Gilberto Gil faz promessas joyceanas em Porto Alegre

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

A mesma Porto Alegre que foi palco do lançamento da primeira versão infantil de um dos romances mais enigmáticos do mundo viu na mesma semana a promessa de algo quase tão difícil quanto o trabalho de Donaldo Schüler. 
 
No mesmo palanque em que o “patrono“ e outras cinco dezenas de convidados inauguraram a 50ª Feira do Livro de Porto Alegre, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, disse que o governo apresentaria em dezembro um plano para o livro e a leitura no Brasil que “deve durar até 2022“. Gil foi além. “Aumentaremos em três anos o índice de leitura do país em 50%.“ 
 
Não ficou só na boca do compositor de “andar com fé eu vou/que a fé não costuma faiá“. No mesmo dia, pela tarde, dois assessores de Gil apresentaram com detalhes as silhuetas desse projeto, durante o 32º Encontro Nacional de Editores e Livreiros. 
 
Galeno Amorim, coordenador do programa Fome do Livro, e o presidente da Biblioteca Nacional, Pedro Corrêa do Lago, afiançaram para mais de uma centena de profissionais que participaram do evento organizado pela Câmara Brasileiro do Livro que as coisas correriam bem. 
 
Amorim disse que 2005, escolhido Ano Ibero-Americano da Leitura por chefes de Estado dos países envolvidos, será o “ano modelo“. Reafirmando os quatro eixos de seu programa (democratização ao acesso ao livro e leitura, investimento na formação, valorização do livro no imaginário coletivo e apoio às cadeias produtivas e criativas do livro), disse que o Plano Nacional do Livro e da Leitura já está pactuado com 14 ministérios, governos estaduais, prefeituras, estatais e ONGs. 
 
Amorim e Corrêa do Lago não foram os únicos pontas-de-lança do livro brasileiro no evento. Presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, José Henrique Paim Fernandes trouxe mais novidades. 
 
Ele garantiu que o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), iniciativa de distribuição de livros não didáticos para todo o país, vai mesmo voltar em 2005 e que suas bases serão anunciadas ainda em novembro. 
 
Paim Fernandes também prometeu a ampliação da compra de livros para alunos do ensino médio. O programa, que envolvia só o primeiro ano, será estendido em 2006 às três séries. 
 
O dirigente falou ainda sobre uma novidade “técnica“, a Comissão Especial de Julgamento, recém-criada para julgar excessos no assédio de editoras a professores (que escolhem boa parte dos livros adotados pelo governo). 
 
O assédio a ele mesmo, garantiu, é de fácil administração. Provocado pela Folha S. Paulo, que perguntou como era ser um dos “maiores compradores de livros do mundo“ (o órgão que preside compra em média 110 milhões de livros por ano) diante de uma platéia de editores e livreiros, respondeu: “Isso é moleza“.  
 
 
 
A meta do programa é aumentar em 50% o índice de leitura 
Gazeta Mercantil 
 
Uma frase do escritor Monteiro Lobato – “um país se faz com homens e livros“ – serviu de inspiração para o governo federal criar o Fome de Livro – Plano Nacional do Livro e Leitura. Em três anos, com o apoio da iniciativa privada, a meta é aumentar em 50% o índice de leitura no Brasil.  
 
Levantamento mostra que a média de leitura no país é de 1,8 livro por habitante/ano. Na Colômbia, esse índice chega a 2,4 por habitante/ano contra cinco nos Estados Unidos e sete na França.  
 
Segundo o coordenador do Fome de Livro, Galeno Amorim, entre as metas do plano nacional está a instalação de duas mil bibliotecas, especialmente nas cidades que não dispõem de salas de leitura. As metas incluem a distribuição gratuita anual de um milhão de livros em estádios e de outro milhão em cestas básicas, formação de 100 mil mediadores de leitura e financiamento às editoras para aumentar a tiragem das publicações e reduzir custos.  
 
Galeno Amorim destaca que apesar dos dados desanimadores atuais, já há sinais de mudança como a criação do Dia do Livro – 29 de outubro, data de fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. “Essa tomada de consciência, essa disposição de dar uma grande virada e enfrentar o desafio de aumentar o interesse dos brasileiros em ler já é um bom motivo para comemorar tal dia“, diz.  
 
Política nacional  
 
O Plano do Livro e Leitura vai colocar em prática, de acordo com Galeno Amorim, a política nacional para o setor em seus eixos básicos: democratizar o acesso ao livro, abrir novas bibliotecas – e reaparelhar as existentes –, distribuir livros, fazer campanhas para incentivar a população a ler e conceder incentivos a editores e livrarias para baratear o preço das publicações.  
 
A política de incentivo à leitura do Ministério da Cultura será desenvolvida em parceria com instituições financeiras públicas, organizações não-governamentais e empresas do mercado editorial. Além do Plano do Livro e Leitura, a política nacional inclui a criação do Conselho Nacional do Livro e Leitura; a regulamentação da Lei do Livro e o calendário de 2005, escolhido como Ano Ibero-americano da Leitura.  
 
O programa na prática  
 
Cristiane Oliveira, professora da quarta série do ensino fundamental de uma escola pública de Brasília, explica como incentiva os alunos a procurarem os livros. “Nós procuramos assuntos que fazem parte do cotidiano dos alunos para que eles se interessem pelo livro. Nós também recontamos e fazemos a dramatização da história em sala de aula. Assim, esperamos criar nas crianças o hábito de ler, informa.  
 
A professora diz que existe uma diferença na escolha de títulos entre meninos e meninas. “Os garotos geralmente se interessam por leituras que tratam de avanços tecnológicos, da ciência e de temas referentes a automobilismo. Já as garotas preferem contos de fada, histórias literárias, textos mais divertidos e leves“. Cristiane lembra que os alunos visitam sempre a biblioteca da escola, escrevem poemas e redações. “Eles têm livre acesso à biblioteca, mas notamos que alguns se interessam mais pela leitura do que outros“, afirma.  
 
Priscila Fonseca tem dez anos e está na 4ª série do ensino fundamental. Ela diz que se interessa pela disciplina “História“ e por isso gosta de ler. Conta que a professora orienta os alunos a pegar três títulos na biblioteca da escola e depois de ler, os estudantes trocam os livros uns com os outros.  
 

Menu de acessibilidade