais, e 6% se consideradas apenas as vendas ao mercado. Mas mesmo que o resultado seja positivo, o crescimento fica abaixo da inflação do período (8,95%, segundo IPCA), mas próximo da queda do Produto Interno Bruto (PIB). 
 
Uma outra melhoria do setor de livros, que movimentou em 2003, cerca de R$ 2,37 bilhões no Brasil, é seu aprimoramento no acabamento das publicações. “Houve um grande salto tecnológico, que nos permitiu trabalhar com uma excelente qualidade“, analisa Lobello. 
 
O mercado brasileiro de livros também encontrou na comercialização pela internet uma aliada. Pesquisa realizada pela E-Bit, empresa de dados do setor, mostra que a venda de obras literárias em lojas virtuais aumentou 29% em 2004 na comparação com o mesmo período de 2003. Livrarias que não vendiam antes pela internet estão com projetos de implantação do sistema. Para a E-Bit, as vendas de livro em sites ampliaram 100% e empresas já registram em 2004 faturamento maior do que o realizado ao longo de 2003. 
 
Apesar das boas notícias, há ainda muito a ser alcançado. De olho nas perspectivas futuras, empresários, autoridades e profissionais do setor de livros do Brasil estarão reunidos em Porto Alegre no 32º Encontro Nacional de Editores e Livreiros para debater assuntos relacionados com o negócio do livro, suas tendências, perspectivas e desafios para os próximos anos. 
 
O evento vai integrar a programação da 50ª Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre entre os dias 27 e 30. Promovido pela Câmara Brasileira do Livro, o encontro colocará em pauta temas como empreendedorismo, propaganda e mercado editorial, política do Ministério da Cultura, entre outros. “Apesar da maturidade do setor de livros no Brasil, somos afetados pelas oscilações da economia, como todos os segmentos. Por isso precisamos ser mais pró-ativos“, comenta Marino Lobello. 
 
As ações da indústria do livro no Brasil estão em três frentes prioritárias: estrutural, cultural e econômica. Do ponto de vista cultural, a idéia é ampliar quantidade de bibliotecas e livrarias, em número muito inferior ao tamanho geográfico e populacional do país. Ao todo são cerca de 500 editoras para 700 livrarias e 2.500 postos de venda alternativos. O mercado ativo do país é de apenas 17 milhões de pessoas alfabetizadas acima de 14 anos que compraram ao menos um livro no último ano. O número é menos de 10% da população de 180 milhões de habitantes. “O brasileiro lê 1,8 livro por ano no geral, mas se pegarmos a população que lê efetivamente, chegamos a um número de quatro livros por ano“, diz Lobello. 
 
O problema cultural está no fato de o Brasil ter uma tradição oral e uma herança literária muito frágil em termos de hábitos. O dilema econômico está na falta de escala de produção, o que aumenta seu custo. “No Brasil o livro não é caro se compararmos com os Estados Unidos e Argentina. O elemento complicador é a baixa renda da população, o que torna o acesso à compra mais difícil“, afirma o vice-presidente da CBL. 

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