Especialistas discutem os desafios da educação infantil provocados pela pandemia

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A quarentena imposta à população para prevenir a infecção pelo novo coronavírus trouxe um desafio para pais e especialistas quando o assunto é educação infantil. Este foi o tema do quarto dia do Summit Educação 2020, evento online e gratuito, realizado pelo Estadão, que começou na segunda-feira, 24, e vai até o dia 31.

Para Rosely Sayão, psicóloga e colunista do Estadão, o maior prejuízo neste momento é a falta de relacionamento das crianças com outros adultos que não sejam pais e parentes próximos. `A multiplicidade de vínculos facilita a vida da criança. Sem isso, ela fica muito dependente. Faz falta estabelecer relações diferentes`, avaliou.

Pediatra há mais de 30 anos, Marco Aurélio Sáfadi reforça que o fechamento de escolas provocou perdas também para crianças menores, já que são muitos os benefícios que o ensino infantil proporciona aos pequenos mesmo antes da alfabetização. `Os ganhos cognitivos uma vez que a criança ingressa na escola são frutos da convivência escolar. A interação entre as crianças também estimula o desenvolvimento`, afirmou o professor adjunto e diretor do departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo .

Para Carolina Velho, integrante da Rede Nacional pela Primeira Infância e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação Infantil e Subjetividade (GPEIS), o acolhimento para crianças de até 5 anos é mais importante neste momento. `Além de escutar crianças e professores, é preciso pensar no processo de cada localidade. Espero que municípios consigam ouvir a comunidade escolar, crianças, pais e educadores. Na primeira infância, o conteúdo não é a grande questão, mas o acolhimento de cada criança em seu desenvolvimento.`

Sem aulas presenciais há mais de 5 meses por causa da pandemia do novo coronavírus, para manter calendário escolar, as instituições precisaram se adaptar ao ensino remoto. Mas para crianças menores, a adaptação foi ainda mais difícil diante da importância que o contato físico tem nos primeiros momentos de aprendizado.

Segundo o secretário municipal de Educação de São Paulo, Bruno Caetano, é impossível negar que não há prejuízos com o fechamento das escolas também para essa faixa etária. `Por melhores que sejam os esforços da rede pública, privada, das famílias, dos educadores e da sociedade, nada substitui a escola (presencial).`

Na capital, a volta às aulas ainda neste ano será definida após a realização da testagem para anticorpos do novo coronavírus em alunos de instituições privadas e estaduais. Durante o Summit, Caetano disse que o município está preparado para retomar as aulas assim que for possível. `Tenho muita esperança do retorno próximo. Acredito que o pior (da pandemia) já passou, que a situação permanecerá estabilizada e que o processo de confiança (com a sociedade) vai se acelerar nas próximas semanas para termos um retorno tranquilo.`

Para ele, o maior desafio é o da comunicação com a sociedade. `Temos desafio na saúde pública e na educação na recuperação do aprendizado. Mas o maior desafio é de convencer a população de que (quando for anunciado o retorno) será seguro retomar as aulas presenciais.`

O Governo de São Paulo permitiu a retomada parcial de atividades nas escolas a partir de 8 de setembro, nas regiões que estão em fase amarela há mais de 28 dias, para atividades de acolhimento, recuperação, atividades físicas, tutoria e aulas em laboratório. O retorno oficial das aulas está previsto para 7 de outubro. Mas a decisão final cabe às prefeituras.

O retorno gera polêmica entre especialistas. Para o professor adjunto e diretor do departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a reabertura pode ser possível desde que haja diminuição sustentada de casos, mortes e internações da covid-19 nas próximas semanas. `Se colocar na balança benefícios e riscos (da reabertura das escolas), tomando medidas de precaução e cenários para identificar ocorrência de casos, devemos seguir pela reabertura das escolas`, afirmou.

Segundo Sáfadi, os riscos não estão descartados, mesmo em escolas particulares com total infraestrutura. `Não há verdade absoluta, qualquer caminho que se busque há riscos. É preciso ter a maturidade de olhar a situação de forma bem racional.`

No entanto, a integrante da Rede Nacional pela Primeira Infância avalia com cautela a reabertura de escolas diante da falta de infraestrutura enfrentada por diversas cidades brasileiras. `Conheço mais de 3,6 mil escolas de diversos municípios do País. Há escolas em cima de supermercado. Há escolas com estrutura muito precária, sem janelas. Não há ventilação`, disse Carolina Velho.

A psicóloga Rosely Sayão analisa que é preciso considerar que cada família tem suas características e levar em conta o convívio com pessoas do grupo de risco. `Existe a certeza de que as crianças sofrem com a escola fechada e as famílias estão estressadas para tomar uma decisão sobre volta às aulas. Porém, sem a confiança dos pais, as crianças não irão tranquilas para a escola. Se a família tem confiança que riscos são pequenos e pode fazer a escolha, tudo bem. Mas do contrário, a criança não irá bem, sem a aprovação dos pais.`

Para Carolina Velho, integrante da Rede Nacional pela Primeira Infância, cada comunidade escolar deveria ter uma gestão de crise da covid-19. `Para que pais, crianças e professores se sentissem seguros com possível reabertura, entendendo como os protocolos de segurança serão adotados dentro das instituições. Todos os professores deveriam passar por formação para receber as crianças.`

Vacinas

Para o retorno às aulas, o professor adjunto e diretor do departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo alertou que é importante as crianças serem imunizadas contra outras doenças que já tem proteção. `Situações que despertam necessidade de resgatar campanhas vacinais para outras doenças. As secretarias de saúde devem resgatar campanhas vacinais contra sarampo e rubéola, por exemplo`, acrescentou.

Com relação aos testes de vacinas da covid-19 em andamento, o professor adjunto e diretor do departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo reforça que ainda há poucos estudos sobre o efeito da imunização em crianças. `Não poderemos vacinar as crianças até que tenham estudos com resultados que comprovem eficácia e segurança. Agora iniciaram os testes chamados da fase 3. É improvável que teremos as crianças vacinadas em um primeiro momento. É preciso ser discutido de forma mais ampla`, disse.

Confira a seguir a programação dos próximos dias do Summit Educação Brasil 2020:

Dia 28/8 – das 9h às 11h

Painel – As universidades e o desafio de continuar online no segundo semestre

Dia 31/8 – das 13h às 15h

Painel – O Legado da Digitalização no Mercado e os Efeitos no Currículo Acadêmico

Com o tema Volta às aulas e a nova educação pós-pandemia, o evento debate desafios que instituições públicas e privadas, que tiveram de fechar as portas logo no início do ano letivo, enfrentam para garantir que os alunos se mantenham motivados, que o conteúdo seja dado de forma clara e que as desigualdades não aumentem.

As inscrições podem ser feitas gratuitamente pelo site. A transmissão do evento será online.

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