Reunidos na oficina Cultura da Leitura e Ambiente de Leitura para Jovens e Adultos, mediada pela princesa Laurentien, da Holanda, expositores e participantes dos cinco continentes expuseram problemas e experiências bem-sucedidas em seus países.
Despertar o hábito de ler em pessoas que só conheceram as primeiras palavras escritas na juventude ou na vida adulta foi assunto de debate na quarta-feira, 2, na 6ª Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos (Confintea), em Belém.
Da organização indiana Planet Read, cujo lema é Leitura para um Bilhão, Brij Khothari relatou que muitos indianos estão reforçando as habilidades de leitura por meio da televisão. “Constatamos que 700 milhões de pessoas tinham acesso à tevê e assistiam às produções nacionais de cinema”, afirmou. Muito populares no país, os filmes indianos frequentemente trazem música e dança em dialetos locais — são 22 no país. Para atrelar a leitura a um hábito de vida de muitos indianos, a organização resolveu colocar legendas nos filmes. “Assim, a pessoa pode fazer o que gosta e, ao mesmo tempo, ler o que o ator está falando ou cantando.”
A maioria dos participantes concordou que o hábito de leitura precisa estar ligado a áreas de interesse do leitor. A canadense Ellen Szita, da organização não governamental Lifelong Learning for Women, revelou que o neto só aprendeu a ler depois de o professor apresentar a ele textos sobre hóquei, o esporte preferido do garoto.
De acordo com Brij, em países como a Índia, com grande população e crescente interesse por mídias como a tevê e a internet, não se pode desprezar o alcance dos meios digitais e o apelo que têm com o público jovem e adulto. “É nisso que as pessoas estão interessadas”, destacou. Na Índia, atestou Brij, as legendas na televisão ajudaram cerca de 200 milhões de pessoas a ler melhor.
Continuidade — Na Nicarágua, a continuidade nos estudos em escolas públicas reforçou a capacidade de ler de jovens e adultos. Segundo Odilí Rios, especialista da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 500 mil pessoas recém-alfabetizadas, 38% demonstraram saber ler apenas informações muito básicas, como letreiros de lojas e ônibus. “Descobrimos que aquelas que liam com fluidez continuaram a estudar depois da alfabetização”, disse. Na opinião de Odilí, está claro que o processo de leitura é gradual. “A pessoa vai reforçando o conhecimento ao longo da vida, se estiver exposta a ambientes estimulantes.”
A fim de estimular a leitura pelo tradicional uso dos livros didáticos e de literatura, a princesa Laurentien destacou que os livros destinados a leitores em formação nessa faixa etária não podem ser os mesmos das crianças. “Devemos levar em consideração o modo de pensar do adulto”, avaliou.
Nesse caso, o Brasil está avançando, de acordo com a coordenadora-geral de formação e leitura da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação, Carmem Gato. “Já estamos na terceira edição do Prêmio Literatura para Todos, que premia autores de livros específicos para esse público”, afirmou.