Ideb 2023: 69% dos colégios estaduais de ensino médio ficaram nos menores níveis de desempenho em Matemática

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

A divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na quarta-feira mostrou que 69% dos colégios estaduais de ensino médio ficaram entre os menores patamares de desempenho do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em Matemática. Nesses estágios, os alunos não conseguem, por exemplo, entender o que significa uma progressão aritmética.

A escala da prova vai do nível 1 ao 10. Em 2023, 9,8 mil das 14,2 mil escolas ficaram nos patamares 1 e 2. Outras 3,6 mil unidades educacionais estão no patamar 3. E o restante (cerca de 800) ocupam os outros os níveis — a melhor chegou o nono estágio de desempenho (leia abaixo).

Os dois menores níveis de aprendizagem do Saeb foram classificados, em 2018, como insuficientes pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelas estatísticas do Ministério da Educação (MEC). De acordo com essa classificação, apenas quem tivesse a partir do nível 3 teria aprendizagem considerada suficiente para a etapa.

Essa classificação não voltou a ser utilizada pelo MEC na divulgação dos resultados neste ano. Além disso, há pesquisadores da educação que contestam esse patamar.
O Todos Pela Educação, entidade que defende a qualidade da educação básica no Brasil, criou, em 2009, um outro parâmetro para definir o que considera o mínimo que os estudantes precisam aprender em cada etapa. Isso foi feito com base no desempenho de países avaliados pelo Pisa, uma prova internacional aplicada a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nessa régua, o patamar de aprendizagem adequada é acima do nível 4 do Saeb. E, em 2023, 94% das escolas estaduais ficaram abaixo dele.

Disciplina cumulativa

De acordo com o gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Ivan Gontijo, o ensino de Matemática é um desafio maior do que o aprendizado de Língua Portuguesa (as duas disciplinas que são avaliadas no Saeb) por dois motivos principais: o primeiro é que a disciplina é mais cumulativa. Não aprender um conteúdo básico impede que o aluno entenda as aulas de anos seguintes. Além disso, de acordo com Gontijo, as aulas de Matemática são mais dependentes do tempo na escola para o aprendizado.

— A Língua Portuguesa o aluno está falando, lendo, escrevendo fora da escola. É mais fácil praticar em outros ambientes — compara.
Mesmo assim, os dados do Saeb mostram que 7,5 mil escolas ocuparam os dois menores níveis de aprendizagem da prova de Português — um patamar menor do que Matemática, mas ainda assim praticamente a metade dos colégios avaliados.

Gontijo afirma que políticas de recuperação são fundamentais para conseguir bons níveis médios de Matemática. Ou seja, alunos aprovados mesmo sem terem aprendido o adequando de alguns conteúdos precisam ter uma segunda chance para acompanhar as aulas dos anos seguintes.

— É necessária uma priorização curricular. Entender quais habilidades são absolutamente indispensáveis na Matemática e garantir que elas sejam trabalhadas com políticas de aceleração de aprendizagem, como tutorias ou a formação de turmas de reforço em que todos os alunos tenham o mesmo nível, mesmo que com idades diferentes — recomenda.

Há ainda um desafio de formação adequada de professores, lembra o especialista. É mais comum, diz Gontijo, que pessoas sem formação — mas graduadas em Pedagogia, por exemplo — deem as aulas dessa disciplina no segundo ciclo do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano). Além disso, na universidade, o curso de Matemática atrai poucas pessoas, a evasão é alta e os que se formam ainda são disputados entre as escolas e outras carreiras que, em geral, têm salários maiores.

— Há uma pesquisa com formandos do ensino superior em Licenciatura que pergunta se eles pretendem ser professores depois de completarem o curso. Os alunos de Matemática e das disciplinas de Ciências da Natureza são os que menos dizem querer seguir carreira na educação básica — diz.

Menu de acessibilidade