Inep traça perfil do aluno em Língua Portuguesa

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Morar em cidades com menos de 200 mil habitantes, na Região Nordeste, trabalhar, ter sido reprovado na escola e ter pais com baixa escolaridade são características encontradas em maior grau entre os estudantes que estão no estágio “muito crítico” do conhecimento em Língua Portuguesa. Os dados que associam o perfil dos alunos da 4ª série do ensino fundamental ao desempenho são do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2003.  
 
A avaliação, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), mostra que os estudantes no pior patamar de desempenho do Saeb estão, em geral, em atraso escolar e se concentram nas escolas públicas municipais. Esses alunos compartilham também de outras características comuns: a maioria não tem ninguém na família que os acompanhe na vida escolar com regularidade e também não freqüentou a educação infantil. Veja dados anexos. 
 
Carlos Henrique Araújo, diretor de avaliação da Educação Básica do Inep, explica que o perfil dos estudantes no estágio “muito crítico” foi construído a partir das respostas mais freqüentes a uma série de questões aplicadas no questionário socioeconômico do Saeb. “Não significa que os alunos com pior desempenho estejam todos no Nordeste, por exemplo, mas esta é a região onde há um maior percentual de alunos nesse patamar de desempenho em relação ao conjunto dos seus estudantes“, afirma. 
 
Para o presidente do Inep, Eliezer Pacheco, os dados indicam que uma política de melhoria da qualidade do ensino público deve incluir investimentos em recursos didático-pedagógicos como bibliotecas, equipamentos de informática e quadras esportivas. “O envolvimento dos pais na escola e o aumento do diálogo com as famílias também é fundamental, como mostram os resultados da avaliação. As escolas podem, inclusive, oferecer condições de formação para mães e pais por meio da educação de jovens e adultos“, diz.  
 
Segundo Pacheco, o combate ao trabalho infantil, inclusive o doméstico, políticas de combate à repetência e à evasão escolar, além de maior rigor na definição e cobrança das tarefas escolares devem ser consideradas condições para o sucesso escolar. Como outras medidas estão a ampliação da educação infantil e investimentos na valorização de professores. “A proposta do Ministério da Educação de criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que amplia para a educação infantil e para o ensino médio a redistribuição de recursos, atualmente restrito ao ensino fundamental, será um dos instrumentos para viabilizar políticas que respondam a essas questões“, afirma.  
 
Perfil “muito crítico” – A região que possui o maior número de crianças no estágio “muito crítico” no Saeb é a Nordeste, com 29,3%, seguida pela Região Norte, com 21,2%. Com o menor percentual está a Região Sul, com 11,6%. Nas cidades com menos de 200 mil habitantes, 22,3% dos alunos estão neste nível de desempenho. Já naquelas com população acima dessa quantidade, excetuando-se as situadas nas regiões metropolitanas, 15% dos alunos da 4ª série tiveram o pior desempenho no Saeb. “Os resultados mostram que as desigualdades regionais devem ser combatidas com políticas focadas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste e nas cidades menores“, diz o presidente do Inep.  
 
Os alunos das escolas municipais apresentam um pior desempenho: 22,8% dos estudantes estão no estágio “muito crítico” de desempenho em Língua Portuguesa. Os municípios concentram 66% dos 18,9 milhões de alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, de acordo com dados do Censo Escolar. No outro extremo, as escolas privadas, que têm 9% da matrícula de 1ª a 4ª série, o índice de “muito crítico” foi de 2,7%. Nas escolas federais, o índice de alunos no estágio “muito crítico” é de apenas 1,2%, mas a representatividade da matrícula é muito pequena em relação ao total.  
 
A reprovação, o abandono e o conseqüente atraso escolar dos estudantes também incidem negativamente no desempenho. Entre os alunos reprovados pelo menos uma vez, 32% se situavam no pior patamar de desempenho do Saeb e entre aqueles que não foram reprovados, 12,4%. Do total de alunos que declararam ter abandonado a escola pelo menos uma vez, 32,6% estão no estágio “muito crítico” e para aqueles que não deixaram a escola o índice é de 16,6%. Em relação ao atraso escolar, 19,3% dos alunos que apresentam um ano de defasagem estão no estágio “muito crítico” e 11,1% entre aqueles que não apresentam distorção idade/série.  
 
Um outro indicador que tem forte impacto na aprendizagem é a escolaridade das mães e pais. Dos estudantes com mães que nunca estudaram, 36,8% tiveram o pior desempenho no Saeb 2003. Para aqueles cujas mães iniciaram ou completaram o curso superior, esse índice é de 10%.  
 
A oportunidade de cursar a educação infantil também faz diferença no desempenho dos estudantes. Entre aqueles que iniciaram a vida escolar ainda no maternal, 12,2% estão entre os do estágio “muito crítico” e, para aqueles que tiveram o contato com a escola somente na 1ª série do ensino fundamental, 28,5% estão neste estágio.  
 
Segundo o diretor de avaliação da educação básica, há um primeiro conjunto de fatores que interfere no desempenho dos estudantes e diz respeito à pobreza e à falta de acesso a bens culturais. “Neste caso, são necessárias as políticas de combate à exclusão“. Carlos Henrique explica que há um outro conjunto de fatores, intrínseco às escolas, que, para mudar, depende de diretores e professores mais preparados, um ambiente voltado para o aprendizado e uma comunidade escolar participativa.  
 
Estágio “adequado” – Os estudantes com melhor desempenho no Saeb e que estão no estágio “adequado” aparecem em maior proporção na Região Sudeste, em cidades com mais de 200 mil habitantes que não fazem parte das regiões metropolitanas, estudam na rede particular ou em estabelecimentos federais e apresentam pouco ou nenhum atraso escolar.  
 
Ainda como características comuns, esses estudantes têm mães e pais com maior escolaridade. Eles declaram que a família acompanha a sua vida escolar, não trabalham fora de casa e quando fazem algum trabalho doméstico, essa atividade consome menos de uma hora diária. Na sua maioria, também tiveram acesso à educação infantil e costumam fazer a lição de casa sempre ou quase sempre.  
 
 

Menu de acessibilidade