Karine Pansa, da IPA, na DBW: “Um grande alerta”

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A necessidade de dados coerentes e acionáveis impacta o progresso que o mundo editorial pode fazer em seus principais desafios, diz Karine Pansa, da IPA.

“Para construir uma narrativa convincente”

Em nossa entrevista de 6 de janeiro com a editora brasileira Karine Pansa — que este mês inicia seu mandato de dois anos como presidente da International Publishers Association (IPA) — ela apontou o desafio enfrentado pela indústria editorial global de gerar e analisar dados coerentes entre mercados internacionais.

Na segunda-feira (16 de janeiro), ao fazer o discurso de abertura na conferência Digital Book World, em Nova York, Pansa expandiu o caso enfatizando seu objetivo de superar um ato de malabarismo entre alhos e bugalhos quando se trata de coletar e interpretar dados por meio do espectro internacional do negócio do livro.

Como colocado por ela, a questão “demonstra quantas oportunidades existem no mercado de publicação digital, mas também como temos que trabalhar mais para construir uma narrativa externa convincente sobre a inovação em nosso setor”.

Pansa observou que, ao preparar sua apresentação, ela e a IPA tiveram o apoio de seu parceiro em Genebra, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), bem como da Nielsen BookData e de algumas das 92 convenções nacionais de editoras que são membros-associadas do programa de 76 nações que ela lidera. Ela e a IPA compartilharam com a Publishing Perspectives (somos a parceira de mídia global da IPA) a apresentação de Pansa para nosso relatório hoje (17 de janeiro).

O que a Pansa veio a dizer na segunda-feira foi: “Sabemos que existem alguns tipos de dados de mercado para cerca de 40 países. Isso significa que há muita dark data.”

Voltando primeiro a um exemplo que ela mencionou em nossa entrevista — conjuntos de dados incompatíveis de mercados na América Latina — Pansa apresentou ao seu público ilustrações de como, em sua região, os dados estão disponíveis “para apenas três mercados”: Brasil – onde ela dirige a editora Girassol Brasil em São Paulo – assim como Colômbia e México.

Pansa destaca que, em termos de livros digitais, a Colômbia surpreendentemente parece liderar, com os dados disponíveis mostrando uma participação de 15% no mercado de livros digitais, em comparação com 4% no México e 6% no Brasil.

O motivo? “Na Colômbia”, disse ela, “o livro digital não é apenas um ebook ou audiolivro, mas também uma plataforma educacional. Essas plataformas, obviamente impulsionadas pela pandemia, têm um impacto real nos números da Colômbia, onde os audiolivros são quase insignificantes. No México, os audiolivros estão ainda menos presentes e os impressos ainda reinam.

“Nesses três mercados”, ela cita, “temos diferentes definições de livros digitais, estamos ao menos comparando receitas, mas temos graus de granularidade muito diferentes”.

Ela também relaciona pontos importantes em comum a esses três mercados latino-americanos: “os países em desenvolvimento ainda lutam para aumentar seus mercados porque há uma barreira estrutural para sua demanda. Aspectos como hábitos de leitura e capacidade de ler são as principais dificuldades e são apenas parte da discussão.”

“Não podemos resolver o problema do aumento da demanda apenas produzindo mais conteúdo digital ou ainda mais livros impressos. Há aspectos mais profundos a serem discutidos e considerados”, explica.

Outra região, a Ásia, como mencionado por Pansa, está produzindo dados que ela só poderia comparar da China e da Nova Zelândia. Aqui, ela estava usando, para a China, o relatório anual Beijing OpenBook “Crise e Mudanças” para 2020, que a Publishing Perspectives cobriu em janeiro de 2021. (Nossos relatórios mensais de best-sellers da China também são produzidos em associação com o OpenBook.) Dados da Nova Zelândia foram fornecidos pela Nielsen BookData (2021).

“Vemos que os livros digitais representam 6% das receitas do mercado chinês e 8% das receitas do mercado da Nova Zelândia. Para a Nova Zelândia, a coleta de dados apenas começou”, acrescentou a presidente. “Roma não foi construída em um dia e esperamos ter mais granularidade em alguns anos.”

Na Europa, como informamos, o programa Aldus Up em conjunto com Luis González, da Fundación Germán Sánchez Ruipérez, em Madri, tem conduzido um esforço para criar “publicação de coerência de pesquisa”, harmonizando pesquisas e protocolos de estudo entre vários mercados europeus.

Como apontou Pansa, a menos que os esforços entre mercados possam coordenar e harmonizar pelo menos alguns elementos da coleta de dados e relatórios, as fontes de dados atuais também se tornam um problema. Os mercados europeus são provavelmente melhores e mais minuciosamente pesquisados e estudados do que muitos outros, e ainda assim “uma mistura de fontes de dados – dados do consumidor e da indústria”, como disse Pansa, pode render “uma mistura de receitas, volume e quantidade de negócios. Alguns são apenas comerciais, alguns cobrem educação e STM.”

O impacto de dados inadequados na publicação mundial

Karine Pansa disse ao público que a pandemia da COVID-19 “nos mostrou que, de várias maneiras, não podemos continuar com os negócios como sempre fazíamos. Muitos mercados ao redor do mundo tiveram um grande alerta”.

“Falei da capacidade da IPA de contar uma história convincente sobre a inovação em nosso setor. Sobre o nosso valor, o valor da publicação. Mas é mais profundo do que isso”, disse ela apontando como áreas políticas específicas que compõem a missão da IPA são afetadas pela escassez de dados confiáveis.

Pansa falou, por exemplo, sobre questões de direitos autorais e pirataria, como “um dos nossos principais mercados europeus” tem “a maioria dos leitores de livros digitais fazendo downloads gratuitos”, citou. “Na África e no mundo árabe ouvimos os editores dizerem que não mudarão para o digital porque o risco de pirataria é muito grande e seus regimes de aplicação de direitos autorais não os protegem. Com toda a probabilidade, provavelmente existem muitos leitores de livros digitais nessas regiões, mas fora do mercado”, completou.

De acordo com Pansa, “Mesmo em mercados fortes como o Reino Unido vemos e-books com desconto representando uma grande parte das vendas, sugerindo uma sensibilidade real ao preço. Essa sensibilidade ao preço também se estende aos dispositivos – temos regiões onde o custo de um e-reader dedicado é muito alto em comparação com os salários locais.”

Em acessibilidade, disse ela, “Ebooks e audiobooks, feitos corretamente, são uma ótima maneira de fazer produtos melhores que podem alcançar ainda mais leitores, incluindo aqueles que são deficientes visuais ou deficientes físicos. A Lei Europeia de Acessibilidade entrará em vigor em 2025.
Apesar do nome, também afetará os editores fora da Europa. Qualquer pessoa que venda na Europa deve ter formatos acessíveis disponíveis. ‘Nascer acessível’ tem que ser o alvo para livros futuros, mas e quanto aos livros já publicados?”

Ela acrescentou, em termos de publicações prévias, “Qual é o potencial da narração de IA para ajudar com esse desafio de títulos já lançados e disponibilizar mais livros rapidamente?” uma pergunta relacionada às nossas notícias de hoje sobre a Bookwire da Alemanha.

No que tange o reino notavelmente urgente da sustentabilidade, Pansa disse: “Sem dados detalhados reais, como podemos entender o impacto ambiental do nosso setor? Em todos os mercados que examinamos, o impresso ainda reina. Como podemos trabalhar com a cadeia de suprimentos para reduzir o impacto de carbono dos livros físicos, que os leitores em muitos mercados ainda adoram? Como podemos reduzir o desperdício físico, o impacto ambiental do transporte?”. Um dos pontos mais convincentes de Pansa este mês foi a conversa sobre sustentabilidade e a fragilidade do planeta natal da indústria, que às vezes é totalmente diferente no mundo desenvolvido e nos mercados em desenvolvimento porque as necessidades, valores e recursos críticos podem ser muito distintos.

Relativo à alfabetização, Pansa falou para seu público: “O ‘mundo do livro digital’ é uma oportunidade para aumentar as taxas de alfabetização em todos os lugares, mesmo nos lugares mais difíceis de alcançar. Vamos falar também sobre diversidade econômica. Qual é a gama de modelos de negócios e pontos de venda e como eles nos mantêm conectados aos nossos leitores?”

Ao preparar sua palestra, Pansa usou o título “Um Novo Começo”, que reflete três formas de posicionamento da International Publishers Association, sua nova presidência e o novo ano, é claro, com seus potenciais e desafios, dos quais apenas alguns são conhecidos no momento.

Embora se concentrasse na importância de obter muito mais dados na indústria editorial – e, tão importante quanto, dados muito mais coerentes para um negócio de livros que abrange grande parte do mundo habitado – sua mensagem era de otimismo, de que as complexidades da coleta de dados, análise e comparação podem ser direcionados para produzir resultados acionáveis capazes de gerar mais unidade e progresso em todo o campo internacional.

“O início do ano é sempre cheio de contemplações de bolas de cristal e adoro o otimismo de começar este novo ano olhando para o futuro do nosso setor”, disse ela.

Publicado por CBL em 27/01/2023.

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