Leitura distante

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

MEC decide suspender edital de definição dos livros infantis que seriam distribuídos em 2005 a alunos da rede pública, alegando que é preciso avaliar se obras estão sendo realmente lidas  
 
A formação de um leitor pode começar num dia de chuva em que não há nada de bom na TV, ninguém para brincar na rua e se é jovem o suficiente para transformar a primeira incursão às prateleiras de livros de casa numa paixão para toda a vida. Às vezes, não é preciso chuva nem falta de opções de lazer, mas um elemento, certamente, é indispensável para que essa paixão comece: o livro. O Ministério da Educação, no entanto, acredita que os títulos distribuídos à rede de ensino público por meio do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) podem estar apenas juntando poeira na casa dos alunos. Por essa razão, suspendeu o lançamento do edital do PNBE, que aconteceria este mês, para a escolha dos títulos não-didáticos a serem distribuídos em 2005.  
 
Sob a coordenação da Secretaria de Educação Fundamental (SEF, que tratava da seleção dos livros desde o surgimento do Programa, em 1998) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE, responsável pela aquisição e distribuição das obras), só em 2003 o PNBE atendeu mais de 20 mil escolas, em todo o Brasil, através de ações como a Biblioteca do Professor e a Biblioteca Escolar. Pelo programa, cada escola recebeu 144 títulos, e cada aluno pôde levar para casa cinco livros. Iniciado com apenas seis editoras, que faziam edições especiais para o MEC, o projeto passara a contar com 24.  
 
Diretora do Departamento de Política de Educação Infantil e do Ensino Fundamental, do MEC, Jeanete Beauchamp garante que a suspensão do edital não decreta o fim definitivo do Programa.  
– Ainda há uma remessa de livros em Brasília para ser distribuída até julho deste ano (comprada em dezembro de 2003, chegou em março a Brasília). O edital foi suspenso porque nossa idéia é efetivar um projeto de orientação de leitura junto com a distribuição, para que o aluno se torne efetivamente um leitor – explica.  
 
Elizabeth DAngelo Serra, secretária geral da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil, participou do processo de seleção de títulos distribuídos e acredita que a medida é um retrocesso.  
– Viabilizar aos alunos da rede pública a criação de uma biblioteca particular é essencial. Grande parte dos brasileiros não tem dinheiro para comprar livros. O acesso à literatura em casa é o que dá base à criação de leitores.  
 
Literatura e livros didáticos  
 
Para Elizabeth DAngelo, o diálogo entre escola e família, indispensável para a formação do aluno, é possível através do PNBE:  
– Colocar sobre a escola o peso total da formação de leitores é algo totalmente inviável. Impor a cultura sem oferecer possibilidades para que isso tenha desdobramentos fora da escola não dá resultado.  
Jeanete reconhece a importância de programas como o Literatura em Minha Casa, que oferece livros infantis às crianças, mas não abre mão da revisão do processo, cujo método de avaliação ainda não foi decidido:  
– É fundamental ter acesso ao livro, mas o objetivo maior é transformar a distribuição em leitura efetiva – diz.  
Elizabeth questiona o momento escolhido para a avaliação e lembra que o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) não sofreu alterações com a suspensão do edital do PNBE:  
– Se o programa existe desde 1998, por que não avaliaram antes para saber se dava certo ou não? Por que o aluno pode ter livros didáticos em casa e não literatura?  
Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) constatou, em 2002, a eficácia operacional da distribuição dos acervos do Programa, mas já questionava, então, seus resultados efetivos. Jeanete defende a decisão:  
– Não posso responder pelo desenvolvimento do projeto na gestão anterior [de Cristóvão Buarque]mas, na nossa gestão, há um interesse na maneira como os acervos são utilizados – justifica, afirmando que os livros didáticos são lidos em sala de aula sob a orientação dos professores, o que confirma sua utilização.  
Elizabeth discorda:  
– Os livros didáticos não cumprem todo o dever, são colchas de retalhos de informação. A literatura é necessária.  
Coordenador geral dos programas do livro no FNDE, Alexandre Serwy afirma que o Programa será mantido após a avaliação.  
– Temos recursos para o ano que vem, e serão utilizados para uma nova distribuição em 2005. Não haverá prejuízo. Estamos só reavaliando resultados.  
 

Menu de acessibilidade