Estudo revela que sucesso na alfabetização não depende do método utilizado

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Especialistas em alfabetização discutiram no Seminário Alfabetização e Letramento em Debate, realizado pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), em Brasília, as razões que levam ao resultado insatisfatório da leitura e escrita nas escolas públicas. Uma das revelações mais importantes foi que os problemas ocorrem posteriormente à fase de alfabetização nas séries iniciais, quando não há consolidação do aprendizado da leitura. Cerca de 80 convidados participaram do seminário, realizado no último dia 27 de abril. 
 
A professora Maria do Rosário Longo Mortatti, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp/Presidente Prudente), abriu o seminário com a conferência A História dos Métodos de Alfabetização. Para ela, os debates sobre o melhor método de alfabetização datam de pelo menos 130 anos atrás, quando o domínio da leitura e da escrita pelos cidadãos passou a ser considerado estratégico para o funcionamento da República. Desde então, o governo brasileiro tem se deparado com problemas de alfabetização nas escolas públicas. “Em cada período histórico, sempre surgiu um movimento se intitulando o mais científico, o mais eficiente, o mais novo“, afirmou Mortatti, demonstrando que, no entanto, os problemas de alfabetização continuaram no período seguinte. 
 
Ao longo do tempo, houve uma mudança de perspectiva de ação sobre “como o professor ensina“ para “como o aluno aprende“, em função das descobertas nas áreas de psicologia, lingüística e neurociências. Para a especialista, não há um único método que possa ser aplicado com sucesso em diferentes países. 
 
O tema Diagnósticos e Políticas de Alfabetização foi desenvolvido por Franco Creso, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e participante do projeto Geres (Geração Escolar), que pesquisa o aprendizado de leitura em matemática em algumas escolas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, Salvador e Campo Grande por seis universidades (PUC/RJ, UFMG, Unicamp, UFBA, Uems e UFJF). 
 
Partindo de resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb/Inep, 2003), onde 55% dos alunos de 4a série do ensino fundamental apresentaram desempenho “crítico“ e “muito crítico“ em língua portuguesa, o Geres vai acompanhar o aprendizado de 20 mil crianças nos quatro primeiros anos do ensino fundamental.  
 
Creso apresentou estudo do aprendizado no primeiro ano de acompanhamento de crianças da 1a série, onde aponta as características das escolas relacionadas ao sucesso escolar. Segundo o estudo, não há relação entre sucesso na alfabetização e método utilizado pela escola. O fator mais importante para um resultado positivo é o sentimento de responsabilidade do professor em relação aos seus alunos, assim como um ensino que seja desafiante para as crianças. “As crianças aprenderam muito na 1a série“, afirma Creso. “A má notícia é que o problema deve estar mais à frente, provavelmente devido à não-consolidação do processo de alfabetização.“ 
 
Sobre o tema Concepções e Metodologias, Cláudia Cardoso Martins, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), comparou, sob o ponto de vista da psicologia, os métodos chamados de “linguagem total“ e “fônico“, dizendo que não há incompatibilidade entre eles. Já Artur Gomes de Morais, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Centro de Estudos em Educação e Linguagem (Ceel) do Centro de Educação/UFPE, propôs a discussão de metodologias de alfabetização em lugar de métodos. Para ele, crer que existem métodos milagrosos ou que métodos, por si sós, garantem sucesso dos alfabetizandos “é ignorar ou desconhecer a pesquisa educacional no Brasil“. Morais concluiu dizendo que qualquer discussão sobre metodologias de alfabetização precisa considerar as condições de trabalho dos professores, a existência de políticas que favoreçam precocemente o sucesso escolar das crianças pobres e outros aspectos que implicam na democratização da escola. 
 
A consultora Elvira Souza Lima encerrou o seminário com a conferência Desenvolvimento Humano e Aprendizagem. Na ampliação atual da alfabetização no Brasil, diz ela, mais importante do que entender como a criança aprende é explicar o que acontece quando a criança não aprende. “A aquisição de leitura e da escrita está relacionada ao desenvolvimento da capacidade simbólica do ser humano; a escrita é uma realização relativamente recente na história da humanidade.“  
 
As dificuldades de aprendizado se devem muitas vezes ao fato de que várias aprendizagens sobre o código escrito ficam fragmentadas. Ou seja, a criança não faz relação entre diferentes conhecimentos que têm sobre a escrita e a leitura, e por isso não se alfabetiza. O desafio é saber desenvolver, por meio de outras atividades pedagógicas e culturais, essas redes de neurônios do cérebro para que o aluno consiga fazer as conexões necessárias para ler e escrever.  
 
O Seminário Alfabetização e Letramento em Debate foi transmitido ao vivo pela Radiobrás. A TV Escola vai transmitir a íntegra do seminário na sua grade de horário e produzir uma série de programas sobre os temas discutidos.  

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