Antônio Ibañez Ruiz nasceu em Madri (Espanha) em 1943. Veio para o Brasil em janeiro de 1960, já com o 2º grau (atual ensino médio) completo. Graduou-se em Engenharia Mecânica na Universidade de São Paulo (USP) e fez mestrado na Coordenação dos Cursos de Pesquisa e Pós-graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fez doutorado na cidade britânica de Birmingham, em 1977.
Ibañez ingressou na UnB em julho de 1967. Foi naturalizado brasileiro em 1989. No primeiro semestre de 1994, ainda no governo Itamar Franco, integrou o Conselho Nacional de Segurança Alimentar – ligado à Presidência da República.
Em breve entrevista, o secretário destaca as prioridades da Educação Média e Tecnológica:
De onde virão os recursos para a área de Educação no governo de Lula?
O programa de governo do presidente Lula prevê a ampliação do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Além disso, o programa específico de Educação coloca como meta o aumento em 2% (de 5% para 7%) a porcentagem do PIB investida em Educação. É um índice considerável porque os recursos devem aumentar bastante. Com essa previsão de gastos esperamos que o nosso programa de governo tenha condições de aplicar tudo o que foi proposto.
Como o senhor avalia os investimentos do atual governo na Educação de base? O ensino médio tem condição de abrigar as crianças que saírem do ensino fundamental nos próximos anos?
No modelo atual não, porque há poucos recursos para o ensino médio, que só recebe cerca de 10%, dos 25% que os estados e municípios investem em Educação. Por isso propomos o Fundeb, para ter mais recursos para investimento. Talvez esse investimento do governo federal em Educação não tenha passado de retórica, do ponto de vista financeiro. Pela lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef/MEC), o governo federal deveria ter repassado aos estados cerca de R$ 12 bilhões, como complementação do Fundo. E isso não foi feito. Uma das justificativas para a criação do Fundef foi diminuir a desigualdade regional.
O governo estabeleceu um custo por aluno muito baixo e poucos estados e municípios continuaram a ser beneficiados porque permaneciam abaixo do valor estipulado pelo governo. Somente quatro estados estão recebendo, entre eles Maranhão e Bahia. O gasto do governo caiu para apenas R$ 400 milhões, em vez dos R$ 12 bilhões iniciais.
Como o senhor avalia a qualidade do ensino e a qualificação dos professores?
Esse é um problema muito sério e delicado. Faltam professores para a parte final do ensino fundamental, entre 5ª e 8ª séries, principalmente nas disciplinas de Matemática, Biologia, Física e Química. Isso não é de hoje e se dá em todos os estados brasileiros. É preciso reunir professores, estados e municípios para definir um planejamento. Em países como Estados Unidos, Inglaterra e Holanda, quando faltam professores eles são “importados“. Mas a saída adotada aqui não é essa e aquelas alternativas para a modernidade, como introduzir a televisão na sala de aula em substituição aos professores não são viáveis. Além disso, penso que é importante elaborar um projeto para qualificação e atualização dos professores utilizando tecnologias mais modernas.
Esse treinamento está previsto no programa? Como ele será feito?
Não chegamos a esse detalhamento ainda. Mas está prevista a criação de centros de treinamento por estado e regiões.
A que o senhor credita essa escassez de professores?
Em primeiro lugar, aos salários. Não é uma profissão valorizada o suficiente. Os professores não ficam em uma só escola porque precisam complementar os salários. E aqueles que ficam, não têm incentivo para pesquisar. Eles têm um ótimo material para conduzir as pesquisas, que são as próprias salas de aula. Mas não há incentivo para isso. Pensamos ainda em implementar um piso salarial nacional. Tudo isso entra como valorização profissional dos professores. A vida atual deles é dar aulas e continuar fazendo isso até o dia da aposentadoria.
Como contornar esse problema?
O próprio Fundeb cria dispositivos para que esse investimento seja feito, até mesmo para a criação do piso salarial nacional.
Como o senhor avalia as perspectivas para o futuro da Educação no País?
Com grande esperança, dentro das propostas listadas no programa de governo. Essas mudanças trarão grandes reflexos para o País. O programa de governo cita 60 milhões de pessoas sem Educação Fundamental. É muita gente! Não podemos nos permitir ao luxo de deixar tantas pessoas sem direito à cidadania. Mas isso não é apenas uma questão de ética e cidadania. É também de inclusão no sistema produtivo nacional. Fazendo uma comparação, a Espanha tem pouco mais que o tamanho do estado de São Paulo, cerca de 40 milhões de habitantes e um PIB semelhante ao do Brasil desde 1995. Não dá para acreditar que o Brasil produza quase igual a Espanha. Nós temos um território bem maior e 170 milhões de pessoas. Tem alguma coisa errada nisso. Nosso PIB não pode ser tão parecido assim.
Com UnB Agência
Repórter: Luiz Motta
Editora WEB: Moema Pimentel